(Imagem: Divulgação/NEON)
Eu já estava enrolando há um tempo para assistir Fuga, o representante dinamarquês na categoria de ‘Filme Internacional’ do Oscar de 2022. Confesso que na lista de prioridade da tradicional maratona, ele estava mais próximo do final. Não sabia muito do que se tratava. O que chegou a mim foram apenas as notícias referentes às indicações. Fui surpreendido com uma trama que é um verdadeiro soco no estômago, mostrando a triste realidade de milhares de pessoas ao redor do mundo.
Apesar de ser uma animação, Fuga também é um documentário que conta a história de Amim Nawabi, um nome fictício, assim como o da maioria dos outros personagens. A intenção é preservar a identidade dele e dos entes queridos. Ele vive em Copenhague, capital da Dinamarca, mas nasceu e teve boa parte da infância em Cabul, a capital do Afeganistão. Por conta da guerra no país natal, ele foi obrigado a fugir, tornando-se um refugiado em busca de abrigo na Europa. O diretor, Jonas Poher Rasmussen, foi um dos primeiros amigos de Amim na nova cidade e, juntos, eles decidiram revirar o passado e fazer o filme para contar toda essa trajetória de vida.
O longa, embora tenha a maioria das cenas animadas, também conta com imagens reais, principalmente as de arquivo, para acompanharmos os registros dos locais citados durante os diálogos. Essa alternância é bem interessante, com algumas vezes utilizando gravações de programas de televisão da época e transformando-as em um desenho. Aliás, o motivo para que o documentário fosse feito dessa maneira é explicado, mesmo sem palavras, nele mesmo. Amim não quer se expor, pois sabe mais do que ninguém, que mesmo depois de mais ou menos 30 anos, ainda não está completamente seguro. Sabe que as pessoas com quem ele convive hoje em dia podem se afastar de uma hora para outra.
Essa relutância não é exagerada ou um sentimento criado a partir do que contaram para ele. Ele viveu e experienciou tudo isso. Quando os créditos sobem, a impressão que fica é de que aquela 1h30 foi apenas um pequeno resumo. Diversos outros acontecimentos o Amim preferiu não contar, pelo menos não dessa vez, mas não há problema nenhum com essa decisão. Só ele sabe o que sente todos os dias e não deve ser nada fácil revisitar tais memórias.
Ele é o personagem principal desta história, mas não se vê assim com a própria vida. Afinal, Amim reconhece que não estaria onde chegou hoje se não fosse pela ajuda incondicional dos familiares, a quem ele é imensamente grato. É na família que ele encontra um porto seguro. A realidade de um refugiado é dura e angustiante. E, mesmo com a estabilidade atual, não há espaço para relaxamento.
Fuga é um filme triste, mas extremamente necessário. Mostra, mais uma vez, que a guerra não traz nada de bom. É apenas miséria e sofrimento. Parafraseando o Filipe do Xadrez Verbal: A guerra na vida real não é um vídeo game. Quando alguém morre, é de verdade. Amim sobreviveu. Ele é um dos sortudos. Porém, não acho que um “sortudo” deveria conviver com uma aflição incapaz de mensurar. Que o nosso mundo encontre a paz!
Nota: 10/10
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