
(Foto: Divulgação/Disney)
Mas, vamos aproveitar o gancho do Oscar 2022 e a indicação do filme Cruella nas categorias técnicas de Melhor Figurino e Melhor Cabelo e Maquiagem para falar mais sobre a moda punk e a estética do emo que voltou no ano passado e, em algumas bolhas, ainda se sustenta com muita maestria.

(Foto: Divulgação/Disney)
Cruella é uma ode aos anos 70, trazendo com muita força o uso da moda como ferramenta política e social. Essa década em específico foi de muitos acontecimentos nos Estados Unidos, como o governo de Richard Nixon e o Watergate, o final da Guerra do Vietnã e todo seu desgaste. Todas essas turbulências serviram de pano de fundo para o surgimento de um movimento estético e cultural marcado pela rebeldia. A ideia era se mostrar subversivo a todas as regras e pressões sociais enquanto também se desprendia do visual hippie e do chamado rock progressivo, com referências de música clássica, que ainda se sustentava muito em consequência ao Woodstock.
Nesse cenário, a música foi o principal responsável pela difusão do estilo, através de bandas como Ramones, nos Estados Unidos, e Sex Pistols, na Inglaterra, um ano depois. A terra da Rainha foi um dos países em que o punk rock mais se consolidou, se tornando mais anárquico e também mais comercial. O Sex Pistols nasceu junto ao empresário Malcom McLaren e sua esposa, ninguém menos que a estilista Vivienne Westwood. A ideia era unir adolescentes britânicos rebeldes e fazer dessa estética algo rentável. Em 1977, o mundo ganhou o hit “God Save the Queen”, uma das canções mais importantes dentro do movimento punk e uma crítica à monarquia britânica. Ou seja, mesmo que o punk tenha seu berço em Nova Iorque, é em Londres que ele alcança seu ápice.

À esquerda, Malcom McLaren na fachada da boutique SEX. À direita, a estilista Vivienne Westwood e um dos principais símbolos de sua marca nos anos 70, a t-shirt Destroy. (Foto: Acervo Vivienne Westwood)
Aproveitando a demanda que surgia, Westwood e McLaren abriram a boutique inglesa SEX, com roupas extravagantes, com cores fortes, estampas variadas, recortes assimétricos, jeans rasgados e camisetas com frases de provocação às instituições políticas, religiosas e de autoritarismo. Foi Vivienne que levou o punk às passarelas da alta costura e foi ela também uma das principais inspirações para os looks do filme Cruella. O longa-metragem da Disney foi lançado em 2021 nos cinemas e no streaming Disney Plus, sendo o terceiro live-action da empresa produzido voltado para as histórias dos 101 Dálmatas. Aqui, a vilã famosa por querer desenvolver casacos com a pele dos cachorrinhos dá espaço para uma jovem ousada, destemida, rebelde e criativa, apaixonada por moda e por se expressar através disso – com leves surtos e maluquices.
O cenário de Cruella é essa Londres dos anos 70, com uma proposta de imersão que vai desde a trilha sonora que traz Rolling Stones, David Bowie e The Doors, até a moda propriamente dita, com as referências de Westwood, mas também de Alexander McQueen e John Galliano. A figurinista do filme, Jenny Beavan, que já levou o Oscar por Mad Max: A Estrada da Fúria, trabalhou com mais de 270 figurinos para todos do elenco de Cruella, sendo quase 50 deles apenas para Emma Stone, que interpreta a protagonista do longa, Stella. O estilo adotado buscou designs ousados, com grandes revelações e que contrastassem bem a dualidade da época – e da protagonista com a antagonista Baronesa, de Emma Thompson.

(Foto: Reprodução/Disney Plus)
No caso da relação de Stella e Baronesa, enquanto uma carrega a essência da ousadia e rebeldia, a outra se mantém como as marcas tradicionais da alta costura na época, como Dior e Schiaparelli, com muita simetria, organização e elegância, em tons claros e tecidos mais leves e fluídos do que o que propunha o punk. Contudo, apesar de remontar à década desse estilo, o filme se preocupa em manter-se atualizado com seu público e faz boas adaptações nas roupas para se comunicar com a geração Z, fazendo com que o vintage seja incorporado e não 100% destacado, dando à Cruella seu estilo próprio, sem ser uma cópia fiel da Londres setentista.

(Foto: Divulgação/Disney)
Mais uma vez, a música se torna um divisor de águas dentro do movimento punk quando The Clash integra mais maturidade ao cenário. Se antes da banda, o punk rock era considerado algo de adolescentes insatisfeitos e rebeldes, The Clash insere de vez a visão crítica sobre a política da época e os “quês” de militância em suas letras com o álbum London Calling, lançado em 1979. É inclusive um clássico da banda que embala a transformação de Stella em Cruella no meio do filme. Pode entrar, Should I Stay Or Should I Go.
A partir da próxima década, o movimento punk se mistura a outros movimentos sociais, como as causas do público lgbtqia+ e ao feminismo, mas isso é papo para outro post.

(Foto: Reprodução/Disney Plus)
Mesmo com a força do figurino e também do cabelo e maquiagem, categorias em que Cruella está concorrendo ao Oscar 2022, o filme ainda se preocupa em manter a atenção nas coisas certas: nas pessoas. Os grandes looks, com grandes mensagens e questões revolucionárias, aparecem em momentos pontuais e certeiros para reforçar o enredo do filme, se tornando um dos artifícios de mais importância dentro da história. Além disso, enquanto Emma Stone se divide entre Stella e Cruella, a caracterização é fundamental para demonstrar aspectos das personalidades de cada uma. Enquanto Stella deseja se misturar, quase que passar despercebida, com seu cabelo de uma cor só, escondida atrás das armações de óculos, Cruella tem cabelo colorido, roupas ousadas e sempre uma mensagem afrontosa para dar – e é nesse momento que Jenny Beavan brilha com seus figurinos.
O filme está disponível no Disney Plus e a cerimônia do Oscar acontece no dia 27 de março, com transmissão pela TNT e pelo Globoplay.
Nota: 10/10
Eu simplesmente amei esse texto. <3 Mais moda aqui.
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