Desculpe o transtorno, mas quantas referências te fizeram ser quem você é hoje?


(Foto: Reprodução/HBO Max)

Quando estava pensando no tema para a coluna Desculpe o Transtorno dessa semana, lembrei que na próxima quinta-feira já vai fazer um ano que eu me formei em Jornalismo. Nesse meio tempo, muita coisa aconteceu. Fiquei no trabalho em que eu era estagiária, tentei ingressar no mestrado, passei no mestrado e também desisti do mestrado. Esse blog, assim como essa coluna, nasceu. Abri uma agência de comunicação com outros amigos. Enfim, a vida aconteceu.

Daí, parando para pensar melhor sobre essa tal vida, hoje eu vivo coisas que jamais ousei sonhar quando mais nova. Na verdade, eu nem sabia que podia viver essas tais coisas. Sair de casa, morar em outro estado, relativamente longe da família, trabalhar com o que eu amo em várias formas diferentes, conhecer e compartilhar a vida com pessoas tão incríveis e diferentes de mim, ser formada em um curso que, apesar de tudo, eu amo e por muito tempo ouvi que não seria para mim.

Uau…

A partir disso, foi inevitável não pensar em referências – sim, lá vem elas. Em geral, quando me permiti sonhar coisas parecidas com o que eu vivo, os meus principais exemplos na televisão – e no cinema – eram pessoas brancas. Incluindo ela, a Anne Hathaway, uma das mulheres que mais admiro nesse mundo, mas hoje isso não é sobre ela, seguimos… Mas hoje, analisando a situação com menos “rancor” pela ausência de representatividade, penso na sorte que tive em ser de uma geração que cresceu com produções como “Um Maluco no Pedaço” na TV aberta.

Tivemos, além deles, “Eu, a Patroa e as Crianças”, “As Visões da Raven”, “Cory na Casa Branca”, “Kenan e Kel” e algumas outras. Apesar da tendência cômica da maioria delas, muitas usavam dessa forma “leve” para falar de coisa séria.

“Um Maluco no Pedaço” discutiu racismo de maneira muito perspicaz sem fazer disso a “pauta principal”, porque a série retratava o cotidiano e a vida real de uma família negra e, mesmo quando tudo não gira em torno disso, é sabido que também faz parte. A produção fala sobre relacionamento entre pessoas negras e pessoas brancas, falou sobre feminismo e buscou combater o machismo, além de coisas do dia a dia, como política, relações trabalhistas, meritocracia e tantos outros assuntos.

Quando olho para trás, vejo o quanto a família Banks me ensinou, com seu jeitinho carismático e cheio de energia. Hoje consigo ver a influência de Will no meu humor, de Hilary nos meus gostos e de Ashley na minha personalidade. É isso que acontece quando a gente consegue se enxergar nas produções. Coisa que já falei aqui, que pode parecer pouco para quem sempre se viu nas telas, mas que faz toda a diferença quando você nunca esteve lá.

E, mesmo tendo “muitas” produções com protagonismo negro entre os anos 90 e 2000, é possível contar nos dedos enquanto todos as demais possuem pessoas brancas como protagonistas, né?

Acho que é por isso que quando eu lembro de tudo que tem acontecido com o Will Smith desde o Oscar deste ano, eu fico tão incomodada. Além de todo o lado errado da coisa, com as consequências desproporcionais para o ator, eu também sinto que ele faz um pouco de parte da minha vida, por conta de tudo que o seriado nos ensinou, nos mostrou – além dos inúmeros trabalhos posteriores dele, pois é.


Todo esse devaneio, mais uma semana, para além de reforçar que representatividade importa, fica também esse lembrete de todas as coisas que somos capazes de fazer, independente de termos sonhado com elas ou serem consideradas nossos grandes propósitos de vida, ou só porque gostamos de fazer e somos bons nisso. Claro, fica muito mais fácil de se enxergar em determinado lugar quando se vê pessoas semelhantes chegando lá e, bom, tomara que algum dia eu possa ser essa referência para alguém também.

Vai ver é isso que chamam de sonho.

Até a semana que vem!

Beatriz de Alcântara
Beatriz de Alcântara

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