. Ela falou sobre a experiência de estar na nova temporada e carregar o legado do Brasil no programa que, em 2022, foi vencido por outra brasileira,
. A artista, que integra o universo drag há anos, também destacou o tempero brasileiro nessa arte e comentou sua participação no grupo
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. Nesta temporada, 10 drags de nove países disputam o prêmio de 250 mil dólares. Além da brasileira, participam da disputa representantes do México, Holanda, Filipinas, Israel, Reino Unido, Itália e Austrália. Confira abaixo a entrevista.
Chloe, você está participando de um reality show de calouros. Quais são suas referências musicais e no mundo drag?
Todo mundo se surpreende quando falo, mas eu gosto de Fat Family, Vanessa Jackson e das old classic divas também. Pode soar esquisito, mas não me inspiro muito em outras drags. Na verdade, no começo, eu pegava referências do universo pop e hoje me inspiro mesmo nas minhas amigas, que estão comigo no dia a dia, no corre. Essa troca é o que faz a nossa personalidade.
Estamos muito habituados a reality com drags, mas só mais recentemente começamos a ver brasileiras nessas competições. Qual o nosso diferencial competitivo?
As drags brasileiras conseguem tirar leite de pedra. Nunca vi coisa igual! Eu vejo drag com R$ 50 fazendo coisas tão extraordinárias. Somos muito, muito talentosas. Estou há muito tempo nesse meio e a gente arrasa!
Como Chloe V chegou no Queen Of The Universe?
É engraçado, porque me inscrevi para a primeira temporada, mas só me chamaram na segunda. “Oi, vimos sua inscrição. Podemos usar ela para a segunda temporada?”. Claro que eles podiam, né?
Fiz a seleção rouca, depois de quinze dias bebendo no Ano Novo, mas deu tudo certo! Quando passei, não tinha caído a ficha ainda, mas na hora que eles dizem que você vai fazer parte do Queen Of The Universe, você começa a chorar. Chorei e não parava mais. Foi a maior experiência da minha vida. É um sonho mesmo, não tem como explicar!
Quando você chega lá e vê o tamanho do programa, do estúdio, dos camarins e todo mundo animadíssimo é incrível. Você passa um mês acreditando que o amor existe. E, depois, você volta para o Brasil (risos). Mas, brincadeiras à parte, eu não via a hora de voltar para o Brasil, tomar meu açaí… O brasileiro não valoriza o Brasil, mas quando você vai lá para fora, percebe que o Brasil é babado também!

Uma das principais avaliações do reality é a voz. Essa temporada já está dublada. Agora é a sua vez de julgar, o que você achou da sua voz na dublagem brasileira?
Eu estou louca para que as outras participantes, dos demais países, também se vejam dubladas. Eu morri de rir, amei! Acho fantástico mesmo. Esse trabalho de dublagem brasileira é muito interessante. Ao mesmo tempo que tira um pouco da emoção, dá uma emoção diferente. O dublado é muito mais animado. Pessoalmente, as meninas são mais tranquilas, mas a dublagem brasileira dá um toque especial. E drag é para a gente rir, para a gente se divertir, então eu amei!
Na primeira temporada, uma brasileira voltou com a coroa para casa. Você sente a pressão para manter a coroa no Brasil?
Eu amo a Grag Queen. A bicha canta demais! Ela merece tudo, tudo, tudo. As brasileiras estão dando o nome. E pode não parecer, mas não existe tanta pressão de vir depois da Grag. Cada drag é uma drag e eu acho que todas juntas que fazem esse nosso universo mesmo.
Como sua experiência prévia na carreira solo e com as Baphônicas te ajudou na competição?Vou contar um segredo: eu não tinha carreira solo. Comecei a produzir minhas músicas solo antes da pandemia, aí ela chegou e meu sustento foi embora. Arquivei essa era. Voltei a produzir bem na época da seleção para o Queen Of The Universe. Mas, na verdade, a minha carreira nem veio ainda.
