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(Imagem: Cena do filme O Que Terá Acontecido a Baby Jane?, de 1962) |
Após assistir X - A Marca da Morte, filme de Ti West que chegou aos cinemas brasileiros recentemente, me peguei analisando e relembrando de algumas obras que traziam com antagonismo mulheres idosas, neuróticas e que veem a juventude com almejo e rancor. Chamado de hagsploitation, o termo em si já é um ataque a quem o protagoniza. Hag é um termo pejorativo para indicar mulher velha e feia, algo também como bruxa velha; o explotation é de exploração mesmo.
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Na era de ouro do cinema, a “aposentadoria forçada” para atrizes tinha limite certo. Ao chegar aos 40, os papéis já estavam minguando, forçando-as a seguir outros rumos. Simplesmente não existia mais espaço para elas, não importava a glória que elas tinham no passado ou os prêmios que elas acumulavam. Simplesmente, havia passado da “validade” e era o tempo de dizer adeus.
Ao chegar na década de 60, o cinema de terror estava cada vez maior. Psicose tinha sido um sucesso e outras obras caminhavam ao seu lado. Dois anos após o seu lançamento, chega às telonas “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?”, filme estrelado por Bette Davis e Joan Crawford, duas das maiores estrelas de Hollywood e que cultivava uma rixa das mais históricas.
Quando foi anunciado ninguém dava muito por ele, pois o que duas atrizes esquecidas poderiam trazer que Hollywood iria aprovar? Para se ter noção, Bette Davis já havia recebido 10 indicações ao Oscar e levado 2, Joan Crawford já tinha 1 na sua estante. Ambas vinham de uma carreira de sucesso, carregando vários filmes nas costas. Mas o tempo não foi bom para a carreira delas e os papéis começaram a ficar mais fracos e quase inexistentes. Na casa dos 50, era iminente o ostracismo, de acordo com a lei hollywoodiana.
Ao mostrarem que o sucesso poderia ainda existir, elas foram pioneiras em um subgênero que escancara o preconceito presente no meio com as atrizes que ousavam envelhecer e retrata a velhice feminina como algo grotesco, taxando-as como figuras repugnantes, indignas de piedade e no limite da loucura. Claro que as atrizes não tem culpa de nada disso, elas tinham contas a pagar e amavam o trabalho, seguir ali tinha um preço. O preço este, era ser “humilhada” e ojeriza.
Após o grande sucesso de Baby Jane, outros filmes vieram na esteira, inclusive alguns estrelados pelas protagonistas. De A Mansão dos Desaparecidos estrelado por Geraldine Page à Obsessão Sinistra, de Debbie Reynolds, passando por A Dama Enjaulada com Olivia de Havilland, todos trazendo grandes atrizes premiadas de meia-idade que na época em questão já não eram produtivas para Hollywood.
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(Imagem: Cena do filme Espetáculo de Sangue, de 1967) |
O estilo em questão, foi trazido inspirado no clássico de Billy Wilder Crepúsculo dos Deuses, onde temos Norma Desmond, interpretada pela maravilhosa Gloria Swanson, uma atriz decadente vinda do cinema mudo que não se adaptou ao sonoro. Em sua mansão, ela rever seus filmes e projeta em um comeback, que nunca vai ocorrer. A obra de 1950 importa elementos que 12 anos depois, iria ser trazido com força ao cinema. A figura feminina que aos poucos vai perdendo a sanidade, a não aceitação de sua nova realidade e a rejeição social que ocorre, virou o que conhecemos pelo hagsploitation.
Sessenta anos depois, o cinema volta a ser assombrado por figuras femininas decadentes, com o corpo tido como grotesco, tendo seu sexo como algo hediondo. A concepção pode ter sido adaptada, mas o saldo final continua sendo o contraste de envelhecer e se tornar uma “bruxa velha”. A representação, por mais que ainda decadente, apresenta o homem como sanguinário e viril, mas as mulheres, impossíveis de sanidade, são apenas um vulto aterrorizante e desagradável.
Ainda assim, diante de tantas problemáticas, muitas pequenas obras primas saíram, mostrando o show que essas mulheres podem dar, com a mínima oportunidade. Até hoje, “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?” é lembrado, e a imagem das duas atrizes segue sendo homenageada até hoje. A série Feud, lançou sua primeira temporada focada na treta entre as duas estrelas, mostrando os bastidores e o pós-lançamento do filme, estrelado por Jessica Lange como Crawford e Susan Sarandon com Davis.
Hoje em dia o subgênero não tem tanta força como outrora. Em uma entrevista a um talk show, Meryl Streep chegou a mencionar que ao chegar aos 40 anos começou a receber vários convites para interpretar bruxas, onde ela comentou que algo estava errado. A indústria não alterou nesses últimos 60 anos, encontrando ainda motivos para isolar essas atrizes. Mas aos poucos, elas controlam suas próprias narrativas, não se destinando apenas a papéis de hag ao passar da meia-idade.
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