RESENHA: Mães Paralelas (2021)


(Imagem: Divulgação/Netflix)

Pedro Almodóvar é um dos meus diretores favoritos e, ultimamente, vinha tendo uma imersão em sua filmografia desde seus trabalhos mais recentes até os primeiros. Sua assinatura sempre esteve presente e não mudou muito nessas últimas quarenta décadas. Seu cinema de vanguarda apresenta personagens que quebram paradigmas e nos fazem pensar em nosso espaço social. São sujeitos que a sociedade ignora ou tenta ignorar, ou que apresentam algo em seu caráter que vão ser avaliados durante a obra.

Nesse contexto, vários atores tiveram debuts e foram figurinhas carimbadas em seus trabalhos, assim como Antonio Banderas, Victoria Abril, Javier Bardem, Rossy de Palma e Penélope Cruz, que são alguns exemplos desses artistas que compartilharam experiências com o Almodóvar, as duas últimas, inclusive, estão presentes no filme que irei falar a seguir.

Mães Paralelas é o último trabalho, até agora, do diretor, roteirista e produtor espanhol, que está presente no streaming Netflix e concorre ao Oscar de melhor atriz, com a atuação gigantesca de Penélope Cruz. Em seus 120 minutos, vimos um trabalho em conjunto de atores e direção, com um texto primordial que faz o telespectador se emocionar e aplaudir de pé.

Na trama, somos apresentados a Janis (Penélope Cruz), uma fotógrafa que conhece Arturo (Israel Elejalde), um arqueólogo forense. Ela o questiona se a sua fundação não poderia ajudá-la a cavar uma fossa para encontrar os restos mortais do seu bisavô e de outros homens de seu vilarejo, que foram perseguidos e mortos durante a Guerra Civil da Espanha. Arturo aceita e eles dormem juntos. Meses depois Janis aparece grávida e com a relutância de Arturo, que é casado, ela decide manter a gravidez e ter seu bebê.

Na maternidade, conhecemos a Ana (Milena Smit), que divide o quarto com a nossa protagonista. Ambas grávidas compartilham ali suas experiências e após o parto, trocam números para manter o contato e ter esse elo materno mantido. Mas, quem conhece o cinema almodovariano, sabe que não vai ser só isso e a partir daquele momento, situações novelísticas irão se suceder.


(Imagem: Divulgação/Netflix)

Mães Paralelas reside em seu universo de tratar sobre o ato de viver. De viver, de sentir e existir. Almodóvar trabalha aqui o que ele sabe fazer de melhor, que é o ato feminino da vida. Vemos a Janis enfrentando várias perdas em seu processo de existência, ao reconhecimento do que ela é. O que a tiram é algo doloroso, e ela tem a opção de seguir essa rotatória ou não, quebrar esse ciclo. Ao ter o reencontro com a Ana, ela busca solucionar alguns desses ditos problemas, mas acaba se tornando mais fundo do que devia.

O título do filme pode enganar o telespectador de primeira viagem. O filme trata sim de maternidade, mas também trata de amizade e de amores que se cruzam durante o nosso percurso de vida. Trata da morte, de como viver é um ator político. Pra mim, é um dos filmes mais politizados do Almodóvar e ele entrega isso como um poema. Ao mergulho no dano causado pela Guerra Civil Espanhola, que ocorreu no final da década de 30, o diretor conversa com o espectador e discute a questão de forma direta. Em certo momento, a personagem Janis questiona a Ana sobre onde seus pais e seus avós estavam durante esse período, para ela decidir onde ela vai estar agora.

Em meio ao que perdemos no fim, somos encontrados e tentamos nos consertar e é isso que os personagens desse universo buscam. A liberdade de se encontrarem e se curarem. Seja com o perdão, seja com o fechamento de feridas antigas. Todos os seres humanos precisam de cura e cabe saber onde encontrá-la para finalizar esse processo.

Nota: 9/10
Adan Cavalcante
Adan Cavalcante

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