EM CARTAZ: Eternos



(Foto: Reprodução/Marvel) 

Dando ainda os primeiros passos na Fase 4 do Universo Cinematográfico, a Marvel nos introduz uma nova safra de heróis que poderá ditar o futuro, até o momento, incerto, pela qual as histórias seguirão. Mesmo não sendo uma das equipes mais aclamadas pelos fãs, como por exemplo o Quarteto Fantástico ou X-Men, os Eternos assumem e cumprem o papel de renovar o sentimento de curiosidade dos espectadores, sendo a fagulha necessária para nos atentarmos com o que virá a seguir

Na trama, temos uma expansão do que conhecíamos dentro do universo dos filmes. Os Celestiais, entidades responsáveis por criar e supervisionar galáxias, geraram os Deviantes para limpar planetas de ameaças à vida. Porém, esse plano dá errado quando eles mesmos se tornam predadores. Para corrigir isso, outra raça é criada, os Eternos. Um grupo desses seres, sob a liderança de Ajak (Salma Hayek), é enviada para a Terra com o objetivo de proteger a humanidade dos Deviantes. Acreditava-se que eles tinham sido erradicados há alguns séculos, mas, acontecimentos recentes mostram o contrário. É interessante notar a intenção da Marvel de manter o núcleo espacial vivo, não dependendo exclusivamente das histórias ligadas ao multiverso para ser o fio condutor da nova fase.

A presença da diretora Chloé Zhao é perceptível em momentos pontuais. Sim, temos tomadas feitas sem o auxilio da computação gráfica, realçando a beleza das paisagens naturais. Porém, diferentemente do que foi feito em Nomadland (2020), as amarras do controle criativo da Marvel não a deixaram brilhar e tomar conta do filme inteiro. Entretanto, considerando que foi o primeiro trabalho dela em parceria com o estúdio, percebemos um avanço nesse tipo de relação, já que a Chloé também assina o roteiro e vários diretores anteriores não tiveram a oportunidade de fazer algo mais autoral.

Felizmente, os elogios à diretora não se resumem apenas aos planos abertos. Ela consegue, com maestria, apresentar uma equipe de heróis pouco conhecida para o público geral. Apesar de ser a primeira vez tendo contato com esses novos personagens, não nos sentimos estranhos ao convívio deles. As características individuais, sejam os poderes ou personalidades, aparecem de forma espontânea. Rapidamente aprendemos a hierarquia do grupo, as relações de proximidade de um com o outro, e a motivação para eles estarem na Terra, ficando muito fácil nos afeiçoarmos.

Falando um pouco mais da tentativa de renovação do MCU, Eternos chega para desempenhar um papel importante. Temos um elenco diversificado, representando vários povos dentro da própria história e com atores renomados. Destaque para a Angelina Jolie, interpretando Thena. Apesar de ser um filme de equipe, o protagonismo no longa vai para o casal Sersi (Gemma Chan), ligada de forma íntima aos humanos, e Ikaris (Richard Madden), o mais poderoso. São as ressonâncias do relacionamento deles que movem o roteiro. Além disso, o Phastos (Bryan Tyree Henry) apresenta o primeiro herói gay nos filmes da Marvel, finalmente trazendo à tela a discussão dessa temática tão importante em nossa sociedade. Outro acerto foi a escalação de uma atriz surda na personagem da heroína Makkari (Lauren Ridloff), aumentando a inclusão, mas sem alterar em nada a dinâmica das cenas nem o entendimento geral do espectador.

O filme é longo. São mais de 2h30. Isso faz sentido, pois são muitos personagens introduzidos de uma vez só, sem nem termos tido uma menção anteriormente. Entretanto, a grande duração cansa o público em certos momentos. Para camuflar esses períodos de inconsistência, o timing das piadas funciona mais uma vez. Nos sentimos dentro daquela família, o clima leve e íntimo construído por milhares de anos de convivência aparece até mesmo nos conflitos enfrentados. As nuances desses seres que estão mais próximos dos deuses do que dos humanos, chamam a atenção, não apelando para escolhas óbvias e quebrando as expectativas.

Apesar de serem quase perfeitos, eles não estão imunes às dúvidas internas. Existem dificuldades para entenderem quem são e de assumirem as próprias identidades. De certa maneira, são deidades encarnadas na terra e na trama temos várias referências ao cristianismo e outras religiões no modo do qual eles se comportam e agem, sendo os responsáveis por criarem diversas crenças da atualidade. Alguns ativam o complexo de deuses, querendo interferir em ações humanas. “Por que Deus não age ao ver inúmeras atrocidades”? É um questionamento presenciado em nosso cotidiano e também foi transportado para os temas do filme.

Em Shang-Chi e Viúva Negra, os vilões foram o ponto baixo. Já com Eternos, temos um acerto porque a vilania está dispersa em muitas camadas. Passando pelos Deviantes e chegando aos humanos por conta das nossas ações contra o planeta. Os personagens são cinzas. Um grande sentimento de raiva, no bom sentido, é criado no espectador ao longo do filme. Sinal de que estamos imersos e atentos à história. 

Eternos não é perfeito, mas pavimenta de forma consistente o futuro do MCU.

Nota: 8.5/10
Micael Menezes
Micael Menezes

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