
(Foto: Divulgação/Prime Video)
Um filme biográfico é sempre desafiador, visto que existe sempre a possibilidade de não seguir tão fielmente os fatos e ser vítima da comparação com a realidade. Em Being the Ricardos, traduzido como “Apresentando os Ricardos”, o foco da história é o casal Lucille Ball e Desi Arnaz, estrelas do famoso seriado da década de 1950, I Love Lucy. A ideia é retratar os bastidores do casal mais querido da televisão em episódio que “salvou o dia” enquanto acompanhamos uma semana conturbada e atípica de suas vidas.
A direção fica por conta de Aaron Sorkin, responsável por Os 7 de Chicago, indicado ao Oscar do ano passado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Original, Melhor Fotografia e Melhor Montagem. Sorkin também assina conjuntamente o roteiro de outros filmes de sucesso como Moneyball e A Rede Social. Em 2022, ele emplaca Being the Ricardos nas categorias de atuação, com Nicole Kidman e Javier Bardem indicados à Melhor Atriz e Melhor Ator, respectivamente, e J.k Simmons na categoria de Melhor Ator Coadjuvante.
O espaço temporal da história é de uma semana, como dito anteriormente. De segunda, o dia que I Love Lucy ia ao ar, até a sexta-feira, o dia da gravação. Durante aquela semana em específico, acontecem várias coisas. A primeira delas é Ball ser exposta na imprensa como comunista. Naquele período, os Estados Unidos vivenciavam o contexto de puro surto da suposta “ameaça vermelha” do início da Guerra Fria e descobrem que Lucille apoiou o Partido Comunista nas eleições de 1936.
O segundo problema a ser enfrentado é um indício de traição de Arnaz, que sai na capa de uma revista famosa da época. Lucille entra numa “paranoia” para saber se está sendo traída ou se o marido lhe fala a verdade quando nega toda a situação. Por fim, a atriz descobre que está grávida e isso impacta diretamente na produção do show, que precisa pensar em como pode adaptar o roteiro – ou se é capaz de seguir a sugestão de Desi, de engravidar a personagem Lucy também na sitcom.
Enquanto as grandes empresas que comandavam I Love Lucy aguardam as investigações e publicações sobre o comunismo de Ball, a atriz precisa lidar com seu psicológico e desconfianças sem deixar a peteca cair durante a preparação e ensaios técnicos do show.
O filme não é ruim, mas ele também não é bom – em relação ao seu roteiro. A história tem uma série de problemas externos e, se tratando do longa, é uma produção que não chama atenção. O grande destaque de Being the Ricardos é a atuação, principalmente de Nicole Kidman. Ela entrega uma Lucille firme, determinada e, ainda assim, vulnerável. Uma mulher criativa, com controle sobre sua profissão e que não se cala ou abaixa a cabeça para os homens que tentam lhe podar.
Por outro lado, Javier Bardem não brilha. O primeiro ponto é que ele é um ator espanhol interpretando um personagem cubano. Isso é, no mínimo, de muito mau gosto – e sei que a culpa não é dele. Contudo, além disso, Desi Arnaz não é o grande herói que Being the Ricardos tenta pintar. Enquanto no filme ele salvou o dia e a vida da amada, que ele deixa claro em diversos momentos que realmente ama e admira, na vida real nem se sabe se essa situação realmente aconteceu e Desi não era o melhor dos maridos. Apesar disso, na vida real, Lucille Ball também não era uma das esposas mais recatadas. A infidelidade foi uma marca da relação do casal que estava muito longe de serem donos do romance impecável que demonstravam em I Love Lucy.
No mais, as demais atuações também não se sobressaem, com exceção de J.K Simmons (de Homem-Aranha e Whiplash) e Nina Arianda (de A Pele de Vênus) – e não sempre. Há uma cena ou outra que alguém consegue segurar a onda e se destacar, mas todos ficam ofuscados junto à Kidman, a verdadeira pérola do filme. Sabe-se tanto que o ponto forte do filme é a atuação que as categorias de Melhor Ator e Atriz foram as únicas nas quais Being the Ricardos foi indicado. Nada técnico conseguiu emplacar.
O filme tem picos de emoção, principalmente quando se trata das emoções de Lucille Ball em relação à desconfiança acerca do marido. Ela tem crises de ansiedade, indo ao estúdio em plena madrugada para tentar ter o controle de algo; ela se arrisca em pedidos exorbitantes aos amigos e produtores em prol de “salvar seu casamento”; e, por fim, ela descobre a verdade. E dá a volta por cima, sem se deixar abater, ao menos enquanto isso significar não entregar 100% de si em uma gravação de I Love Lucy.
Quanto à ameaça comunista, enquanto Desi trata a escolha de Ball como errada, ela a todo momento tenta ressaltar que, apesar de não se considerar, sabia sim o que estava fazendo ao se filiar ao partido – e aquela era uma homenagem ao seu avô. Nesse momento, inclusive, Arnaz se exalta falando que fugiu de Cuba e que sabe que o comunismo não era essa bela luta pelos direitos dos trabalhadores que ela pintava. Complicado, né? Mas, no fim das contas, Desi consegue provar que a mulher não estava envolvida com os comunistas.
Being the Ricardos falha em muitos aspectos, sendo, possivelmente, um dos trabalhos mais fracos de Sorkin. Se no ano anterior ele ganhou destaque e relevância com Os 7 de Chicago, também com seu lado factual; esse ano ele pecou por transformar em ficção demais o que seria biográfico. Licença poética, mas a que custo?
Nota: 5/10
Onde assistir? Prime Video
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