
Acompanhando a onda de produções sobre investigação criminal na cultura pop, chegou no Globoplay o documentário com o jornalista Valmir Salaro que revisita a história do caos criado por uma falsa acusação de abuso infantil. Um dos casos mais notórios da história do jornalismo contou com uma série de erros da polícia e, principalmente, da imprensa. “Escola Base - Um Repórter Enfrenta o Passado” é a libertação que Valmir Salaro precisava após 28 anos engasgado com um erro. Junto com Salaro, o documentário expõe a culpa carregada por outras dezenas de profissionais que agiram de forma errada - e também as consequências drásticas que esses atos trouxeram à vida dos acusados.
O ano era 1994 e um repórter da Globo havia acabado de receber uma ligação de uma mãe desesperada que afirmava que seu filho havia sofrido abuso sexual em uma escola no bairro da Aclimação, em São Paulo. O repórter era Valmir Salaro, que imediatamente foi até a delegacia onde o caso estava sendo registrado. Ao saber que a criança havia sido encaminhada para o IML para perícia, Salaro esperou até o dia seguinte; e então, deu o furo de reportagem em um dos horários mais caros da televisão e decretou o começo do fim da vida dos envolvidos.
A partir daquele dia, durante uma semana inteira, o país ouviu, leu e consumiu os mais absurdos relatos sobre os crimes ocorridos na Escola Base. O que poucos sabiam é que, alguns dias antes, a denúncia já havia chegado à polícia e mobilizado buscas na escola e também em apartamentos, sem nenhuma prova concreta. O pequeno detalhe que aproxima 2022 de 1994 é simples: a histeria coletiva que não é freada pela imprensa e nem pela polícia. Ao perceberem a “não-ação” da polícia causada pela falta de provas, as mães que fizeram a denúncia resolveram expor o caso e criaram um verdadeiro circo midiático.
A fogueira ainda foi alimentada pelo delegado Edélcio de Lemos, que determinou a prisão de Icushiro Shimada e Maria Aparecida Shimada - donos da Escola Base - mesmo sem provas contra a dupla e exames do IML inconclusivos. Junto com o casal, outras quatro pessoas tiveram as vidas destruídas enquanto o sensacionalismo das reportagens alimentava a indignação social. O final, talvez, justifica a fama desse ser o maior crime da imprensa brasileira: todos os acusados eram inocentes.
O caso ainda é referência permanente de debate e análise nas faculdades de jornalismo pelo Brasil. Herdeiro direto do impeachment de Fernando Collor, o episódio surgiu em uma época em que o país estava saturado de notícias sobre política; um contexto próximo ao que vivemos nos últimos anos. Provavelmente essa seja mais uma semelhança entre 2022 e 1994: o terreno fértil de uma população que anseia por polêmicas. Com o julgamento social sendo mais influente do que um julgamento jurídico, a capacidade de moldar a visão da população para um fato mostra uma mídia ainda mais poderosa quando trabalha com meias-verdades.
O documentário exibe uma poderosa reflexão sobre as fake news e a fragilidade do processo de apuração das notícias da época. Apesar do jornalismo sempre contar com tragédias, os impactos dos erros podem ser maiores do que elas. O documentário também nos desperta uma dúvida: se os crimes fossem reais, seria justo usarmos o jornalismo como forma de justiça contra os culpados, provocando tanta destruição em suas vidas?
O ano de 1994 não contava com o poder que a internet tem hoje e, talvez, isso tenha minimizado os efeitos colaterais das denúncias falsas - ainda que tenham sido destruidores. Como questiona Paula, uma das donas da escola acusadas injustamente, “mas por que só agora?”.
O caso ainda é referência permanente de debate e análise nas faculdades de jornalismo pelo Brasil. Herdeiro direto do impeachment de Fernando Collor, o episódio surgiu em uma época em que o país estava saturado de notícias sobre política; um contexto próximo ao que vivemos nos últimos anos. Provavelmente essa seja mais uma semelhança entre 2022 e 1994: o terreno fértil de uma população que anseia por polêmicas. Com o julgamento social sendo mais influente do que um julgamento jurídico, a capacidade de moldar a visão da população para um fato mostra uma mídia ainda mais poderosa quando trabalha com meias-verdades.
O documentário exibe uma poderosa reflexão sobre as fake news e a fragilidade do processo de apuração das notícias da época. Apesar do jornalismo sempre contar com tragédias, os impactos dos erros podem ser maiores do que elas. O documentário também nos desperta uma dúvida: se os crimes fossem reais, seria justo usarmos o jornalismo como forma de justiça contra os culpados, provocando tanta destruição em suas vidas?
O ano de 1994 não contava com o poder que a internet tem hoje e, talvez, isso tenha minimizado os efeitos colaterais das denúncias falsas - ainda que tenham sido destruidores. Como questiona Paula, uma das donas da escola acusadas injustamente, “mas por que só agora?”.
Talvez o jornalismo brasileiro tenha se retratado tarde demais.
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