Foto: Beth Garrabrant/Taylor Swift
Dizem que após uma pessoa atingir o topo, a única direção a qual ela pode ir é para baixo. Esse não é o caso de Taylor Swift.
O décimo álbum de estúdio da cantora, Midnights, chegou como um verdadeiro tsunami, provando que a sua força dentro da indústria está longe de mudar. Entretanto, o mais interessante nesse novo trabalho não é a quantidade de paradas musicais que ela consegue atingir. Ou quantos milhões de streams ela tem em um final de semana no Spotify.
Mas o que ele representa para a sua carreira e como ele reconstrói a sua jornada até aqui. O disco foi anunciado como o conjunto de 13 faixas que refletiam 13 meias-noites conturbadas da vida de Taylor. Pouco se sabia sobre a sonoridade que essas canções teriam antes do seu lançamento.
Imagem: Capa do Midnights (3am edition)/Taylor Swift/Republic Records
O material de divulgação parece ter sido propositalmente construído a fim de confundir qualquer um que tentasse adivinhar qual seria o gênero musical predominante em Midnights.
Afinal, apesar de Taylor ser uma artista pop no sentido mais estrito da palavra, ela já passeou por diversos gêneros musicais e inclusive iniciou sua carreira no country. Com seus lançamentos anteriores, Folklore e Evermore, ela fez canções de folk, folk rock e country rock. Ambos já traziam uma Taylor muito mais próxima do começo da sua ascensão, já que todos os estilos citados estão adjacentes ou próximos das suas origens de alguma maneira.
Contudo, chega um momento na vida de todo artista em que ele precisa retornar. Não no sentido mais literal da coisa, quando nos referimos ao famigerado comeback, o retorno aos holofotes depois de uma pausa na carreira. Mas àquele retorno de sonoridade. Uma espécie de reprodução do que já deu certo no passado.
Um exemplo disso é Lust for Life, de Lana Del Rey, que emulava características do seu primeiro e mais bem sucedido comercialmente trabalho, Born To Die. Outro caso parecido é o Chromatica de Lady Gaga, que depois de passar um tempo distante das suas raízes eletrônicas, voltou com uma parceria com o DJ e produtor Bloodpop.
Midnights está no mesmo campo que todos os citados anteriormente. A diferença mora justamente no fato de ele ser consciente do que representa: uma volta ao que sua autora fez nos seus trabalhos mais pop.
Embora conte com parcerias inéditas como a atriz Zoë Kravitz e Sounwave (produtor de clássicos contemporâneos do rap como DAMN e To Pimp a Butterfly), a base do álbum é construída por uma dupla já familiarizada consigo mesma, Taylor Swift e Jack Antonoff. O segundo também é o nome por trás de queridinhos da crítica como Melodrama, de Lorde, e Norman Fucking Rockwell!, de Lana Del Rey. Mas nunca tinha trabalhado em um álbum completo daquela que ele mesmo considera ser a primeira pessoa a acreditar nele como produtor.
É compreensível que a exaustão sonora dos sintetizadores saídos de um estúdio dos anos 80, refrões expansivos, reverbs e vocais abafados - figurinhas repetidas nas produções dele - estejam afetando a experiência de quem seja fã das cantoras que não largam mais Jack Antonoff.
A questão é que, querendo ou não, parte desses elementos se tornou base do pop feito por Taylor Swift. Talvez por estar mais à vontade em um território minimalista e acústico, a visão dela do que é música pop seja limitada. O resultado disso são álbuns do gênero que conversam entre si e, por vezes, têm canções muito semelhantes (mesmo pertencendo a fases diferentes de sua carreira).
Antonoff já provou sua versatilidade até mesmo dentro da discografia de Swift. Ele é o mesmo produtor de canções como August e Look What You Made Me Do, que representam lados opostos do “espectro Taylor” de composição musical. Fora do catálogo dela, a variabilidade é ainda maior.
A razão pela qual Midnights soa como o pop retrô de 1989 com as batidas mais “pesadas” de Reputation é ela: a pessoa cujo nome estampa a capa destes discos. Mas é inegável que aqui, o som é mais maduro, polido e sombrio.
Mesmo nas vezes em que ele lembra o álbum mais bagunçado e de baixa qualidade de sua compositora, Lover, Midnights se sobressai. A faixa de abertura, Lavender Haze, e o single Bejeweled são provas disso.
Mas é quando Taylor se esforça para trazer de volta o que vimos na sua estreia no pop que ela brilha. O lead single Anti Hero - o melhor dela em anos - se consagra como uma vitória em meio a tantos outros que ganharam esse privilégio e não mereciam ser o pontapé inicial de uma era. A canção combina os sintetizadores tão queridos de Antonoff com o liricismo confessional que Swift vem adotando nos últimos anos ao falar de seus traumas e problemas psicológicos.
Quando Midnights faz um callback para o Reputation, ele entrega entretenimento de qualidade. Maroon (uma versão crescida de King Of My Heart), Karma (a irmã de outro momento divertido, mas questionável da composição de Taylor, This Is Why We Can’t Have Nice Things) e Vigilante Shit (prima distante de Ready For it…?) são um ressurgimento dos temas de vingança e “volta por cima” que vimos em lá em 2017.
Até nos fãs da sua versão mais intimista e “folclórica” a cantora pensou: You’re On Your Own, Kid se encaixaria perfeitamente em Evermore e Labyrinth é o resultado de uma mixagem pop de Epiphany, décima terceira música de Folklore. Snow On The Beach (feat. Lana Del Rey), por sua vez, poderia estar na lista de melhores parcerias de Taylor, se ela não fosse um projeto de fake news. Lana não pode sequer ser considerada backing vocal, já que tudo que faz na canção é sussurrar uma frase de modo que mal ouvimos a sua voz.
Para além da produção e do instrumental, Midnights também é um retorno temático. Não é à toa que os “swifties” (como se autointitulam os fãs da cantora) estão até o presente momento associando trechos das canções a momentos da carreira, da história e da vida amorosa de Taylor. Se em Folklore, a intenção era criar histórias e personagens fictícios, aqui as portas do passado são escancaradas para uma reflexão sobre o que aconteceu ou o que poderia ter acontecido. Uma espécie de grande “e se” musical distribuído em 13 faixas.
Este é um álbum que conseguiria ser descrito como mais do mesmo ou repetitivo se não fosse brilhantemente construído e produzido para representar uma colcha de retalhos do que há de mais interessante em Swift. No fim, ele é um passeio e uma evolução do que já foi apresentado, mas que acabou de ser inegável e inexoravelmente aprimorado.
Faixas de Destaque: Anti Hero, Maroon e You’re On Your Own, Kid.
Nota: 8/10.
Artista: Taylor Swift
Álbum: Midnights
Ano: 2022
Selo: Republic Records
Gênero: Pop
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Compartilha sua opinião! ♥