
(Foto: Reprodução/Beyoncé)
Na noite do dia 12 de julho de 1979, a música disco morreu. Pelo menos é assim que o radialista e disc jockey Steve Dahl se refere no seu livro “Disco Demolition: The Night Disco Died” ao evento que ele mesmo ajudou a dar vida. Naquela semana, Donna Summer ocupava a primeira e a terceira posição da Billboard Hot 100, com Bad Girls e Hot Stuff, respectivamente. E apenas cinco meses antes, os Bee Gees eram o grupo com o maior número de vitórias da edição do Grammy, levando quatro prêmios, incluindo o de álbum do ano.
Levando este cenário em consideração, a música disco vivia um ano glorioso – e não é para menos: os anos 70 realmente foram sua era de ouro. Mas, em 1979, ela já não tinha a mesma força que a tornou o principal gênero musical das pistas no começo da década. Como acontece na ordem natural da vida, o sucesso de um geralmente indica o declínio de outro. Aqui, o outro em questão era o rock ‘n’ roll, que havia deixado o papel principal e se tornado coadjuvante nas paradas musicais e estações de rádio do mundo pós-sessentista.
Mesmo tendo surgido dentro do caldeirão criativo da cultura negra estadunidense (assim como a música disco), o rock foi apropriado e dominado por homens brancos que também atraíam outros homens brancos como fãs. Esses fãs não estavam nem um pouco felizes com a ascensão de outro gênero musical que, (não tão) coincidentemente assim, era levado adiante por mulheres pretas e adorado pela comunidade LGBTQIA+. E os executivos do time de baseball Chicago White Sox sabiam disso.
Assim, organizaram uma campanha com o Steve Dahl, famoso pelo seu ódio pela música disco, para que os seus torcedores que levassem um álbum do gênero ao jogo daquela noite recebessem um desconto nos ingressos. A promessa era de que Dahl explodiria os vinis no intervalo.

Steve Dahl ao lado de uma caçamba com os vinis coletados. (Foto: Paul Natkin/Getty Images)
O resultado? O estádio recebeu mais do que o dobro de pessoas naquela noite e após a explosão do radialista, milhares de pessoas (em sua maioria homens e brancos) invadiram o campo e fizeram a sua própria manifestação de ódio contra a música disco. Historiadores como o professor Tim Lawrence, definiram o evento como um ato também de racismo e homofobia.
A verdade é que aquela não foi a noite que o disco morreu. Suas influências e seu formato podem ser vistos em todos os quarteirões da música pop. Entretanto, após 1979, os investimentos que culminaram em produções caríssimas e robustas diminuíram, e seu nome não era mais o que estampava os principais gêneros musicais de pistas de dança. O termo guarda-chuva dance music e a ramificação house tinham mais espaço do que aquele que tanto os influenciou.
Mas era uma questão de tempo até um ciclo nostálgico reviver a música disco. Desde 2020, faixas que flertam ou vão de cabeça nas linhas de baixo profundas e no four-on-the-floor mostram que o disco nunca morreu.
Entretanto, nenhuma delas fez o que Beyoncé fez com o seu RENAISSANCE.

Capa de RENAISSANCE. (Foto: Reprodução/Beyoncé)
Com uma extensa lista de créditos, samples de faixas de house music dos anos 90, referências diretas a Donna Summer, participação de Grace Jones e remix com Madonna, o sétimo álbum de estúdio solo de Beyoncé não é relapso em apenas referenciar elementos musicais e estéticos das fontes onde bebeu. Ele pega emprestado, e ao mesmo tempo empurra para os holofotes, as pessoas que tornaram não só esse projeto, mas a existência da sua dona, possíveis.
Beyoncé não seria uma “diva pop”, e não teria até uma música sobre ser uma, se antes Diana Ross não tivesse abraçado o termo com orgulho e definido com as próprias mãos o que é ser uma diva. A questão é que ninguém precisa lembrar a “Queen B” sobre isso. Ela já sabe.
Em 16 faixas, RENAISSANCE soa como uma longa noite em uma discoteca ou em uma festa do Studio 54. As transições sutis entre as faixas, que em momentos não tem suas continuidades interrompidas, remetem a um período em que DJs sofriam para não deixar a música parar enquanto faziam suas mixagens e trocas de vinil, ainda em aparelhos analógicos. A duração de cada uma das músicas também se mantém fiel ao “material original”: VIRGO’S GROOVE tem seis minutos de duração como uma verdadeira disco track deveria ter.

Na abertura de ALIEN SUPERSTAR, o trecho de Moonraker do grupo Foremost Poets instrui aos ouvintes: “do not attempt to leave the dance floor” (em português: não tente deixar a pista). E os minutos que seguem esta “mensagem” provam que mesmo que ela não existisse, seria impossível não dançar ao som da quarta faixa de RENAISSANCE. ALIEN SUPERSTAR é o ponto alto do álbum com uma produção que é ao mesmo tempo urgente, sofisticada, mas também tão irreverente quanto a música que lhe deu o seu refrão, “I’m too sexy”, de Right Said Fred.
Assim, organizaram uma campanha com o Steve Dahl, famoso pelo seu ódio pela música disco, para que os seus torcedores que levassem um álbum do gênero ao jogo daquela noite recebessem um desconto nos ingressos. A promessa era de que Dahl explodiria os vinis no intervalo.

