Qual é o impacto de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa?


(Foto: Sony Pictures/Divulgação)

É o melhor filme da Marvel já feito até agora. Todo esse texto poderia ser resumido nessa primeira frase, mas eu preciso justificar ela. Particularmente falando, meu filme preferido da Marvel, até então, era Vingadores: Guerra Infinita. Os principais critérios para isso (além da beleza do Chris Evans) eram todos ligados ao conceito inovador de trazer uma problemática grandiosa e ter um final que, mesmo não sendo feliz, era resultado do melhor que os personagens puderam fazer com o que tinham e sabiam. É basicamente por essas mesmas razões que ele perde seu posto para Homem-Aranha: Sem Volta para Casa.

A partir daqui teremos (importantes) spoilers.

A ideia da identidade do Homem-Aranha revelada para todos já era um roteiro diferenciado, visto que nunca tinha sido explorado dessa maneira. A inserção do multiverso e o resgate de vilões já conhecidos de filmes anteriores, como O Espetacular Homem-Aranha e a primeira trilogia do teioso também foi outra jogada de roteiro incrível. Só que isso tudo a gente já esperava a partir dos trailers, né? Daí a Marvel foi lá e entregou uma coisa muito maior, bem construída, repleta de referências aos seus filmes e aos universos envolvidos na história e brincou com nosso coração e memórias afetivas.

A crítica especializada no Rotten Tomatoes classificou o filme como maior e mais ousado, sem perder o coração e o humor da franquia e foi exatamente isso. No Way Home, seu título original, é grandioso em vários níveis. Kevin Feige, Jon Watts, Amy Pascal, que são alguns dos nomes por trás da obra, não tiveram medo de se jogar na ideia e mesmo sob o risco de não corresponder ao hype, eles confiaram que estavam entregando algo muito maior.

Vamos falar do filme, então? O enredo fugiu completamente da ideia que eu pré-concebi a partir dos trailers e do que era especulado. Ou seja, mesmo esperando participações, multiverso e um grupo de vilões já conhecidos, percebi que jamais conseguiria imaginar algo como foi feito.

A narrativa começa de onde paramos no segundo filme, Homem-Aranha: Longe de Casa. O mundo agora sabe que Peter Parker (Tom Holland) é o herói amigo da vizinhança e o vilaniza, por conta das mentiras do Mysterio (Jake Gyllenhaal). Desse ponto em diante, o jovem vê sua vida virar de cabeça para baixo e as consequências dessa descoberta se estende às pessoas que ele ama, como Michelle “MJ” Jones (Zendaya, de Euphoria) e Ned Leeds (Jacob Batalon), além de Happy (Jon Favreau) e sua tia May (Marisa Tomei).

Entre a parte do roteiro comentada no parágrafo de cima e nesse aqui embaixo tem uma aparição super especial no filme que arrancou os primeiros gritos da sessão em que assisti: Matt Murdock (Charlie Cox), o Demolidor.

Quando ele vê a vida dessas pessoas se complicando em razão da proximidade com o Homem-Aranha, decide procurar e convencer o Stephen “Doutor Estranho” Strange (Benedict Cumberbatch) a fazer um feitiço que volte no tempo para a revelação do Mysterio ou que apague a memória das pessoas, fazendo com que elas esqueçam quem é o Homem-Aranha. O problema é que, nessa última opção, todas as pessoas MESMO esqueceriam dele, incluindo May, Happy, MJ, Ned e o próprio Strange, por exemplo.

Entre uma interferência aqui e uma alteração ali no feitiço, Strange “aborta a missão” ao perceber que as coisas poderiam dar muito ruim se algo acontecesse fora do previsto. Porém, parte das pessoas que conhecem um Peter Parker já estavam de passe livre para transitar no “nosso” universo. Nessa parte surgem as principais cenas do trailer, as aparições dos vilões como Dr. Octopus (Alfred Molina), Duende Verde (Willem Dafoe), Electro (Jamie Foxx), Lagarto (Rhys Ifans) e Homem Areia (Thomas Church).

Poupando os mínimos detalhes do filme, fica aqui meu primeiro comentário sobre a construção e o desenvolvimento dos vilões nesse filme: eu achei sensacional “consertarem” o Dr. Octopus para ele ser usado como aliado do Homem-Aranha em um contexto de grandes e conhecidos vilões contra o jovem herói. Também achei muito pertinente que cada um deles tivesse uma motivação válida, ainda que injustificável, para agirem da maneira que agiram. Por fim, a resolução do arco deles com “a cura” garantindo que eles sobrevivam nas histórias de que vieram foi sensacional (pode ter sido meio "fácil" e alguns ficaram apagados na história, só por isso ganham trofeuzinho de "barriga" do filme, mas seguimos) e abriu margem para novas linhas temporais dentro dos universos anteriores, do Espetacular Homem-Aranha e do Homem-Aranha original, digamos assim.

Falando neles, é impossível não mencionar que o ponto alto do filme é a participação de Tobey Maguire e Andrew Garfield na história. Mesmo com a expectativa de que eles fossem aparecer, não tinha parado para imaginar como isso aconteceria e mesmo que tivesse, não chegaria perto do que aconteceu. Cada um deles aparecendo, se apresentando, “provando” ser um Homem-Aranha, se reconhecendo enquanto “Peter Parker”. É uma cumplicidade confusa, mas empática, cheia de energia, de troca e de um afeto que a gente nem sabia que era possível de existir um dia, mas se materializou e eternizou nas imagens de No Way Home.

