(Foto: Divulgação/Medida Provisória)
O cinema está repleto de histórias envolvendo distopias e, em muitas delas, alguns dos fatos se assemelham com a realidade. Contudo, mesmo nestas, no fim das contas ainda parece um cenário muito distante, principalmente considerando que a maioria delas se passam em outros países. Daí, quando o pano de fundo da história é um Brasil bem próximo do nosso dia a dia, o “buraco” é mais embaixo. Foi assim com Bacurau, é assim com Medida Provisória.
Apesar da frase acima, os dois filmes só possuem em comum o fato de serem distopias brasileiras. Enquanto Bacurau se apresentava mais como uma metáfora com alguns fatos inspirados na visão sudestina do povo do nordeste, Medida Provisória é um filme assustador quando analisado sob o ponto de vista de que não é uma realidade tão difícil assim de ocorrer, infelizmente.
O longa-metragem é dirigido por Lázaro Ramos com Taís Araújo, Alfred Enoch, Seu Jorge, Mariana Xavier, Adriana Esteves, Renata Sorrah, Emicida, entre outros grandes nomes no elenco. O roteiro aborda um Brasil do futuro que, com uma branquitude cansada das reivindicações do povo preto, decide mandar essa população de volta para a África com a desculpa de “reparação histórica”. Na verdade, as pessoas pretas nem são mais chamadas assim, mas sim como “melaninados” ou pessoas com “melanina acentuada”.
A história é terrivelmente boa. O texto original vem da peça teatral “Namíbia, não!”, escrita por Aldri Anunciação, que integra o elenco de Medida Provisória também. Lançado nos teatros em 2011, foi adaptado para livro em 2012 e ganhou o Prêmio Jabuti de Literatura na categoria de ficção juvenil, antes de se transformar para as telonas.
No filme, Antônio (Alfred Enoch, de Harry Potter e How to Get Away with Murder) é casado com Capitu (Taís Araújo), e divide apartamento com o amigo e primo André, interpretado pelo Seu Jorge. André mantém um relacionamento com Sarah, papel de Mariana Xavier. O antagonismo do filme fica por conta de Isabel (Adriana Esteves) e Izildinha (Renata Sorrah). Essas duas funcionam como verdadeiras caçadoras/inquisidoras de negros durante o chamado projeto “Resgate-se Já”, que pretende mandar os melaninados para países africanos sem oportunidade de retorno ao Brasil.
Quando a caça aos pretos começa, Antônio e André resistem no próprio apartamento, enquanto Capitu precisa fugir de seu trabalho e é refugiada em um chamado “afrobanker”, que funciona como uma espécie de quilombo moderno. Lá, ela encontra uma comunidade de pessoas pretas resistentes, como Ivan (Aldri Anunciação), Kabenguele (Flavio Bauraqui), Gaspar (José Hilton Santos), Elenita (Diva Guimarães), Berto (Emicida), entre outros. Mesmo separados, o casal protagonista vivem juntos dois tipos de resistências diferentes. Inclusive, Antônio fica conhecido como o pacificador, ganhando até mesmo a simpatia de algumas pessoas por optar ser contrário à luta armada.
Alfred Enoch está incrível, sério! Uma das cenas mais emocionantes do filme é vê-lo gritar a plenos pulmões: o Brasil é meu! Esse país também é meu! O ator britânico é filho de uma brasileira, Etheline Lewis, com o também ator William Russell, que faz uma participação no filme. Acho que a fala se torna ainda mais significativa por ser ele a gritar. Sim, Alfred, o Brasil também é seu.
Sem spoilers, assistam a Medida Provisória. É um filme potente sobre negritude, sobre racismo e mesmo sendo tão cruel e doloroso em tantos momentos, é uma produção muito bonita sobre a força da coletividade – com tempo para uns alívios cômicos bem do estilo “rindo de nervoso” ou “rindo para não chorar”. Mesmo tratando-se de futuro, infelizmente, é uma obra muito atual, com trechos que falam mais do Brasil de hoje do que qualquer outra coisa. Juro, eu passo pano para Carminha e Nazaré Tedesco, mas não defendo Isabel e Izildinha. Adriana Esteves e Renata Sorrah entregaram suas piores vilãs.
