(Foto: Rina Sawayama/Divulgação) |
As expectativas para o que a cantora traria logo em seguida eram altas e ela parecia ser o tipo de artista disposta a continuar aperfeiçoando sua experimentação, o que não aconteceu com Hold The Girl.
(Foto: Capa do álbum "Hold The Girl") |
Longe de ser um álbum ruim, mas também longe de superar o seu antecessor, este é um trabalho que vai fundo no pop e no que havia de menos interessante em outros lançamentos de Rina.
Algumas características já conhecidas da britânica ainda estão aqui: os múltiplos gêneros musicais explorados, os vocais explosivos, o amor pelo pop dos anos 2000, letras sobre traumas geracionais e uma devoção a Lady Gaga. Ao último elemento da lista, trago um destaque, porque as comparações não são à toa: Hold The Girl de fato parece uma tentativa de juntar as guitarras elétricas e o stadium rock de Born This Way com o eletrônico noventista e “Y2K” de Chromatica.
O resultado dessa mistura é uma perda, ainda que pequena, da identidade e da estranheza fenomenal que Sawayama costumava trazer em suas músicas. Aqui, ela foi fundo no pop, no mainstream e no que está sendo feito por todos da indústria no momento. Isso também pode ser visto quando as referências musicais vêm do rock.
Enquanto em SAWAYAMA, tínhamos a inesperada STFU!, uma faixa nu-metal com claras inspirações em bandas como Korn, Hold The Girl entrega mais músicas de pop rock e pop punk em 2022. Como se já não tivéssemos o bastante.
Parece que todo artista crescido nos anos 2000 precisa dizer que ouvia Green Day e Avril Lavigne quando adolescente. Em pouquíssimo tempo, essa ressurreição já parece esgotada e saturada. Meu voto de perdão para Rina, neste quesito, é dedicado à canção Catch Me In The Air, que poderia ter vindo do catálogo de Kelly Clarkson ou da Katy Perry pré-Teenage Dream e funciona bem dentro da proposta apresentada.
Outras como Frankenstein, que parece ser uma filha perdida do HOLY FVCK de Demi Lovato, caem na mesmice e no mar de músicas iguais a esta que saíram neste ano.
Tematicamente, Hold The Girl é mais conciso. Suas letras giram em torno de perdão e desconstrução de traumas geracionais relacionados a imigração, vivência LGBTQIA+ e gênero. Embora, por vezes, Rina soe como se estivesse prestes a lançar um livro de autoajuda, na maior parte do disco, suas confissões exalam sinceridade, coragem e muita força.
Em uma de suas composições mais sensíveis até o momento, Send My Love To John, ela evoca no eu lírico uma mãe imigrante que pede perdão ao filho gay e, finalmente, demonstra o apoio que ele sempre precisou. Em três minutos e 24 segundos, entendemos perfeitamente a complexidade da relação entre uma pessoa que aprendeu a ultrapassar os limites da sua dura realidade através da abundância do amor materno. O perdão não é só aquele que é solicitado pela mãe, mas também o que quem escuta a música concede a ela, uma figura que reconhecemos em tantos rostos por aí.
Os dois primeiros terços do álbum têm seus altos e baixos, mas são os momentos mais divertidos e fortes dele. É impressionante como mesmo com partes da sua identidade musical dissolvidas em prol de um som mais mainstream, Rina consegue ser uma força da natureza dentro do pop.
O primeiro single, This Hell diverte e cativa, enquanto a faixa-título, Hold The Girl, nos faz querer cantar junto de uma multidão imensa. Outro destaque é Forgiveness, que merecia ter sido trabalhada como single e definitivamente é uma das melhores canções do álbum.
Um erro cometido, talvez pela tentativa de tentar terminar com um clima mais otimista, foi colocar To Be Alive para encerrar o disco. Além de não ser uma boa música, ela é antecedida por Phantom, que tem força suficiente para “fechar as cortinas” com grandeza.
Ainda assim, com defeitos e concessões artísticas para conseguir se consolidar no cenário pop, Rina Sawayama entregou um dos melhores trabalhos do ano até agora. Mesmo não estando à altura de SAWAYAMA, Hold The Girl tem o seu valor e qualidade. Nele, a mistura de gêneros musicais é mais confusa, mas ainda assim demonstra a capacidade que a artista tem de ser eclética e versátil.
A espera pela elevação experimental de Rina, pelo jeito, continua. Entretanto, é possível apreciar essa manutenção do que já conhecíamos dela como uma espécie de projeto de cura, autoconhecimento e libertação de um talento único na música contemporânea.
Faixas de destaque: Send My Love To John, Forgiveness, This Hell.
Nota: 8/10.
Artista: Rina Sawayama
Álbum: Hold The Girl
Ano: 2022
Selo: Dirty Hit
Gênero: Pop, pop rock
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