Eu, que recentemente me rendi ao Spider do Garfield, vibrei muito com a chegada dele e nem preciso dizer que comemorei mais ainda quando Tobey deu às caras. P*ta que pariu, que cena! Mas, o melhor da participação deles são as referências, aos seus mundos, entre si e ao nosso mundo também – teve meme dos 3 homens-aranha, teve zoeira entre si, teve menção aos Vingadores e ao Venom, teve Tobey dizendo ao Andrew “você é espetacular”, teve referência ao Miles Morales, etc. Os três juntos funcionaram muito bem. Holland, Maguire e Andrew encontraram em três gerações distintas do Homem-Aranha/Peter Parker um elo empolgante, carismático e exalando uma química melhor do que muitos casais por aí.

E, é claro, se tratando em referência, duas em especial foram muito marcantes.

Após uma explosão, a tia May tá conversando com o Peter e solta a clássica frase do tio Ben: com grandes poderes vêm grandes responsabilidades. A frase, inclusive, seria inserida no universo do Peter Parker de Tom Holland ainda no primeiro filme, Homem-Aranha: De Volta ao Lar. Na cena em questão, o Happy diz ao Peter que o Stark queria que ele dissesse que “com grandes poderes vem…”, mas Hogan diz que esqueceu do resto. Se na época seria metalinguístico demais, em No Way Home o timing foi perfeito – até demais, à propósito.

A segunda referência transformada em uma cena incrível é a morte da Gwen Stacy (Emma Stone) em O Espetacular Homem-Aranha 2. Lá, o Peter do Garfield não consegue salvar sua amada, alcançando-a tarde demais para evitar a tragédia. Em No Way Home, MJ é lançada de uma altura semelhante à de Gwen e a cena se repete: temos um Peter, dessa vez o Holland, tentando alcançá-la, mas ele é atingido e lançado para bem longe da amada e de toda a situação. Nessa hora, o Aranha de Andrew Garfield se joga até chegar na MJ, a abraça e consegue colocá-la no chão em segurança. Nem preciso dizer que eu chorei nessa cena, né? A gente consegue sentir no olhar e nas expressões do Andrew tudo que seu Peter Parker estava sentindo ali naquele momento, da dor de relembrar o passado, do medo de repetí-lo ao alívio de ter superado-o.

Inclusive, as emoções são muito marcantes em No Way Home. O filme é o mais dramático da trilogia do Aranha no MCU e, mesmo assim, não perde seu humor característico. Não há exageros aqui, tudo é bem equilibrado e suas doses balanceadas são fundamentais para manter a qualidade da produção. Fica pairando no ar aquela ideia de que, a partir desse ponto, o Peter Parker de Holland está se tornando, de fato, o Homem-Aranha, com todas as suas camadas e marcas de dores do passado.

Além de Tom Holland mostrando porque é considerado um dos atores mais promissores de Hollywood e porque é chamado por aí de “futuro do MCU”, menções mais do que honrosas às atuações de Zendaya, com uma corajosa, inteligente e irreverente MJ; ao Molina, por sua desenvoltura com as reviravoltas do Dr. Octopus; e falando em vilão e reviravolta, Willem Dafoe, meus caros, que entregou um Duende Verde muitas vezes mais malvado, caótico e desenvolvido. Que atuação!

Quanto a participação do Strange, ela é pontual e faz jus ao legado paternal deixado por Tony Stark. O Mago passa boa parte do filme longe das câmeras, mas aparece nos pontos altos do roteiro, sendo responsável por – literalmente – fazer a mágica acontecer.

Para não dizer que sou só elogios, fica aqui minha indignação aos usos exagerados de chroma key – e parece que fica muito pior de engolir depois de um filme como Eternos, com aquela fotografia e suas belíssimas locações. Nesse quesito, falta um pouco mais de força de vontade em fazer bonito, mas ok, superamos, pois pegar pelo coração faz a gente passar pano para essas coisas.

Entre surtos, gritos e lágrimas, não consigo mensurar o prazer que foi assistir esse filme. Nem voltar aos cinemas tinha sido tão emocionante ainda. As salas aos berros (com a sensação de serem superiores ao de Ultimato e Guerra Infinita) só refletiam o que o filme já sabia e dizia de si mesmo: se garantiu enquanto pauta e referência na cultura pop por muitos anos pela frente a partir de agora. E que bom que eu vi a história acontecer.

Sobre o final do filme: dor e sofrimento, basicamente. Brincadeira, porém depende. Peter Parker salvou o mundo, mais uma vez, e mandou a todos de volta para seus respectivos universos sob um custo árduo de cair no esquecimento, literalmente. Se no começo do filme isso era um desejo, no final deixou um gosto amargo – mas com ar de recomeço. 

Entre suas doses equilibradas de humor, drama e uma nostalgia de quase 20 anos, o filme mais recente do Homem-Aranha pode até ser “Sem Volta para Casa”, mas, para os fãs, ele crava a sensação de lar – e de revisitar um lugar para onde sempre poderemos retornar.

Nota: 10/10

Ps: as cenas pós-créditos são uma experiência à parte, principalmente a segunda. Enquanto na primeira encontramos Tom Hardy com seu Venom (e rastros de simbionte deixados para trás), na segunda finalmente temos indícios do que esperar em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, que estreia no ano que vem, com Wanda (Elizabeth Olsen) e uma deixa muito similar ao que vimos do Strange em What If, fica a dica.

Beatriz de Alcântara
Beatriz de Alcântara

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