Steve Dahl ao lado de uma caçamba com os vinis coletados. (Foto: Paul Natkin/Getty Images)
O resultado? O estádio recebeu mais do que o dobro de pessoas naquela noite e após a explosão do radialista, milhares de pessoas (em sua maioria homens e brancos) invadiram o campo e fizeram a sua própria manifestação de ódio contra a música disco. Historiadores como o professor Tim Lawrence, definiram o evento como um ato também de racismo e homofobia.
A verdade é que aquela não foi a noite que o disco morreu. Suas influências e seu formato podem ser vistos em todos os quarteirões da música pop. Entretanto, após 1979, os investimentos que culminaram em produções caríssimas e robustas diminuíram, e seu nome não era mais o que estampava os principais gêneros musicais de pistas de dança. O termo guarda-chuva dance music e a ramificação house tinham mais espaço do que aquele que tanto os influenciou.
Mas era uma questão de tempo até um ciclo nostálgico reviver a música disco. Desde 2020, faixas que flertam ou vão de cabeça nas linhas de baixo profundas e no four-on-the-floor mostram que o disco nunca morreu.
Entretanto, nenhuma delas fez o que Beyoncé fez com o seu RENAISSANCE.

Capa de RENAISSANCE. (Foto: Reprodução/Beyoncé)
Com uma extensa lista de créditos, samples de faixas de house music dos anos 90, referências diretas a Donna Summer, participação de Grace Jones e remix com Madonna, o sétimo álbum de estúdio solo de Beyoncé não é relapso em apenas referenciar elementos musicais e estéticos das fontes onde bebeu. Ele pega emprestado, e ao mesmo tempo empurra para os holofotes, as pessoas que tornaram não só esse projeto, mas a existência da sua dona, possíveis.
Beyoncé não seria uma “diva pop”, e não teria até uma música sobre ser uma, se antes Diana Ross não tivesse abraçado o termo com orgulho e definido com as próprias mãos o que é ser uma diva. A questão é que ninguém precisa lembrar a “Queen B” sobre isso. Ela já sabe.
Em 16 faixas, RENAISSANCE soa como uma longa noite em uma discoteca ou em uma festa do Studio 54. As transições sutis entre as faixas, que em momentos não tem suas continuidades interrompidas, remetem a um período em que DJs sofriam para não deixar a música parar enquanto faziam suas mixagens e trocas de vinil, ainda em aparelhos analógicos. A duração de cada uma das músicas também se mantém fiel ao “material original”: VIRGO’S GROOVE tem seis minutos de duração como uma verdadeira disco track deveria ter.

Na abertura de ALIEN SUPERSTAR, o trecho de Moonraker do grupo Foremost Poets instrui aos ouvintes: “do not attempt to leave the dance floor” (em português: não tente deixar a pista). E os minutos que seguem esta “mensagem” provam que mesmo que ela não existisse, seria impossível não dançar ao som da quarta faixa de RENAISSANCE. ALIEN SUPERSTAR é o ponto alto do álbum com uma produção que é ao mesmo tempo urgente, sofisticada, mas também tão irreverente quanto a música que lhe deu o seu refrão, “I’m too sexy”, de Right Said Fred.

Outra coisa que Beyoncé também sabe é da importância de manter viva na memória de outras pessoas não somente quem eram as divas da era do disco, mas também quem abraçava essas mulheres e as colocava nesses pedestais. Já na dedicatória do álbum ao seu tio Johnny Knowles, descrito por ela como “o homem gay mais fabuloso que eu já conheci” e vítima de complicações decorrentes do HIV, Beyoncé lembra quem eram aqueles que mantiveram a música disco viva.
O sample de Miss Honey da lendária drag queen Moi Renee em PURE/HONEY e os chants de ballroom em HEATED e SUMMER RENAISSANCE fazem questão de nos lembrar que não eram nas cenas de “Os Embalos de um Sábado à Noite” que a disco e dance music existiam no seu ápice.
O sample de Miss Honey da lendária drag queen Moi Renee em PURE/HONEY e os chants de ballroom em HEATED e SUMMER RENAISSANCE fazem questão de nos lembrar que não eram nas cenas de “Os Embalos de um Sábado à Noite” que a disco e dance music existiam no seu ápice.
Em momentos mais divertidos como CHURCH GIRL, THIQUE e no afrobeat ENERGY, Beyoncé nos lembra do que acontece quando um artista está tão confortável em ser o que ele é, que a irreverência se torna sinônimo de excelência.

(Foto: Reprodução/Beyoncé)
RENAISSANCE soa como uma homenagem que combina o melhor do passado com o que pode ser feito no futuro. E se a música disco morreu em 1979, não foi Dua Lipa com o seu Future Nostalgia, Jessie Ware em What’s Your Pleasure? ou Doja Cat com Say So que a reviveram, porque a verdade é que ela nunca precisou ser ressuscitada. Ela precisava de uma celebração, de um monumento, de uma renascença. E isso, até o momento, apenas Beyoncé nos deu.
Faixas de destaque: ALIEN SUPERSTAR, SUMMER RENAISSANCE e PURE/HONEY.
Nota: 10/10.
Artista: Beyoncé
Álbum: RENAISSANCE
Ano: 2022
Selo: Parkwood/Columbia
Gênero: Pop, Dance, R&B
Ano: 2022
Selo: Parkwood/Columbia
Gênero: Pop, Dance, R&B
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