Homem-Aranha: uma jornada de amadurecimento

Foto: (Reprodução Marvel/Sony)

Homem Aranha: Sem Volta pra Casa chegou quebrando recordes e enlouquecendo os fãs, mas pessoalmente fui levada para além do entretenimento. Quando as luzes acenderam e eu saí do cinema já bem tarde da noite, fui tomada por um sentimento que há tempos não tinha. Sabe a sensação de como quem dá o tão esperado primeiro beijo (apaixonado) e parece que nada no mundo pode te abalar? Pois é.

Essa foi a única forma que encontrei de explicar o impacto que essa obra me causou. No caminho de volta pra casa, na moto, sentindo o vento friozinho da madrugada, até as luzes distantes dos bairros vizinhos me deixavam encantada, tipo aqueles filmes de romance que o casal vai pra um lugar alto na cidade à noite e senta no capô do carro pra admirar de longe a paisagem.

Ainda consigo sentir meu coração acelerar quando lembro de algumas cenas, e, por mais que eu tenha ficado triste em alguns momentos e berrado de euforia em vários outros, o que prevaleceu foi a identificação com o personagem de Tom Holland e a trajetória que ele veio traçando até aqui.

Apesar de amar MUITO o super herói Homem-Aranha, nunca fui assim tão apegada, até surgir o novo Peter em 2016. Era um adolescente com um poder legal e zero maturidade pra lidar com ele e assim a participação dele em “Guerra Civil” foi pura comédia com um pirralho lutando ao lado e contra os maiores. Amei a primeira vista. Eu só não imaginava o que viria mais tarde. Nunca vou me esquecer do quanto eu chorei no final de “Guerra Infinita” – mesmo tendo tomado spoilers – ao ver naqueles olhos a fragilidade, o desespero, o medo... ele era só um garoto.

Mas, thank God, veio “Ultimato” e o cinema virou estádio mais uma vez ao ver o amigo da vizinhança de volta. Nunca fui triste. Até que... Tony Stark. Depressão. E mais uma vez aquele garoto assustado tendo que lidar com uma nova dor. Nunca chorei tanto com um filme, afinal Tony era/é meu preferido. Uma perda que Parker não estava preparado para enfrentar – nem eu. Tony acreditou no Peter e no potencial que ele tinha, ensinou, foi parceiro (do jeito dele, mas foi) e talvez a maior referência para o garoto.

Bom, a vida continuou e veio “Longe de Casa”. Esse garoto me irritou, não posso negar. Uma cagada pior que a outra e eu só queria entrar na tela e meter a mão na fuça dele. Porém, por trás de tudo isso pairava a saudade do herói que ajudava aquele moleque a usar seu melhor. Me senti ainda mais próxima do Peter, que ainda não tinha superado aquela perda, que queria fugir das responsabilidades que o perseguiam, que não queria decepcionar ninguém. Infelizmente essa fuga acabou trazendo mais dificuldades pra ele enfrentar e aprender. Mas aí, a vida dupla foi arruinada com a sua identidade sendo revelada para o mundo. Ele ainda nem tinha terminado o ensino médio e do nada tem a vida virada pelo avesso. E agora? O tão esperado “Sem Volta pra Casa” chegou para nos dar as respostas que ficaram em aberto no filme anterior.

Rumores e mais rumores tomaram conta da internet e a teoria dos três miranhas alimentava nossa esperança de ver três gerações de heróis, e fãs, reunidas no cinema. Depois de berros, surtos, risos, risos e muitas lágrimas, vimos o tão esperado trio juntos por uma causa: ajudar o Peter Parker a consertar mais uma besteira. Talvez isso que muita gente não gosta no Aranha do Tom, sempre faz coisa errada, tenta consertar, piora tudo e depois pede ajuda. Mas, ao meu ver, é isso que torna ele tão real, ou vai me dizer que na sua adolescência você não fez nenhuma burrada, tentou consertar e acabou piorando? Quem nunca, né?

