(Imagem: Divulgação/Netflix)
São em trabalhos intimistas que o autor consegue transmitir da maneira mais verdadeira as emoções para o público. A Mão de Deus pode não ser uma autobiografia, em que todos os detalhes foram iguais aos eventos da vida real, mas com certeza o diretor Paolo Sorrentino trouxe muito das experiências próprias que ele adquiriu nos anos vividos em Nápoles. Essa história pode ter sido com ele próprio, com algum conhecido, ou até mesmo o que ele imaginaria que poderia ter acontecido com qualquer indivíduo daquela cidade.
Fabietto Schisa (Filippo Scotti), é um garoto solitário, mas que vive tranquilo e contente com o relacionamento que tem com os familiares e conhecidos das redondezas. Ele é apaixonado por futebol e pelo time da cidade, o Napoli. Tomando a perspectiva dele, e ao sermos apresentados às pessoas com quem ele divide o convívio, vamos conhecendo o que movimenta aquele local nos anos 80. Ele é muito apegado aos pais e ao irmão, com quem divide o quarto. É nesse ambiente que o jovem Schisa se depara com os desafios que terá de enfrentar.
Na língua original do filme, em italiano, o título soa um pouco diferente. Algo como “foi a mão de Deus”, em tradução livre. Além da clara alusão à jogada marcante do Maradona na Copa do Mundo de 1986, em que o futebolista argentino fez um gol de mão, o Sorrentino, que também assina o roteiro, brinca com a premissa de que os acontecimentos que aqueles personagens vivenciam e principalmente o protagonista, Fabietto, ocorreram por conta da permissão dessa mão de Deus. Mesmo que o espectador não tenha uma religião ou acredite em Deus, esses atos podem ser atribuídos ao destino. O “responsável” por esses episódios não é importante na história, mas sim como aquelas pessoas lidarão com o que recebem, seja de onde for a origem daquilo tudo.
Começamos pensando que a história tomará um rumo, mas ela vai para outro totalmente diferente. Até mesmo no gênero. Na parte inicial, por muitas vezes nos divertimos com as cenas, afinal é uma família maluca, com integrantes que não se importam em falar mal deles mesmo, podendo se enquadrar em uma comédia. Existe até uma piada recorrente no filme, parecida com a de ‘Não Olhe Para Cima’ (2021). Só que, na metade final, invertermos isso completamente, partindo para um drama familiar, clássico e pesado. A empolgação das descobertas durante a adolescência do protagonista vira o desespero de não saber o que fazer quando fica cada vez mais perto de ser um adulto.
Ele tenta buscar ajuda com quem admira, com quem mal fala, com quem deseja, com um amigo recém-conhecido, com quem ama. Mesmo assim, parece não ser o suficiente. A vida de Fabietto mudou de maneira abrupta e cabe a ele, sozinho, decidir como se portar dali para frente. Ao subir os créditos, ficamos com a curiosidade sobre o que acontecerá com o garoto. Queremos permanecer naquela história, mesmo que seja melhor deixá-la de lado.
Nota: 8.5/10
Onde assistir? Netflix
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