E eu amo as Baphonicas! Foi uma loucura! A gente se lançou despretensiosamente e, de repente, a gente estava viajando o Brasil inteiro cantando uma única música só (risos). Foi muito reconhecimento. A gente cresceu muito como drag, principalmente porque passamos muito perrengue também.
Qual o maior desafio que enfrentou na competição? Minha maior dificuldade foi a comida. Em Londres eles enfiam pimenta em tudo! No estúdio tinha um chefe, mas fora, se você fosse comer no hotel… pura pimenta. Eu penei, viu!? Eu e a Maxie, das Filipinas. De resto, foram só flores!
Quanto você investiu para estar lá e qual o seu maior diferencial?Gastei trilhões! Olha, eu acabei de pagar mês passado meus looks. Gravamos há quase um ano e foi um tiro, só terminei de pagar agora. Mas valeu tudo a pena! Gastaria o dobro se pudesse, sem dúvidas.
Meu diferencial é o rosto! O rostão dela e o corpitcho da gata; as brasileiras são famosas pelo corpo. Eu não deixei a desejar. O sucesso brasileiro, que é o bundão, estará lá!
Como é a experiência de participar de um programa em língua não nativa e como foi a recepção das demais concorrentes de uma participante que representa o Brasil?“Fala inglês?” “Falo, lógico” Uma coisa é dizer que fala inglês, outra coisa é ter carisma em inglês. No final eu já estava melhorzinha, mas no início… Eles falavam comigo no retorno e eu não entendia o sotaque britânico.
Agora eu já consegui fazer até umas piadinhas em inglês! E, a cada dia que passa, meu inglês está indo embora de novo. Estou tentando praticar para ser essa
international diva, para manter o inglês para cima, mas eu falo com as outras participantes e elas “Chloe, o que está acontecendo?” (risos).
Qual a sua expectativa para a recepção dos fãs brasileiros da franquia?Eu espero que o povo goste de mim. Tentei ser 100% eu. Eu sou essa pessoa, sou super bagaceira mesmo e espero que o povo goste. Quis botar bastante português na competição, porque achei que ia ser bapho.
Você vê o Queen Of The Universe como um trampolim para sua carreira internacional?Com certeza! Fica aí a dica para a RuPaul. Tudo o que eles falarem “quer fazer?”, eu faço. Se for preciso gastar o triplo, eu gasto mesmo. Eu amo! Quero viver essa experiência para sempre. E, realmente, na hora que você vai embora, na hora do
“it’s over”, dá uma tristeza muito grande. E, se Deus quiser, em 2024, estarei no
RuPaul’s DragCon também! Mas vou falar: eu vivi essa experiência a cada segundo.
Você é um dos grandes nomes da noite carioca, já rodou o país com seu trabalho como DJ. Depois dessa experiência no Brasil, como foi integrar o cast do Queen Of The Universe?Amo o Brasil, cada cantinho. Se eu pudesse trocar o Brasil, não trocaria. O brasileiro é muito apaixonante e o calor daqui não tem igual. Dizem que eu tenho uma tranquilidade cênica e foi tudo muito tranquilo lá no programa. Acho que, por não ficar tão nervosa, consegui curtir mais os momentos.
Como foi conhecer pessoalmente as juradas Michelle Visage, Trixie Mattel, Vanessa Williams e Mel B?A Michelle eu já conhecia, porque ela já tinha vindo ao Brasil em uma turnê de
RuPauls Drag Race e eu fiz o show de abertura. Depois teve um
meet and greeting com várias drags e Michelle. Cheguei a falar com ela e óbvio que ela não vai lembrar, mas eu já a conhecia (risos). É maravilhoso! Como elas são bonitas, não têm um risco no rosto… Maravilhosas.