Pois bem, quem mais poderia ajudar o Peter a lidar com problemas de Homem-Aranha melhor que outros dois Peter’s? O tanto que eu gritei vendo eles não tá escrito, outro dia a Marvel fazendo a sala de cinema virar estádio de futebol. Adultos, jovens e adolescentes compartilhando a emoção de ver um sonho virando realidade.

Mas, agora vou te dizer o que mais me marcou e o que mais me fez chorar. Um parêntese: agora vou fazer referência aos Aranhas pelos nomes dos atores pra não confundir vocês, e nem eu (rs). Lembra da cena do telhado? MJ chega com Ned e abraçam o Tom de-so-la-do pela perda da Tia May, dor e dor, mas aí chega aquela ajuda, os dois descendo ao melhor estilo Homem-Aranha e daí começa a terapia em grupo.

Tobey e Andrew com a voz da experiência dão os melhores conselhos que o Tom poderia receber. Tom estava tomado pela dor e a sede de vingança, um garoto sem a família e com os amigos correndo risco. O tema da conversa gira em torno da culpa de perder pessoas que amam pela responsabilidade de ser um herói. Tobey perdeu o tio, buscou vingança e levou tempos pra lidar com o peso na consciência de ter “ajudado” o homem que matou o Tio Ben. Andrew não conseguiu salvar a namorada e se culpou por muito tempo também, afinal foi um inimigo dele quem a derrubou e ele não a pegou a tempo.

Foto: (Reprodução/Marvel/Sony)

Tio Ben e essa Tia May disseram “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades” e é isso mesmo. Não tem como não correr riscos quando têm grandes escolhas a fazer. Mas sabe o que conforta? A vida sempre pode nos dar segundas chances. Os dois Aranhas tiveram a chance de continuar sendo heróis apesar da dor. Os vilões tiveram a chance de redenção, apesar dos danos causados em algum momento, eles também foram vítimas de si mesmos.

Por que o Aranha do Tom não poderia ter essa chance também? É aí que entra o amadurecimento pela dor. Infelizmente, nós seres humanos tendemos a aprender mais sentindo na pele do que vendo os outros errarem. Esse Peter precisou passar pela dor da perda pra entender que ele era mais que um herói de bairro e que suas escolhas afetavam mais do que seus amigos e família, poderiam até colapsar o universo, ou o multiverso.

Como uma pessoa ansiosa que sou, a culpa vira uma sobrecarga, algumas vezes parece que não vai dar pra carregar. Por causa de algo grave? Não. Por causa de uma palavra errada que foi dita, um erro ortográfico em um texto, um “eu não deveria ter falado aquilo”, “será que as pessoas gostam de mim de verdade ou só estão sendo simpáticas?”, “preciso melhorar”... e tantas outras coisas que eu poderia citar e que talvez você tenha se identificado. Mas deixa eu te contar o que eu aprendi com o filme: existem segundas chances.

Apesar de tudo que fez, Norman Osborn se viu finalmente livre do Duende Verde e pôde seguir e frente sem aquele mal que o atormentava. E o Aranha finalmente fez a escolha certa e decidiu abrir mão de tudo e todos que o conheciam e o amavam para que pudessem ficar bem, felizes e longe dos perigos que envolvem o herói.

Peter ficou completamente sozinho, mas fez valer a pena o sacrifício da tia e antes tarde do que nunca entendeu o peso das responsabilidades que acompanham seus poderes. Agora tem que seguir sozinho, não tem mais família ou amigos. Não tem mais um porto seguro. “Sem volta pra casa” porque, na verdade, não tem pra onde voltar. O passado só existe na memória e o único caminho que resta é seguir em frente, aprender e crescer. Mais que super herói, isso é coisa de SER humano.

Nota: 10/10
Kássia Paz
Kássia Paz

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