Antes de mais nada: esse texto, obviamente, contém spoilers.
Os rumores eram reais: o multiverso trouxe consigo o Aranhaverso e, para alegria e frenesi dos fãs de um dos heróis mais populares de todos os tempos, as outras versões do herói nas telonas (interpretadas por Tobey Maguire e Andrew Garfield). Eles até tentaram esconder, mentiram o quanto puderam (prêmio cara de pau do ano pro AG!), mas era tudo uma questão de ver o que já estava no coração e na mente. Mas antes, permita-me avisar: não, não é esse filme que vai te explicar sobre o multiverso. Para isso, você vai ter que esperar até Doutor Estranho 2, em maio do ano que vem. Pelo contrário, aqui é a bagunça pura e suas consequências, duas horas e meia de causa e efeito.
O filme, como já se sabia, continua exatamente do ponto em que parou o seu antecessor: com a revelação da identidade secreta do teioso, armada previamente pelo vilão Mysterio antes de morrer (ele perdeu, mas nem tanto, afinal. O famoso "caiu atirando"). As consequências diretas são as mais lógicas: opinião pública, que já tinha o Mysterio como herói, vê no Homem-Aranha, seu “assassino”, um vilão sórdido, pecha que é alimentada pelo J.J. Jameson, talvez o seu sexto vilão aqui.
Daí então, ladeira a baixo. Acabou a vida pessoal, acabou o direito de ir e vir, mas é quando tudo isso começa a afetar a garota que ele ama e o seu melhor amigo que Peter Parker não consegue mais suportar. Por tudo que aconteceu, eles perderiam o ingresso para a faculdade. Daí então, em uma solução pífia de roteiro – aqui tem várias, não se iluda. O filme é ótimo, mas não é perfeito – ele decide ir atrás do mago supremo (ou ex). Abro aqui uma curva de raciocínio pra fazer a observação que, neste filme, talvez seja a terceira personalidade de adaptação do Doutor Estranho que vemos em sequência. Aguenta as pontas, Marvel!
No que se revelou mais um truque de trailer (a Marvel adora nos enganar), o Wong, agora mago supremo após o blip ter afetado o Dr. Estranho, não discorda da realização do feitiço – ele só não estaria lá junto. E então começa a bagunça. Uma, duas, três vezes Peter Parker interfere no feitiço para que as pessoas esqueçam sua identidade e, quando tudo parece contido, descobrimos a chegada daqueles que na verdade conhecem sua identidade (mas de outros universos). O que é conveniente, entretanto, no roteiro, é que apenas alguns vilões apareceram...
A partir daqui, Peter entre num dilema moral: ao descobrir que os vilões haviam sido derrotados ou mortos em seus universos, ele quer encontrar uma outra saída, coisa que o Dr. Estranho discorda veementemente uma vez que o destino é algo determinado. Eles lutam numa sequência que faz brilhar os olhos e – pasme – a versão “nerfada” do Dr. Estranho perde para o Homem-Aranha. Ou para a matemática.
Não tendo dimensão dos cinco vilões que ali estavam e já conhecíamos dos trailers (talvez tratados com um pouco mais de humor do que deveriam), e não conhecendo o Duende Verde/Norman Osborn, Peter os leva pro apartamento que o Happy conseguiu (que claustrofóbico pensar 5 vilões tão grandiosos em um espaço tão pequeno) a fim de juntos conseguirem a tão sonhada solução para os seus destinos. Até que o sentido aranha avisa e... nada de Norman, só Duende. Em uma sequência insana de batalha em que não conseguimos tirar os olhos da tela, o final é trágico: a tia May morre nos braços do seu sobrinho, não antes de dizer a célebre frase classicamente proferida pelo Tio Ben: “com grandes poderes vem grandes responsabilidades”. Sim, foi preciso uma trilogia pra que o Peter Parker do MCU entendesse isso. Ou começasse a entender. De certo modo, em termos de narrativa, foi bom que a tragédia tenha ocorrido antes de entrarmos no ato final. Era preciso, enquanto construção de personagem, e também para que a tônica final que nutrisse o sentimento nos fãs que deixassem o cinema não fosse de tristeza total.
Carregado pela culpa e pensando em desistir, o roteiro nos traz, através do novo-mago Ned, o Peter 2 e Peter 3 (Tobey e Andrew) na sequência que mais acalenta o coração e tem o melhor humor. São eles os responsáveis por recuperar o moral do Peter 1 e, juntos, conseguem chegar à solução a ser definida no ato final do filme (ainda que não tragam muitos questionamentos sobre tudo que está acontecendo e como aquilo os afeta).
