Desculpe o transtorno, mas crescer é realmente uma fera – e das brabas!


(Foto: Divulgação/Pixar)

Que “Red: Crescer é uma Fera”, a nova animação dos estúdios Pixar, fala sobre menstruação, isso já sabemos e já vimos a internet inteira repercutindo, né? Mas, ao assistir, me bateu a sensação de que vai mais além e se preocupa em retratar todas as mudanças, físicas e psicológicas, que acompanham esse momento da vida de pessoas com útero. Além disso, a relação entre a Mei Mei (Rosalie Chiang) e sua mãe – e consequentemente de Ming (Sandra Oh) e a sua mãe – é muito marcada pela educação conservadora e, por vezes, repressora que existem em muitos lares.

A educação baseada na ideia de que a Mei tinha que ser perfeita, com notas boas, comportamento impecável, sem sair de casa para festinhas e rolês, e também sem interação com meninos, teve um estopim emocional para a jovem durante a transição para a adolescência e, o que parecia ser somente um espírito de rebeldia, era, na verdade, a própria Meilin descobrindo suas vontades e quem ela realmente era por trás de todas as cobranças.

Acredito que todo mundo passa por esse momento, apesar de não ser para todos na mesma fase. Por exemplo, tenho consciência de que esse meu despertar não veio aos 13 anos, como acontece com a personagem do filme. Com essa idade, eu ainda estava numa fase de tentar me moldar para me encaixar em grupos sociais específicos no colégio, por exemplo (foi a época que desenvolvi transtorno alimentar, inclusive), e, em relação a esse ideal de perfeição, até hoje me vejo presa nisso em alguns aspectos – como em relação aos estudos e ao trabalho. Ou ao próprio padrão de beleza.

Para mim, uma das coisas mais fortes do filme é tentar quebrar essa nossa autocrítica. A gente exige demais de si mesmo, às vezes por conta de influências externas e às vezes porque tivemos um exemplo que se cobrava tanto quanto. Sei que ainda me cobro demais, mas é libertador pensar em como já me desprendi de muita coisa e de muita expectativa que eu me colocava.

Sobre essa fase de autoconhecimento, vim viver ela com a entrada na universidade. A UFPB foi um espaço de expansão de realidade, de vivência e de consciência. Você entra em contato com diversos outros mundos e esse é um grande passo para entender quem se é. A universidade me apresentou as possibilidades e aos poucos fui entendendo quem eu era, do que eu realmente gostava e o que não servia para mim.

(No episódio #42 do Clubinho, a gente conversa sobre The Breakfast Club e sobre esses aspectos da adolescência. Vale a pena ouvir, basta clicar aqui!)

Depois que a gente se conhece, a maioria das coisas ficam mais leves. A gente aprende a fazer e reconhecer amizades que nos aceitam do nosso jeitinho, aprendemos a impor limites nas coisas que não queremos mais e também nos colocamos à disposição do nosso próprio gosto e das nossas vontades, se permitindo e respeitando.

O filme me lembrou, e espero que tenha despertado essa mensagem em outras pessoas também, que quanto mais cedo a gente toma essa consciência, mais leve (não digo fácil, ok?) fica a vida desse ponto em diante. Quando desde cedo somos ensinadas a impor nossos limites, reconhecer o que aceitamos ou não, o que gostamos ou não, e compreendemos que não vale a pena tantas cobranças pessoais, mais cedo formamos laços verdadeiros e perduráveis, mais tranquilas ficam nossas relações familiares e a probabilidade de caímos em furadas de relacionamentos são baixíssimas. Além dos reflexos disso para autoestima e saúde mental, né?

Então, se para mim Red foi um gatilho do quanto que eu demorei para compreender essas coisas, e isso considerando que eu tenho a sorte de ter um ambiente familiar saudável e respeitoso, sei que para outras pessoas ele cutuca essa ferida ainda mais fundo. E, na verdade, torço para que ele seja um caminho e uma porta que se abre para essa nova geração reconhecer isso mais cedo e evitar tantos traumas que a minha (e a nossa) geração carrega.

Ou seja, não é um filme só sobre menstruação. É um filme sobre mudanças, sobre crescimento, sobre os impactos emocionais da puberdade (mas que não se restringe apenas a esse período dos 13/14 anos, porque para muitos essa transição e esse reconhecimento – e essa liberdade de ser você – só chega depois dos 20) e sobre a importância de se ter uma rede de apoio cuidadosa e que respeita você, sua identidade e seus limites. 

É um filme sobre aceitação, compreendendo que tá tudo bem ser você mesma com todos os bônus e ônus que isso tiver.

Onde assistir?
Disney+
Beatriz de Alcântara
Beatriz de Alcântara

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