RESENHA LITERÁRIA: Os Dois Morrem no Final

(Foto: Adan Cavalcante)


Mas não importa quais decisões nós tomarmos - sozinhos ou juntos -, nosso final continua sendo o mesmo. Não importa quantas vezes olharmos para os dois lados antes de atravessar. Não importa se não formos pular de paraquedas só por medo, embora isso signifique que nunca vou voar como meus super-heróis preferidos. Não importa se vamos abaixar a cabeça ao passarmos por uma gangue em um bairro perigoso. Não importa como escolhemos viver, nós dois morremos no final.

Quando a gente é adolescente, a vida e a morte pode ser uma linha muito reflexiva diante de nossos olhos. Independente do que ocorra em sua existência, são coisas que você convive e pelo menos pra mim, foi uma época em que eu travava uma batalha ininterrupta sobre até quando eu iria estar aqui. Vivia na linha de viver o hoje sem pensar no amanhã e ser cauteloso o bastante pra não quebrar nada. Era limítrofe em todos os desejos e anseios que permeava minha tão curta existência.


Ao começar o terceiro livro do Adam Silvera, você já sabe em que terreno de areia movediça estará pisando. Com um titulo que entrega sua conclusão, ‘Os Dois Morrem no Final’ consegue manter o leitor preso, independente do spoiler estampado na capa. Ao trazer uma história de amor, amizade, aventura e auto conhecimento, Silvera aborda medos primordiais da natureza humana, tal qual a morte.


Em um mundo paralelo onde existe a Central da Morte, uma companhia que avisa quando você vai morrer, dois jovens tem suas vidas cruzadas com essa notícia arrasadora. Mateo é um jovem que não viveu muito e convive com a ausência do seu pai que está em coma no hospital. Rufus é um órfão que em meio a uma briga com o atual namorado da sua ex, recebe a tão assustadora ligação. Ambos, em um período de 24hrs, encontrara o seu fim, cabe a eles decidirem como serão seus últimos momentos de vida.


Completamente diferentes, Mateo e Rufus se encontram em um app chamado O Último Amigo, e mesmo com toda prudência do primeiro, eles decidem sair pelo mundo afora juntos, tentando aproveitar o que ainda lhe resta de tempo. Enquanto Mateo é temeroso de o que estar por vir, sempre precavido e buscando ao máximo estender sua vida. Rufus é o contrário, por já ter lidado com a morte, ele enxerga toda a situação com certo cinismo. Nas últimas horas ele viu sua vida desabar novamente, e sem conseguir se despedir propriamente seus amigos, fugiu da policial. 


Antes de ir, Mateo tem uma lista de coisas que precisa realizar. Uma delas é se despedir de seu pai. Rufus atende esse desejo e juntos vão ao hospital. É interessante como o autor busca deixar sempre a mostra as cores de cada um, suas índoles e suas características mais marcantes. Eles não tem tempo de trabalho de tela, é uma história com inicio, meio e o fim está próximo.  A cada situação, ambos vão se encantando um pelo o outro, um certo nível de respeito e mesmo com pouco tempo, a gente vê a construção de algo que tinha tudo para ser lindo. Mas sabemos que o final feliz, para ser feliz, precisa do fim.


A cada nova despedida dos personagens, seja de pessoas, como o adeus ao pai ou a melhor amiga de Mateo, ou aos lugares que vão visitar e as últimas experiências, é o aumento de desejo de que um milagre ocorra. Ao longo da história outros personagens são apresentados de forma que em algum momento, eles terão um papel interligado aqui. Seja a pessoa que ligou para dar a noticia, ou alguém que também recebeu ou até a criadora do app que os meninos usaram. É uma cidade onde tudo pode ocorrer e esses momentos fazem o coração aquecer. Essas pessoas estão vivendo o mesmo dia, alguns estão apenas seguindo em frente, outras estão finalizando seus minutos.


Dividido em quatro partes, a história de Os Dois Morrem No Final é rápida, consistente e tocante. Eu acabei em lágrimas, mas tendo consciência que independente do meu desejo de um milagre, seria covarde essa mudança. A vida é assim, e por mais que doa, acontece. Em um dia, esses garotos viveram mais do que muitos vão aproveitar em anos. Em certa parte, Mateo chega a divagar sobre como deixou de viver até que recebeu o alerta, se perguntando o quanto ele desperdiçou. E é sobre isto, sobre não deixar para depois o que pode ser feito agora. Sobre viver e não ter a vergonha de ser feliz (fui piegas e clichê, mas é a mais pura verdade). 


Devo dizer, que fiquei temeroso de chegar ao fim e eles não se declararem, mas quando ocorre é simplesmente mágico. Todo o trabalho de um dia e como apenas este dia pode mudar uma vida, ou nesse caso duas. Rufus e Mateo formam um casal que faria qualquer um ficar manteiga derretida, mas o pior é saber que tem validade e quando chega o momento, é extremamente doloroso. A primeira morte, quando você percebe o que tá acontecendo, eu pelo menos me torcei aquele telespectador "SAI DAI AGORA, CORRE VOCÊ CONSEGUE!". Ao sentir isso, soube que o Silvera tinha conseguido. Com um livro, em um dia, ele trouxe tudo pra formar um dos casais mais lindos da literatura. 


Finalizei a obra apaixonado pela escrita do Adam Silvera, desejando ter tido esse tipo de leitura na minha juventude, mas feliz por ver uma crescente literatura LGBTQ+ jovem, com história de esperança, que por mais que exista a dor da morte, não é por nenhum motivo que fere os direitos humanos, e sim a vida. 


[...] sobreviver me ensinou que é melhor estar vivo querendo estar morto do que estar morrendo e querer viver para sempre.

 

Nota: 10/10
Adan Cavalcante
Adan Cavalcante

Para saber mais sobre o/a autor/a, acesse a aba "Quem Somos".

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Compartilha sua opinião! ♥