Em mais uma conveniência, Peter 1 faz uma videochamada para J.J. Jameson (?) e leva os vilões para a nova estátua da liberdade (agora com o escudo do Capitão América). Lá, vimos as 3 versões do Aranha aprendendo a trabalhar em conjunto, como uma banda, como uma boa banda, em uma cena que incomoda apenas pelo tom escuro demais (sim, sabemos que é "melhor" para o CGI), mas que fornece uma das mais belas cenas com os três-aranhas juntos sob a luz do luar. Com o apoio de um já recuperado Octopus e um convenientemente recolocado em cena Dr. Estranho, eles chegam a todas as soluções buscadas, menos a do vilão principal, o Duende. Antes, precisamos frisar a emoção da cena em que o Aranha do Andrew Garfield salva a MJ de uma cena em queda livre e sua sensação de alívio por não a perder como perdeu a Gwen. Doeu.
E então, a grande responsabilidade. Movido pela vingança, o Peter do Tom Holland quase mata o Duende Verde (que também volta quando o roteiro acha conveniente, ainda que seja o único que tenha um planador de alta tecnologia e talvez só perca em termos de velocidade para o Electro, por razões óbvias). Não por falta de vontade: o Peter 2, do Tobey, mais sábio, o impede, ao preço de uma facada do próprio vilão. Juntos, porém, conseguem recuperar o Norman.
O feitiço voltou a entrar em combustão, o estrago pode ser maior. A solução foi dada pelo próprio Peter 1: quem estava ali, não estava pelo Homem-Aranha, estava porque conhecia o Peter. Então, que esquecessem o Peter. Todos, até o Dr. Estranho. A promessa era de que ele voltaria para contar a todos quem ele era. Feito. Mas nem tanto.
Ao perceber que tudo caminhava bem sem a sua presença na vida dos seus próximos, Peter decidiu seguir assim. Era mais uma responsabilidade que o seu poder carregava. Com o clássico encerramento de balançar de teias, com direito a uniforme novo com azul cintilante feito à mão (isso sim é Homem-Aranha, isso sim é Peter Parker!), nós entendemos: nada de sem volta pra casa. Na verdade, agora sim, ele está em casa. Só está sozinho. Mas está em casa, com o melhor filme dessa versão do Aranha, e com as melhores atuações dos seus astros, especialmente do Tom Holland, mas também é preciso frisar a maestria com que Willem Dafoe, duas décadas depois, interpreta o Duende Verde. Ele é tão ou mais assustador que a sua primeira aparição.
O filme, como já se sabia, continua exatamente do ponto em que parou o seu antecessor: com a revelação da identidade secreta do teioso, armada previamente pelo vilão Mysterio antes de morrer (ele perdeu, mas nem tanto, afinal. O famoso "caiu atirando"). As consequências diretas são as mais lógicas: opinião pública, que já tinha o Mysterio como herói, vê no Homem-Aranha, seu “assassino”, um vilão sórdido, pecha que é alimentada pelo J.J. Jameson, talvez o seu sexto vilão aqui.
Daí então, ladeira a baixo. Acabou a vida pessoal, acabou o direito de ir e vir, mas é quando tudo isso começa a afetar a garota que ele ama e o seu melhor amigo que Peter Parker não consegue mais suportar. Por tudo que aconteceu, eles perderiam o ingresso para a faculdade. Daí então, em uma solução pífia de roteiro – aqui tem várias, não se iluda. O filme é ótimo, mas não é perfeito – ele decide ir atrás do mago supremo (ou ex). Abro aqui uma curva de raciocínio pra fazer a observação que, neste filme, talvez seja a terceira personalidade de adaptação do Doutor Estranho que vemos em sequência. Aguenta as pontas, Marvel!
No que se revelou mais um truque de trailer (a Marvel adora nos enganar), o Wong, agora mago supremo após o blip ter afetado o Dr. Estranho, não discorda da realização do feitiço – ele só não estaria lá junto. E então começa a bagunça. Uma, duas, três vezes Peter Parker interfere no feitiço para que as pessoas esqueçam sua identidade e, quando tudo parece contido, descobrimos a chegada daqueles que na verdade conhecem sua identidade (mas de outros universos). O que é conveniente, entretanto, no roteiro, é que apenas alguns vilões apareceram...
A partir daqui, Peter entre num dilema moral: ao descobrir que os vilões haviam sido derrotados ou mortos em seus universos, ele quer encontrar uma outra saída, coisa que o Dr. Estranho discorda veementemente uma vez que o destino é algo determinado. Eles lutam numa sequência que faz brilhar os olhos e – pasme – a versão “nerfada” do Dr. Estranho perde para o Homem-Aranha. Ou para a matemática.
