PRIMEIRAS IMPRESSÕES: Gracinha – Manu Gavassi (2021)


(Foto: Divulgação Gracinha/Universal Music)

“Me falaram que eu era louca, por tempo demais eu acreditei”

A cantora Manu Gavassi lançou hoje seu quarto álbum, o Gracinha. O nome é o título também da primeira música, que retrata como a cantora cansou de usar o humor para se blindar, para lidar com seu passado musical e tudo mais. São nove faixas que falam sobre amor, autoconhecimento, dores e cura. Ouso dizer, inclusive, que cura é a palavra que define a construção do disco. Com o passar das músicas, você percebe a maturidade da Manu. É como se cada uma das faixas fosse uma autoafirmação que vai ganhando mais potência à medida que vai se desenvolvendo e, por fim, consegue firmar a mensagem.

Como alguém que, por muitos anos, acompanhou o trabalho da Manu – fã da Capricho aqui, querides –, me dei ao luxo de trazer um track-a-track do disco com leves pitadas de primeiras impressões.

Gracinha, a música, diz “se eu pudesse, eu choraria na sua frente e pediria, por favor, não me dê mais amor, porque eu não sei retribuir”. Ela versa sobre merecimento e reconhecimento, ou ausência desses sentimentos, mas partindo dela mesma. Por muito tempo, por conta do primeiro álbum e das sucessivas pancadas que levou, enquanto críticas, a música virou um trauma. No storyline do álbum, a Manoela conta que “cansei de fazer gracinha” foi uma frase usada por ela no ano passado para entender que não dava mais para usar humor da forma que usava, fazendo piada sobre si mesma.

Eu Nunca Fui Tão Sozinha Assim é a segunda música do disco e é a deixa para Manu falar sobre o pós-bbb. Um novo tipo de solidão: o não entender nada. Ainda por cima, no meio de uma pandemia. (Tem um feat francês que casa muito bem com a música). Apesar da melodia pop, a letra demonstra um pouco da confusão que estava na mente da cantora durante aquele período.

“Me diz por quê é que você volta? Se eu sou louca, então me solta”. Em sub.ver.si.va, a faixa três, Manu começa a colocar questionamentos em relação aos outros com ela, mas sem se autoafirmar. Segundo a cantora, “era uma brincadeira e virou música pop”. É uma das minhas preferidas.

A faixa quatro é intitulada de Reggaeton triste. De acordo com a cantora, ela estava numa onda de obsessão pelo gênero musical, mas seu produtor musical é ~emo, então por que não fazer um reggaeton triste? Contudo, não é uma música triste. Particularmente, foi a música que menos gostei no todo (achei umas frases muito bregas), mas tem um refrão chiclete e o ritmo é muito bom (reggaeton né, mores).

Tédio é um pop que mistura referências de Molejo com o pop francês. “Eu achei que era amor, mas era tédio, de novo”. É uma faixa que gera identificação, afinal, quem nunca, né? Mais uma música que tem o refrão chiclete e a batida pop facilmente dançável. Também é uma das que mais gostei.

Como a boa e velha Manu Gavassi, tem romance e ele vem na faixa seis, intitulada de (não te vejo meu). “Não te vejo meu, mas te sinto menos seu” é parte do refrão, com um toque suave. A música é poética e tem referências de Clarice Lispector. Essa foi uma das músicas que mais me lembrou a Manoela de 2009-2011 e depois eu digo o porquê essa observação é importante.

Bossa Nossa é a sétima música do disco e, como já sugere o nome, tem elementos da Bossa Nova, mas eles estão mais presentes na letra do que na melodia. No storyline da música, a mensagem é clara e direta: “Dedicada a todos que já reviraram os olhos pra mim e aos que ainda vão revirar. Com amor, Manu”.

“Misturo tudo que você não gosta, não leve a mal. Quando eu morrer, quem sabe eu vire genial” é um trecho de Bossa Nossa que bateu forte, a faixa toda em si reflete bem a maioria (senão todas) das críticas que a Manu já recebeu na vida em relação à carreira musical: não sabe cantar, não sabe o que tá fazendo, não é boa, é pop, é infantil, etc.

A música mais bonita do álbum é Catarina, nome da irmã caçula de Manu. Segundo a cantora, a ideia era que essa música fosse um presente de aniversário, mas virou “a maior música de amor que já escrevi”, contou. Falando enquanto alguém que acompanhou a Manu por muito tempo da vida, a letra conseguiu refletir a relação que as duas sempre mostraram ter (claro que internet é só recorte, mas é isto).

A última faixa de Gracinha é CANSEI, que é um compilado da mensagem que ela quis passar com o álbum – ao menos ao meu ver. A música é sobre ser menina, virar mulher. Sobre ter que lidar com o machismo te questionando. “Eu sei não é proposital, eu juro que eu não levo a mal, é que você não foi criado para entender mulheres com inteligência emocional”.

É dessa última canção que tem a frase que abre esse texto: “Me falaram que eu era louca e por tempo demais eu acreditei”. Ela é um abraço a todas as mulheres e, quebrando o tabu à parte, é a minha faixa preferida. A melodia da música é muito boa.

Capa. (Foto: Divulgação/Universal Music)

Gracinha é um álbum pop, mas que se apropria de elementos de diversos outros ritmos e gêneros e os créditos são do produtor, Lucas Silveira – sim, da banda Fresno. Inclusive, as melodias são um show à parte do disco, que abraçam perfeitamente cada uma das letras e o sentimento que deveria ser passado.

Quando eu mencionei ali em cima que uma das faixas era a que mais me lembrava a Manoela de dez anos atrás (e mais um pouco), é porque essa era uma das premissas do disco. Não, exatamente, resgatar aquela menina, mas pedir perdão à ela por tanto tempo tentando se afastar daquela imagem.

Em texto nas redes sociais, Manu Gavassi registra que “por muitos anos meu maior pavor era meu primeiro álbum. Tentava fazer de tudo pra ser diferente daquela adolescente que, com toda sua vontade de acontecer e completa ingenuidade para com o meio em que estava se metendo, vendeu mais ingressos no primeiro show do que os estudantes do ensino médio inteiro do colégio em que estudava”.

A ideia do Gracinha, portanto, era lembrar “aquela menina que deixava o sentimento vir e só escrevia. Que sonhava com uma melodia e acreditava nela. Que abria a boca e só cantava. Que pegava o violão e sempre tinha algo a dizer”. Para Manu, Gracinha é a cura. “Quem diria que no momento mais maduro da minha vida, eu estaria mais próxima da menina da headband? A vida é engraçada”. A cura para tanto tempo se negligenciando.

Por aqui, como uma viagem no tempo, ele me resgatou também.

Favoritas da autora:

Cansei, sub.ver.si.va, Tédio, Bossa Nossa e eu nunca fui tão sozinha assim. 

Onde ouvir? O álbum está disponível em todas as plataformas de áudio.

Beatriz de Alcântara
Beatriz de Alcântara

Para saber mais sobre o/a autor/a, acesse a aba "Quem Somos".

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Compartilha sua opinião! ♥