
(Foto: Paris Filmes/Divulgação)
Eu sou naturalmente atraída por produções que usam o Jornalismo como fio condutor das histórias. Quando isso se aproxima da realidade, a trama fica ainda mais interessante – ainda que assustadora, às vezes. É isso que acontece com o filme O Debate, com estreia de Caio Blat na direção e texto de Guel Arraes e Jorge Furtado.
O enredo aborda o último debate presidencial antes das eleições de 2022 com os candidatos que são reconhecidos como o atual presidente e um ex-presidente, sem nomes mencionados. O cenário é os bastidores de um telejornal de uma emissora da tv aberta e os protagonistas são Paula e Marcos, interpretados por Déborah Bloch e Paulo Betti, respectivamente.
Os dois são jornalistas, ela apresentadora e ele editor, mas antes disso são um ex-casal. Depois de 20 anos de casamento, Paula e Marcos passam pelo processo do divórcio e a história dos dois é contada de forma retroativa e intercalada com o debate presidencial.
Ou seja, O Debate é um filme político, mas que também fala sobre ética, jornalismo, responsabilidade, amor, casamento, sexo, monogamia, desejo, filhos, envelhecimento, entre tantas as outras coisas. E ele consegue acertar em quase todas elas, dentro do possível – e do previsto, com muitos clichês e polarizações.
Escrever essa resenha na semana em que o nosso atual presidente esteve em rede nacional corroborando suas mentiras de todo um mandato só reforça a importância de uma produção como O Debate e da mensagem que o filme deseja passar, destacando o papel do Jornalismo responsável e, acima de tudo, que não se isenta em situações como essa.
Em um extremo como o que vivemos, não existe a opção de ficar em cima do muro, porque essa já indica uma concordância. Não existe pegar um avião para Paris e deixar o caos para trás com o sentimento de que “eles que se resolvam”. É preciso tomar para si a responsabilidade, segurar a mão do lado antifascista e se comprometer, porque democracia e justiça se fazem com comprometimento. Comprometimento com o povo, com a verdade, com a ética.
O Debate é sobre comprometimento. Com o outro, acima de tudo.
Eu poderia destacar que o filme peca na falta de representatividade, como exagera no discurso polarizado buscando trazer um falso equilíbrio nos argumentos ou na tentativa do Caio Blat de mudar a própria perspectiva depois de 2018, mas acho que isso tiraria o foco do texto de Guel e Furtado, que consegue se sobressair e, realmente, dialogar com o telespectador. A direção termina de moldar o que já era bom, isso é fato, e os demais méritos ficam por conta de Bloch e Betti. Mesmo com suas faltas de ajustes – e pessoalidade discursiva –, este ainda é um filme que vale a pena.
Em entrevista para a divulgação da produção, o co-roteirista Guel Arraes reiterou que no momento em que vivemos é preciso tomar um partido. “Não é possível, diante da situação que a gente vive no Brasil, uma pré-ditadura. Eu vivi indiretamente a ditadura militar por conta do meu pai, fui ao exílio com ele. Vi gente presa, conheci gente torturada. Para mim é inadmissível que esse espírito volte hoje em dia. Acho que talvez o debate seja a arma mais forte que temos hoje em dia a favor da democracia. Então se o filme contribuir de alguma maneira para o debate, para que a discussão seja feita, é um pouco a razão para assisti-lo”.
O longa chega aos cinemas nessa quinta-feira, 25, e merece a atenção dos mais engajados e dos menos também. Mesmo sem citar nomes, a produção impacta, porque reconhecemos os discursos. É a prova de que não adianta negar, o que foi dito, foi dito. O que foi feito, foi feito.
Que O Debate seja uma lembrança das escolhas que temos a fazer em algumas semanas. Que a gente decida pelo comprometimento, pela seriedade, pela ciência e pela vida.
Nota: 9/10
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