(Foto: Divulgação/Rosalía) |
Comparada à safra de álbuns musicais de outros anos, a de 2022 foi relativamente… Menos proveitosa. Isso não significa que trabalhos interessantes não foram lançados, mas que a quantidade de discos considerados excepcionais é menor. Principalmente, se levarmos em consideração lançamentos de anos como 2017 e 2020, que pareciam ter sido escolhidos para trazer ao mundo alguns dos melhores discos da história da música.
Na verdade, 2022 foi um ano marcado por artistas entregando sucessores inferiores a antecessores extraordinários. Kendrick Lamar saiu de DAMN (2017) para o pandêmico e morno Mr. Morale & The Big Steppers (2022). Rina Sawayama foi de um SAWAYAMA (2020) para o terapêutico e repetitivo Hold The Girl (2022). Harry Styles deixou o pop rock vibrante de Fine Line (2019) por um título com referência vazia e as músicas sem sal de Harry’s House (2022). Lizzo não manteve em Special (2022) o que entregou em Cuz I Love You (2019). E o Midnights (2022) de Taylor Swift, mesmo sendo um bom retorno ao pop e tendo uma proposta diferente de Folklore (2020), parece não ter nada de novo a dizer quando comparado a outros destaques da discografia da cantora.
Talvez, se essa fosse uma lista de álbuns que decepcionaram e não mantiveram o nível de seus “irmãos mais velhos”, ela seria maior. Confesso que esse foi o ano que mais voltei para discos amados de anos anteriores no lugar de aproveitar os lançados nele. E eu achando que 2022 me decepcionaria apenas na minha vida pessoal (risos). Foi difícil lembrar de mais de 5 nomes para trazer aqui e até alguns que foram mantidos no “corte final” não escaparam da maldição da queda de qualidade que parece ter assolado os artistas nos últimos 12 meses.
Então, sem mais delongas, vamos aos 5 melhores álbuns lançados em 2022:
5. Laurel Hell - Mitski
Eu sei, eu sei… Esse aqui merecia estar na lista feita acima de discos que são inferiores ao lançamento anterior dos seus autores. Mas a verdade é que mesmo não tendo o frescor e inovação de Be The Cowboy (2018), Laurel Hell ainda é um belíssimo trabalho.
Desde o seu primeiro single, a Mitski que já amamos e conhecemos está lá. Working For The Knife ressalta as frustrações de uma pessoa que sente estar trabalhando com algo que não a traz felicidade. Além de contar nostalgicamente sobre todas as outras coisas que sonhou em alcançar, mas não conseguiu.
Se o eu lírico dessa faixa é, de fato, um avatar de Mitski, é possível afirmar sem medo que mesmo não sendo tão sombria quanto outras favoritas da cantora, essa é uma das músicas mais tristes dela.
Imaginar o seu artista favorito desgostoso com o trabalho que te traz tanta felicidade é de partir o coração.
Outros destaques muito bem-vindos são Love Me More e The Only Heartbreaker, que brincam e flertam com o synth pop.
3 Melhores Faixas: Love Me More, Working for The Kife e That’s Our Lamp.
4. And In The Darkness, Hearts Aglow - Weyes Blood
Desde o dia que ouvi Titanic Rising (2019) pela primeira vez, pensei que a tarefa de superar tamanha maestria em forma de álbum seria quase impossível. E eu estava certa. And In The Darkness.. também não é melhor que aquele que o antecedeu.
Mas a verdade é que ele não precisa. Mesmo não trazendo nada de muito diferente para o catálogo de Weyes Blood, ele compõe bem a segunda parte da “trilogia” que ela afirmou ter começado com Titanic Rising.
A diferença é que neste, temos uma cantora ainda mais experimental, instrumental e etérea. Entretanto, tudo que amamos nela ainda está lá: a inspiração nas décadas de 1960 e 1970, a psicodelia, a voz deslumbrante e a sensação de estarmos ouvindo algo novo, velho, incômodo e calmo ao mesmo tempo.
3 Melhores Faixas: Hearts Aglow, Grapevine e It’s Not Just Me, It’s Everybody.
3. SOS - SZA
A partir daqui, já não dá mais para dizer que o artista não manteve o mesmo nível de qualidade do seu trabalho anterior. A dúvida que fica é se SOS é melhor ou não que Ctrl (2017).
Após uma espera de cinco anos, Solana (ou também SZA) finalmente entregou um novo álbum. E que álbum! Com 23 faixas que parecem competir entre si para saber qual é a melhor, esse é um disco que não mede esforços para surpreender.
Além de termos novamente um R&B de qualidade e temas que já apareciam em Ctrl como autoestima, solidão da mulher negra, decepções amorosas e problemas psicológicos, temos também uma SZA mais solta e livre para experimentar.
É o caso de F2F, um pop rock inesperado que deixa qualquer um querendo mais (inclusive, não reclamaria se ela decidisse lançar um álbum todo nesse gênero…) e de Nobody Gets Me uma balada pop nos moldes mais tradicionais que, de muito longe, parece ser uma versão madura, depressiva e mais velha de When I Look At You, de Miley Cyrus.
3 Melhores Faixas: Gone Girl, Kill Bill e F2F.
2. MOTOMAMI - Rosalía
O álbum do ano do Grammy Latino é um dos momentos que definiram 2022. Gostando ou não da experimentação da catalã, é impossível negar que ela (e seu álbum) estiveram por todo o lado este ano.
Além do sucesso, Rosalía também conseguiu lançar um trabalho mais interessante e complexo sonoramente do que El Mal Querer (2018), quebrando a maldição que parece ter atingido tantos artistas. Com uma nota 94 no agregador Metacritic, Motomami atualmente segura o título de álbum feminino mais bem avaliado da (por enquanto curta) década de 20.
Esse é o trabalho de uma artista que decidiu ir além em uma indústria que parece gostar de replicar a mesma fórmula para repetir sucessos de maneira segura. A mistura de gêneros musicais está aí para provar isso: tem flamenco, pop, reggaeton e até mesmo samba.
A sua estética, as suas músicas que geram um estranhamento inicial e a sensação de quebra de amarras transformam Motomami em um dos álbuns mais interessantes lançados nos últimos anos.
3 Melhores Faixas: SAOKO, DELIRIO DE GRANDEZA e LA COMBI VERSACE.
1. RENAISSANCE - Beyoncé
Quando, em 2020, artistas como Doja Cat e Dua Lipa transformaram a música disco em tendência novamente, a única coisa que se passava pela minha cabeça era:
“Queria que a Beyoncé entrasse na onda”. E ela entrou. Com uns dois anos de atraso, mas entrou.
Desde Blow, lançada no BEYONCÉ (2013), já era possível imaginar o quanto ela se daria bem no gênero. Entretanto, a “Queen B” nunca faz algo por fazer. Seus últimos trabalhos parecem mais estudos, marcos culturais em formato musical do que apenas álbuns.
Então, era de se esperar que ela jamais lançaria um disco apenas por lançar. E é exatamente o que vemos com RENAISSANCE. Ela foi no cerne das referências, na origem preta e esquecida dos gêneros musicais mais amados das pistas de dança e trouxe um álbum que é muito mais ballroom do que apenas disco.
Falar sobre RENAISSANCE é chover no molhado. Não somente por já tê-lo resenhado, mas porque à essa altura, ele já se consagrou como um dos momentos/discos mais importantes da história da música e da cultura pop.
3 Melhores Faixas: ALIEN SUPERSTAR, HEATED e PURE/HONEY.
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