Mel B também! E elas são pequenininhas. Meu goal era falar com Mel B e eu amei! Imagina você conhecer alguém famoso que sabe seu nome!? É muito louco! Nos intervalos a gente tenta falar com elas e só isso já vale a pena. Sou muito fã das Spice Girls e acho que elas me libertaram para o mundo para ser uma criança mais afeminada, mais queer, mais livre para tudo!
Qual a sua inspiração na escolha do look para cada episódio? Tem a ver com a música cantada?Tem, tem sim! Se é
Beyoncé, você usa um vestidão. Se é
Pabllo Vittar e
Gloria Groove, você não vai de longo, né? E cada episódio tem um tema. Você tem que pensar músicas que consiga se mostrar bem, dentro do tema e que ainda combine com o look. Se a música é de dançar, você não pode fazer um look super difícil, nem um look que seja só para jogo. Aprendi muito com isso. Evolui uns 50 anos nesse processo. Antes eu era mais básica e agora eu quero jogar pedra em tudo. Agora eu faço parte da franquia, é outra coisa (risos).
Como está sendo para você representar o Brasil para o mundo em um programa com o maior selo voltado ao mundo drag?O selo RuGirl, da RuPaul, é uma grande responsabilidade. Hoje você vê drags bem sucedidas e isso é tudo graças a eles [da equipe da RuPaul], que fazem isso acontecer. É óbvio que a gente quer evoluir, mas a arte drag é tão desvalorizada no Brasil que fica difícil pensar um caminho.
O Queen Of The Universe abriu um túnel de oportunidades para mim. Acho que foi o programa que eu mais gostei de assistir. Acho ele colorido, mais sparkle, é uma outra energia. Eu amo programas de calouro, de canto! E é diferente estando fora do palco. Quando você pisa naquele palco imenso, você pensa “caramba! Agora a competição começou”.
Nós somos uma potência na arte drag com a música. O Queen Of The Universe seria, finalmente, o reality show para apresentar nossas drags para o mundo?Eu acho que o Brasil é o lugar que mais tem drags cantoras (e muito boas!). Conseguimos rapidamente fazer uma lista com 10 que cantam muito bem, que dão o sangue mesmo, que têm um talento de verdade.
Eu acho que o Queen Of The Universe não é tanto para ser uma vitrine para as brasileiras, porque tem ainda a barreira da língua, né? A barreira da língua é o que impede a gente de ver cinco brasileiras lá no programa. Tirando isso, estamos no páreo sim! Mas sabendo inglês, você pode se jogar. Realmente, a gente tem que correr atrás. Mas eu também fui tentando ensinar português para o pessoal. No fim, já estava todo mundo “muito obrigado, muito obrigada” pra lá e pra cá.
Você falou bastante de divas pop. Como você acha que vão reagir à música escolhida para o primeiro episódio?Minhas opções no programa não são necessariamente minhas inspirações da vida. Na adolescência, eu fui muito emuxa.
Kelly Clarkson nos anos 2000 também é uma inspiração musical minha. Acho que a WOW Entertainment viu isso em mim e quis mostrar esse meu lado. Acho que deu 100% certo. Spoiler: minhas próximas músicas também serão puxadinhas para o rock.
Que conselho você daria para as brasileiras que estão começando a se montar?Olha, hoje o mercado está um pouco difícil, hein!? Em 2015, 2016 teve um boom, mas é mais difícil atualmente. Acho que você deve participar de uns concursos para descobrir no que se encaixa: influencer, DJ, dançarina, drag de concurso. Se joga e não olhe para trás, porque se você olhar para trás e vir as contas… (risos)
Drag é isso: um constante aprendizado, uma constante evolução. Não existe isso de olhar e falar “já tá bom”. A gente quer sempre mais. Se montem, se joguem e descubram o que tem aí dentro de vocês! Às vezes nem é drag, mas pode ser algo maravilhoso, uma arte incrível.
Onde assistir? Paramount+