
(Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação)
Eu tinha decidido que a Desculpe o Transtorno de hoje seria sobre política, mas estou há algum tempo olhando para a tela do computador, me perguntando o quê dizer ou como dizer o que eu acho que devo falar. É provável que eu não encontre as melhores palavras e que este seja mais um daqueles meus textos que começam com um propósito e terminam de um jeito completamente diferente, mas tomara que ainda faça algum sentido.
No último domingo, dia 2 de outubro, tivemos o primeiro turno das disputas eleitorais de 2022 e, apesar da diferença de votos e do percentual alto de Lula vs. Bolsonaro, terminei o dia com uma sensação de derrota. Derrota porque mesmo depois de quatro anos de completo desmonte de pastas como trabalho, educação e meio ambiente, depois de dois anos de pandemia com quase 700 mil mortos, negacionismo da ciência, atraso de vacinas, entre tantas outras coisas, parece que algumas pessoas não entenderam nada.
E como você encontra forças para lidar com um segundo turno, para tentar dialogar com essas mesmas pessoas, tentar convencê-las a mudar de lado, se todo esse cenário não foi suficiente para abrir os olhos delas?
Eu, no meu estado máximo de compreensão, respeitei – com muitas ressalvas – quem se permitia cair no benefício da dúvida em relação ao atual presidente lá em 2018. Parecia “justo” que as pessoas quisessem arriscar, apesar de todo o histórico e campanha dele já apontarem que os resultados não tinham como ser bons. Contudo, quem segue apoiando Bolsonaro depois do desgoverno que ele montou no Brasil se mostra tão ignorante, mal caráter ou desonesto quanto ele.
Não existe a justificativa de que o Lula não dá mais, sendo que você passou oito anos durante o governo dele com comida na mesa, saúde e educação funcionando, coberturas vacinais em dia, o Brasil fora do mapa da fome, acesso a créditos, rotatividade no consumo, políticas públicas inclusivas, liberdade religiosa, entre tantas outras coisas. Não existe dizer que Lula roubou quando não há provas, quando nem a Justiça conseguiu concluir algo, porque foi, acima de tudo, corrompida por um juiz parcial e interesseiro. Não existe acreditar que o Brasil vai virar a Venezuela, sendo que de 2018 para cá estivemos mais perto disso do que em qualquer governo petista.
Mas, contra fatos não há argumentos, e por isso os bolsonaristas apelam. Apelam para a difamação, para a humilhação e para a violência. Apelam ao comodismo, ao conformismo e a falsa sensação de que pertencem a outra classe senão a classe média baixa desse país. Bolsonaro é corrupto, (falso) moralista, falso cristão e violento. É machista, racista e homofóbico. E é por isso que as pessoas apoiam ele. Não querem alguém que seja um bom gestor ou uma boa pessoa, querem alguém que valide seus preconceitos e suas crenças, ainda que sejam deturpadas.
Eu cresci em um ambiente cristão, em que a premissa básica da vinda de Jesus era espalhar o Amor. Cresci em um lar que, mesmo com seus defeitos, ensinava o respeito e a compaixão ao próximo. Ainda que o preconceito encontrasse lugar para crescer em algumas pessoas, outras sempre me ensinaram que o diferente também era válido, incluindo a minha própria existência.
Esse é o cristianismo que eu conheço.
Quando me deparei com o ódio e com a discriminação, me afastei. Não à toa estou longe da instituição Igreja há mais de 10 anos. E, ao contrário do que possa parecer, minha relação com Deus e a espiritualidade melhora a cada dia, porque eu entendi que se o Amor é a resposta, pouco importa o lugar onde eu esteja. É por isso que é tão inconcebível para mim encontrar parte daqueles que se dizem cristãos defendendo o indefensável. A que Cristo é esse que vocês servem? Ou, como perguntaria Soraya Thronicke: vocês não têm medo de ir para o inferno não?
Todos esses devaneios são para dizer que, ainda que eu não saiba como encontrar forças para seguir na luta até o dia 30 de outubro, eu tenho uma fé profunda na mudança. Mesmo sendo engolida pela sensação de que falhamos, diariamente, enquanto sociedade, quando 50 milhões de pessoas esquecem das vidas perdidas e dos brasileiros com fome em prol de sustentar um miliciano preconceituoso no poder. Acho que essa sina de não desistir é coisa de quem luta junto, de quem preza pela coletividade, porque o tropeço de um é o braço estendido de outro, que não deixa ninguém cair, que “não solta a mão de ninguém”.
Eu sei que esse texto, provavelmente, não vai tocar o coração ou mudar a cabeça de ninguém que esteja convicto de seus próprios – e distorcidos – ideais, mas ao menos ele serve de desabafo para, finalmente, colocar em palavras os sentimentos que estão engasgados desde o último domingo. Não só estes sentimentos, mas também toda a vontade reprimida de xingar pessoas próximas que sei que votam no inominável por toda indignação de não compreender porque elas escolhem permanecer nessa ignorância ou reféns do triste e estúpido ego de “não votar no Lula”.
Os governos petistas foram os governos da oportunidade. De viagem internacional e compra em dólar ao acesso às universidades públicas, incluindo os intercâmbios. Mesmo com todos os escândalos ao redor do Lula, não dá para dizer que o homem não soube governar. Ele, literalmente, transformou vidas. Quem não percebe isso só tem duas opções: ou nunca precisou ter consciência de classe porque foi favorecido toda a vida ou tem raiva dessa abertura porque viu o pobre ascender de vida. Independente da resposta, isso só prova que o problema nunca foi o Lula.
E, bom, é isto. A caminhada é longa, mas fé que o resultado vai ser de esperança! Sabendo que não será fácil, por conta da composição conservadora que se criou no Congresso Nacional, mas com a certeza de que será mais leve. Dia 30 é 13!
Ah, e como faz tempo que eu não indico nada por aqui, convido todo mundo a assistir (ou reassistir) Enola Holmes, na Netflix, com sua frase perspicaz, pontual e necessária relembrando que só não se importa em mudar a política quem não precisa dessa mudança, pois o sistema já o favorece. Não posso me dar esse privilégio e, portanto, seguimos.
Até a semana que vem!
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