RESENHA: Morte no Nilo (2022)


(Imagem: Divulgação/20th Century Studios)

Os fãs dos romances policiais da Agatha Christie da nossa geração podem, enfim, ver as intrigantes histórias da autora ganhando vida na tela. São diversas obras disponíveis, com muitas ainda intocadas. No século passado já foram produzidas várias adaptações dos livros dela, mas com o comprometimento e parceria do Kenneth Branagh na direção e do Michael Green no roteiro, tivemos dois filmes que não ficam para trás, principalmente na qualidade.

Em Morte no Nilo acompanhamos uma sequência do Assassinato no Expresso do Oriente (2017), trazendo de volta dois personagens: o Bouc (Tom Bateman) e o excêntrico Hercule Poirot, protagonizado pelo próprio diretor, Kennet Branagh. Agora, a trama se passa no Egito, quando outro crime ocorre no meio de uma viagem de barco no rio Nilo. Cabe ao detetive desvendar os mistérios ocultos dessa morte, numa luta contra o tempo e com todos os suspeitos a bordo.

É uma construção bastante similar ao trabalho anterior. No lugar de um trem, temos agora um barco. Por isso, ninguém tem para onde fugir enquanto não se chegue ao destino final. A Agatha Christie tem uma carreira vasta, com livros em ambientações distintas, mas essa foi a escolha dos criadores. Faz sentido, afinal, por que mudar o que deu certo? O ponto baixo é a artificialidade. Nas cenas fora da embarcação, fica perceptível que estamos bem longe do Egito e as locações não ajudam, mas não deixa de ser um longa bem dirigido, com enquadramentos variados e que chamam a atenção.

Além disso, a escalada da tensão antes do crime ser cometido é feita de maneira cuidadosa. O nome do filme expõe que ocorrerá uma morte, mas ficamos ansiosos para saber quando será, aumentando o nível de atenção aos detalhes e fazendo o público tentar desvendar o caso antes mesmo de acontecer algo. Dá tempo até de contar um prólogo, com o flashback do Poirot antecedendo a história principal.

Essa calma para o andamento da trama também se reflete na apresentação dos personagens. É algo importante, porque passaremos muito tempo com todos eles, confinados. A introdução de cada um é feita de forma didática, emulando os padrões feitos nos livros. Um artificio inteligente, em que se usa um narrador para esse propósito, mesmo que não exista um de verdade. É alguém implantado justamente para esse propósito. De forma rápida, conhecemos superficialmente as motivações, intrigas e segredos daqueles que, pouco tempo depois, serão suspeitos.

Não há como não falar do grande elenco, apesar das controvérsias atreladas ao nome de alguns. É utilizada uma tendência recente que vem dando muito certo. São colocados diversos atores e atrizes conhecidos para os espectadores, o que diminui a chance de prevermos quem será o culpado apenas por ser o único “famoso”. Isso ocorreu no filme anterior do detetive e também no Entre Facas e Segredos (2019). A atuação de cada um está ótima e melhora ainda mais quando estão juntos.

As cenas dos interrogatórios particulares são intensas, como devem ser. O Poirot é enérgico, suspeitando de qualquer um, sem ter medo de acusá-los, sempre em busca de um deslize. E quando finalmente somos levados à revelação do assassino ou assassina, a sequência é no formato clássico de resolução, com todos os suspeitos presentes e juntos em uma mesma sala. Nesse momento, estamos juntos do investigador. Temos nossas próprias conclusões ou apostas, mas nunca completamente convencidos.

Como resultado, em Morte no Nilo, recebemos outra ótima adaptação das obras da Agatha Christie, com potencial para continuar expandindo uma franquia que vai se moldando, e também apresenta essa incrível autora para uma nova safra de possíveis fãs. Que venham mais filmes do Hercule Poirot! Quem sabe, arriscando-se um pouco mais e trazendo algo diferente do padrão gerado até aqui.



Onde assistir? Star +

Nota: 8/10
Micael Menezes
Micael Menezes

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