Não tendo dimensão dos cinco vilões que ali estavam e já conhecíamos dos trailers (talvez tratados com um pouco mais de humor do que deveriam), e não conhecendo o Duende Verde/Norman Osborn, Peter os leva pro apartamento que o Happy conseguiu (que claustrofóbico pensar 5 vilões tão grandiosos em um espaço tão pequeno) a fim de juntos conseguirem a tão sonhada solução para os seus destinos. Até que o sentido aranha avisa e... nada de Norman, só Duende. Em uma sequência insana de batalha em que não conseguimos tirar os olhos da tela, o final é trágico: a tia May morre nos braços do seu sobrinho, não antes de dizer a célebre frase classicamente proferida pelo Tio Ben: “com grandes poderes vem grandes responsabilidades”. Sim, foi preciso uma trilogia pra que o Peter Parker do MCU entendesse isso. Ou começasse a entender. De certo modo, em termos de narrativa, foi bom que a tragédia tenha ocorrido antes de entrarmos no ato final. Era preciso, enquanto construção de personagem, e também para que a tônica final que nutrisse o sentimento nos fãs que deixassem o cinema não fosse de tristeza total.
Carregado pela culpa e pensando em desistir, o roteiro nos traz, através do novo-mago Ned, o Peter 2 e Peter 3 (Tobey e Andrew) na sequência que mais acalenta o coração e tem o melhor humor. São eles os responsáveis por recuperar o moral do Peter 1 e, juntos, conseguem chegar à solução a ser definida no ato final do filme (ainda que não tragam muitos questionamentos sobre tudo que está acontecendo e como aquilo os afeta).
Em mais uma conveniência, Peter 1 faz uma videochamada para J.J. Jameson (?) e leva os vilões para a nova estátua da liberdade (agora com o escudo do Capitão América). Lá, vimos as 3 versões do Aranha aprendendo a trabalhar em conjunto, como uma banda, como uma boa banda, em uma cena que incomoda apenas pelo tom escuro demais (sim, sabemos que é "melhor" para o CGI), mas que fornece uma das mais belas cenas com os três-aranhas juntos sob a luz do luar. Com o apoio de um já recuperado Octopus e um convenientemente recolocado em cena Dr. Estranho, eles chegam a todas as soluções buscadas, menos a do vilão principal, o Duende. Antes, precisamos frisar a emoção da cena em que o Aranha do Andrew Garfield salva a MJ de uma cena em queda livre e sua sensação de alívio por não a perder como perdeu a Gwen. Doeu.
E então, a grande responsabilidade. Movido pela vingança, o Peter do Tom Holland quase mata o Duende Verde (que também volta quando o roteiro acha conveniente, ainda que seja o único que tenha um planador de alta tecnologia e talvez só perca em termos de velocidade para o Electro, por razões óbvias). Não por falta de vontade: o Peter 2, do Tobey, mais sábio, o impede, ao preço de uma facada do próprio vilão. Juntos, porém, conseguem recuperar o Norman.
O feitiço voltou a entrar em combustão, o estrago pode ser maior. A solução foi dada pelo próprio Peter 1: quem estava ali, não estava pelo Homem-Aranha, estava porque conhecia o Peter. Então, que esquecessem o Peter. Todos, até o Dr. Estranho. A promessa era de que ele voltaria para contar a todos quem ele era. Feito. Mas nem tanto.
Ao perceber que tudo caminhava bem sem a sua presença na vida dos seus próximos, Peter decidiu seguir assim. Era mais uma responsabilidade que o seu poder carregava. Com o clássico encerramento de balançar de teias, com direito a uniforme novo com azul cintilante feito à mão (isso sim é Homem-Aranha, isso sim é Peter Parker!), nós entendemos: nada de sem volta pra casa. Na verdade, agora sim, ele está em casa. Só está sozinho. Mas está em casa, com o melhor filme dessa versão do Aranha, e com as melhores atuações dos seus astros, especialmente do Tom Holland, mas também é preciso frisar a maestria com que Willem Dafoe, duas décadas depois, interpreta o Duende Verde. Ele é tão ou mais assustador que a sua primeira aparição.
Feitas as ressalvas, esse é um filme para se ver nas telonas. Acompanhado. Com o coração de fã pulsando, esquecendo as burocracias críticas e, em especial, fugindo o máximo de spoilers. É um universo de referências bem colocadas cá e lá. E que venha a próxima trilogia do novo-velho-novo teioso e o que mais o multiverso possa oferecer.
Nota do editor: 9/10 xícaras.
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