Desculpe o transtorno, mas decidi revisitar um dos meus livros preferidos


(Foto: Beatriz de Alcântara)

Há alguns meses eu reli O Diário da Princesa depois de uns 15 anos ou mais da primeira e única vez que havia lido. Por um lado, eu tinha receio de que essa releitura, agora com outra cabeça e maturidade, me roubasse o brilho da paixão e do apego que eu tinha por esse livro, mas felizmente isso não aconteceu. Por outro lado, eu tinha essa curiosidade de saber o que a Bea de hoje pensaria sobre a obra.

Pois bem, como antecipado, não me roubou o apego ao livro, mas também consegui identificar algumas coisas problemáticas, é claro, afinal ele ainda faz jus a sua época. O livro foi escrito por Meg Cabot, uma autora que ali em meados dos anos 2000 tinha como característica de escrita o fato de tentar fazer a gente olhar para padrões estéticos sociais com outros olhos, como em “Tamanho 42 Não é Gorda”, ainda mais dialogando com o público infanto-juvenil.

O Diário da Princesa foi lançado exatamente em 2000 – e o filme veio um ano depois, em 2001, com a Anne Hathaway e a Julie Andrews. Nele a Mia não tem tanta descrição física e a gente só vai descobrindo as coisas à medida que são informações relevantes dentro da história, quando a forçam a mudar de cabelo e parar de usar óculos a fim de “ficar bonita” ou com mais “cara de princesa”. A Meg até tenta questionar a necessidade disso, mas no fundo a gente sabe que acabou sendo mais uma réplica de um clichê padrão da época.

Informação aleatória sobre o filme: amanhã completam 21 anos que O Diário da Princesa estreou nos cinemas estadunidenses e, em janeiro desse ano, foram 20 anos da estreia brasileira. Sim, estamos velhes!

Leia também: Feliz aniversário, Anne Hathaway!

Tem outras falas problemáticas dentro do contexto de machismo, ideias de relacionamento meio deturpadas, mas, por outro lado, é um livro que propõe certa diversidade de personagens, tem a militância da própria mãe da Mia, e conseguem “vilanizar” quem tenta a todo custo enfiar esse tanto de padrão nas coisas. Outro ponto válido de destacar é que no livro a Mia só tem 14 anos e suas falas não fogem dessa mentalidade, tanto que ao longo dos demais livros da sequência a gente percebe o amadurecimento da personagem, que deixa para trás muitos, senão todos, dos comportamentos problemáticos.

E muito do que me incomodou tava dentro desse contexto, mas que consegui filtrar justamente com essa explicação acima. Inclusive, eu reconheço que eu mesma, aos 14 anos, pensava quase da mesma forma que a Mia. Ela é uma adolescente, no auge da puberdade, vendo as amigas se desenvolvendo, se relacionando e aquele eterno sentimento de que está ficando para trás. Ao mesmo tempo em que se descobre herdeira de um país francês, integrante da realeza e que precisa, de certa forma, cumprir com suas obrigações. Lembrando que ela só tem 14 anos.

No fim das contas, foi uma experiência nostálgica. Enquanto encontrava coisas que hoje talvez não façam mais tanto sentido, também consegui entender (de novo) aquela criança que se encantou pelo livro. E volto a me questionar, de certa forma, até que ponto eu me identifiquei com a personagem ou ela moldou minha personalidade, principalmente depois do filme.

Como mencionei em outro texto sobre a Anne Hathaway, foi com O Diário da Princesa que eu conheci o trabalho dela e me apaixonei. Inclusive, até hoje não lembro se li o livro primeiro ou assisti ao filme, mas sei que, independente da ordem de consumo, entendia que ela fazia uma Mia Thermopolis perfeita, do jeitinho que eu imaginava que a Mia seria. Ah, ok, eu acho que eu li o livro antes do filme, porque eu tenho uma imagem de Michael Moscovitz na minha cabeça que nunca, em todos esses anos, consegui incorporar a algum ator real. Ou seja, nunca reconheci (de coração) o Robert Schwartzman como Michael mesmo – ele é ótimo, tem 100% da personalidade, mas o visual é diferente do que está na minha cabeça. Sim, loca.

Além de reler o primeiro livro, também reli o segundo e estou na metade do terceiro, o que indica, claramente, que vou ler todos de novo e, finalmente, ler o último pela primeira vez – eu tenho o livro, mas nunca tive coragem de encerrar essa história. Nessa coisa de reler a série DDP, só confirmou que sim, Mia e Michael continuam sendo o meu casal favorito da ficção, principalmente da literatura. Eu amo vários outros, mas eles dois mexem demais comigo – Michael criou padrões de expectativa que até hoje não consegui suprir. Me ajuda, Universo.

E, é isso. Se vocês tiverem apego a alguma coisa que consumiam quando eram crianças, tentem se reconectar com isso. Claro, com cautela, porque tem coisa que às vezes é melhor ficar no nosso imaginário mesmo, mas tem outras que vão ser como um abraço quentinho na nossa criança interior – e às vezes isso é tudo que ela tá precisando. Então, fica a dica!

Até a semana que vem!

Beatriz de Alcântara
Beatriz de Alcântara

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