Desculpe o transtorno, mas nunca foi só uma fase


(Foto: Divulgação/Fresno)

Sábado teve show de Fresno em Recife. Se você acompanha o Clubinho há algum tempo, com certeza você sabe que alguns de nós por aqui somos fãs, inclusive eu. Logo, deve ser possível imaginar quão ansiosa eu estava para esse show. Acompanho a banda há mais de dez anos e, em todos os outros shows, sempre teve alguma coisa que me impossibilitou de ir, seja idade ou viagens, por exemplo. Mas, sabe aquele papo de não era pra ser? Pois é, eu creio nisso.

O que eu presenciei no último sábado foi surreal. Pode parecer besteira para alguns, mas eu sei que quem estava lá vai entender o que eu estou falando. Fresno é uma banda que acompanhou várias fases da minha vida – mesmo quando eu não escutava com a mesma frequência de antes, sempre tinha alguma música se fazendo presente como um divisor de águas. E a setlist do show reuniu algumas das minhas canções preferidas da banda – como Manifesto, Casa Assombrada, Eu Sou a Maré Viva, Cada Acidente, Diga pt 2, MilongaCada Poça dessa Rua Tem um Pouco das Minhas Lágrimas, Caminho Não Tem Fim e Quando Eu Caí, enfim.

Parte do meu entendimento em relação ao “não era pra ser” de antes é justamente porque Fresno tem letras muito potentes, sofridas e políticas, e por mais que eu gostasse, certeza que não compreenderia e sentiria o show com a intensidade que foi, nem com a identificação que teve.

O show faz parte da turnê “Vou Ter que Me Virar”, o disco mais recente da banda, que foi lançado em novembro do ano passado. O álbum é um dos mais políticos que a Fresno já fez, pelo menos de forma explícita, e o sofrimento tradicional do “emo” não se resume mais ao coração partido. Assim como no disco “Sua Alegria Foi Cancelada”, as dores são mais adultas. Os temas versam sobre ansiedade, depressão, ainda tem relacionamentos e não só os amorosos, e isso gera uma identificação muito forte com essa legião de fãs que cresceu junto com a banda.

Com frases como “eu sinto ter mais passado que futuro a viver” ou “essa casa eu tenho que arrumar pra poder receber você”, o disco dialoga com sentimentos corriqueiros da nossa geração, as incertezas da vida adulta, a falta de sentido que na maioria das vezes bate, principalmente diante da realidade atual das coisas. Complexo, né? E eles conseguem transmitir isso.

O show foi como um descarrego de emoções, colocar para fora em lágrimas e gritos as dores e os desalentos que estavam sufocando, relembrar os amigos e os amores, se sentir acolhida e também acolher. Inclusive, publicamente agradecendo aos meus primos que toparam ir nessa comigo e meus “sóciomigos” Adan (à distância com videochamadas e áudios) e Matheus, que esteve presente no show e tava aguentando minhas declarações via whatsapp porque estávamos longe um do outro.

Não vou me estender muito, porque talvez não consiga expressar em palavras o que foi finalmente assistir a um show de uma das minhas bandas favoritas da vida, mas que fique o registro de que momentos como esses nos transformam. Tinha momentos que eu encarava aquele mar de gente e o palco como quem encara uma experiência divina, parecia uma espécie de culto, todo mundo com as mãos levantadas, sentindo cada letra ali cantada e ecoada. Que especial ter presenciado isso!

Para mim, como dito, foi surreal. Me arrepiei, chorei, gritei, abracei e vivi cada segundo como se fosse o último. Gravei algumas coisas e outras ficarão por conta do registro da memória e do coração mesmo, minha maior preocupação era curtir, era não perder nada com meus próprios olhos e o que desse para salvar com o celular também, bem, mas se não desse, o melhor já estava acontecendo. Eu fui, eu tava.

Um agradecimento especial também à Thaís, da Trovoa, que foi muito paciente comigo e prestativa, viabilizando junto ao Baile Perfumado ingressos de cortesia para o Clubinho registrar esse show. Que venham os próximos!

E, bom, hoje essa coluna é mais para mim do que para vocês. É uma tentativa pífia de deixar registrado aquilo que me faltam palavras, mas ainda ouso buscar algumas. Obrigada, Fresno, por entregar um show que fez tanto sentido pra mim, que supriu parte de todos os outros que não pude ir ou que nem chegaram a acontecer. Puta que pariu, é a melhor banda do Brasil.

Até a semana que vem!

Beatriz de Alcântara
Beatriz de Alcântara

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