E sim, a atuação do elenco inteiro é surreal. Todo mundo tem seu momento de brilhar, principalmente Alfred, Taís e Seu Jorge. Emicida também ganha espaço para se destacar sendo aquilo que ele é de melhor: poeta. Falando nisso, a trilha sonora assinada por, dentre os nomes, Rincon Sapiência é lindíssima. Liniker, Baco Exu do Blues, Elza Soares, Flora Matos, Carlota e Xênia França são alguns dos artistas que possuem músicas no filme.
Bom, para finalizar, a direção de Lázaro Ramos é o que faz com que tudo seja magistral. As escolhas de enquadramento, com close-ups em mãos, olhos e sorrisos nos momentos certos, os cortes certeiros, o posicionamento, tudo isso são coisas que provam que um filme sobre essa temática, com tanta sensibilidade assim, só poderia ter os olhos e as mãos de uma pessoa preta por trás. Inclusive, esse é o diferencial do filme. É um filme sobre negros, feito por negros, para negros e é possível perceber isso em todos os momentos. Da escolha das músicas, do responsável pela trilha, do cinegrafista, da figurinista até o elenco.
Se eu puder dizer só mais uma coisa sobre o filme, diria que mesmo depois que os créditos estavam subindo, passei de cinco a dez minutos absorvendo o que tinha acabado de assistir, sem conseguir parar de chorar. Não era aquele choro de soluçar, mas era um choro de: ok, Lázaro, entendi o que rolou aqui. Eu senti.
E eu espero que vocês sintam também. Assistam a Medida Provisória! Se você é de João Pessoa, o filme está em cartaz nos cinemas do Shopping Tambiá, Manaíra Shopping e Mag Shopping.
Nota: 10/10
Sem spoilers, assistam a Medida Provisória. É um filme potente sobre negritude, sobre racismo e mesmo sendo tão cruel e doloroso em tantos momentos, é uma produção muito bonita sobre a força da coletividade – com tempo para uns alívios cômicos bem do estilo “rindo de nervoso” ou “rindo para não chorar”. Mesmo tratando-se de futuro, infelizmente, é uma obra muito atual, com trechos que falam mais do Brasil de hoje do que qualquer outra coisa. Juro, eu passo pano para Carminha e Nazaré Tedesco, mas não defendo Isabel e Izildinha. Adriana Esteves e Renata Sorrah entregaram suas piores vilãs.
E sim, a atuação do elenco inteiro é surreal. Todo mundo tem seu momento de brilhar, principalmente Alfred, Taís e Seu Jorge. Emicida também ganha espaço para se destacar sendo aquilo que ele é de melhor: poeta. Falando nisso, a trilha sonora assinada por, dentre os nomes, Rincon Sapiência é lindíssima. Liniker, Baco Exu do Blues, Elza Soares, Flora Matos, Carlota e Xênia França são alguns dos artistas que possuem músicas no filme.
Bom, para finalizar, a direção de Lázaro Ramos é o que faz com que tudo seja magistral. As escolhas de enquadramento, com close-ups em mãos, olhos e sorrisos nos momentos certos, os cortes certeiros, o posicionamento, tudo isso são coisas que provam que um filme sobre essa temática, com tanta sensibilidade assim, só poderia ter os olhos e as mãos de uma pessoa preta por trás. Inclusive, esse é o diferencial do filme. É um filme sobre negros, feito por negros, para negros e é possível perceber isso em todos os momentos. Da escolha das músicas, do responsável pela trilha, do cinegrafista, da figurinista até o elenco.
Se eu puder dizer só mais uma coisa sobre o filme, diria que mesmo depois que os créditos estavam subindo, passei de cinco a dez minutos absorvendo o que tinha acabado de assistir, sem conseguir parar de chorar. Não era aquele choro de soluçar, mas era um choro de: ok, Lázaro, entendi o que rolou aqui. Eu senti.
E eu espero que vocês sintam também. Assistam a Medida Provisória! Se você é de João Pessoa, o filme está em cartaz nos cinemas do Shopping Tambiá, Manaíra Shopping e Mag Shopping.
Nota: 10/10
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