
Já dizia Platão: “Se quer conhecer o homem, dê-lhe o poder”. No universo cinematográfico não é diferente; estamos cheios de exemplos de como o poder pode transformar até a melhor índole e corromper todos os que são subjugados por ele e, segundo a neurociência, o poder sobe à cabeça mesmo – e deixa sequelas.
Algumas pesquisas já revelaram que o poder é como uma droga que vicia e anestesia certas regiões do cérebro, causando um déficit de empatia: os poderosos se tornam mais produtivos e mais arrogantes. Até mesmo a mudança comportamental causada pelo poder tem nomes: Síndrome do Pequeno Poder e Síndrome de Hubris.
E não falamos apenas sobre chefes poderosos nos topos das empresas; quando falamos sobre poder, também falamos sobre mães narcisistas como nos filmes Preciosa (2009) e Cisne Negro (2010), onde
a relação entre mãe e filha é substituída pelo vínculo de egoísmo e frieza causado pela posição de
poder e de dominação que a primeira tem sobre a outra. Em Preciosa, Mary Lee Johnston
(interpretada por Mo'Nique), é uma mãe fisicamente agressiva e exploradora que oferece apenas
reclamações e ordens à filha, enquanto dividem um pequeno apartamento que é mantido com o
auxílio que Preciosa recebe do governo. Mary se beneficia da posição de matriarca – apesar de não
representar uma – para perpetuar o ciclo de abusos que sofreu em sua filha adolescente.
Já em Cisne Negro, Erica Sayers (Barbara Hershey) é mãe de Nina (Natalie Portman): uma jovem que vive limitada à superproteção
de sua mãe. Erica projeta na filha o desejo de ser bailarina e sua posição de mãe, que abdica da própria
vida para viver a da filha, impede o crescimento saudável de Nina. Da parte de Erica há sempre uma
relação proposital do tipo “mãe-bebê”, já que assumir que a filha é adulta e não precisa de proteção
é tirar a posição de poder e de controle sobre ela. Nas duas obras, a mãe assume a posição autoritária
de poder: é mais velha, experiente e persuasiva.
Em A Onda (2008), somos apresentados a outro tipo de poder: o poder que sentimos quando
pertencemos à um grupo. No longa, um professor explica um regime fascista instaurando um sistema
ditatorial. Sendo apresentados à autocracia, os alunos aprendem sobre o poder ilimitado de quem
está no topo – o que gera consequências cada vez mais violentas. O professor que antes era
subversivo, agora ganha mais admiração enquanto ridiculariza e expulsa os alunos que desrespeitam
as regras do novo sistema – e prolifera a sensação de poder e superioridade àqueles que ainda fazem
parte dele. A Onda expõe o perigoso poder invencível que sentimos ao fazer parte da multidão:
cedemos à instintos que, sozinhos, não cederíamos; e perdemos toda a responsabilidade e empatia
que nos detém.
Por fim, O Homem Sem Sombra (2000), nos traz o poder da impunidade. Afinal, como a justiça pode
punir o que não vê? O próprio trailer traz a pergunta: “O que você faria se soubesse que não pode ser
visto?” e, apesar de aparentemente essa condição só acontecer em um futuro muito, muito distante
(ou talvez não), o poder da invisibilidade ainda causa medo. Na obra, Sebastian Craine (Kevin Bacon)
é o líder de uma equipe que desenvolve a fórmula da invisibilidade. Tomado pela excitação com a
nova descoberta, ele decide testar em si mesmo e traz a combinação perigosa entre a sensação de
poder e a impunidade. Além de não ser visto pelas outras pessoas, Sebastian também não se vê no
espelho; o que torna tudo mais fácil quando você não precisa lidar consigo mesmo ou com sua própria
consciência. O longa nos deixa uma questão muito importante sobre poder: se ninguém pudesse ver
seu comportamento, você ainda se comportaria bem?
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