Diamantes são os melhores amigos de uma garota?

(Foto: Divulgação)

Gosto muito da figura Marilyn Monroe. Gosto mais ainda das milhares de pessoas que, ainda hoje, tentam decifrar o enigma sem tamanho que é a atriz. Há incontáveis filmes, séries documentais e livros destinados à análise da vida (e morte) de Monroe. Do ensaio sensual que rendeu à Playboy uma de suas capas mais famosas à polêmica vida pessoal da atriz, tudo em torno de Marilyn tem ar fantástico, como uma fábula bem estruturada em que não sabemos a diferença entre real e fantasia.

Contribui para a construção dessa figura, o musical Os Homens Preferem as Loiras (1953), um dos responsáveis por sagrar a atriz como alguém tão sedutor quanto Lorelei Lee, a protagonista interpretada por Monroe. Ainda que o filme seja um retrato bem-humorado de algo que realmente acontecia nos cabarés da época (e verse, ainda, sobre lealdade, companheirismo e a amizade de duas mulheres completamente diferentes, mas igualmente interessantes), a história se destaca pela ambição de Lee em conseguir o que há de mais promissor para uma mulher que vive sozinha em um mundo capitalista: o dinheiro.

Em uma hora e meia, o filme conta a história do noivado da showgirl Lorelei Lee (Marilyn Monroe) e do milionário Gus Esmond (Tommy Noonan). A ideia é que ambos se casem na França, mas como o pai de Gus não aprova o relacionamento com a dançarina, Lee viaja sem o noivo, contando apenas com a companhia de sua colega de show Dorothy Shaw (Jane Russell). Junto delas, ainda que as jovens não saibam, embarca um detetive contratado pelo pai de Gus para provar que Lorelei não é digna de tanta dedicação.

Sem contar com a presença do detetive, Lorelei se envolve em problemas, devido à paixão desmedida que nutre por diamantes. Por isso, a ela (e, por consequência, a Monroe) ficam restritos os estereótipos de mulher fútil, superficial e interesseira. Afora o título de loira burra que Monroe, particularmente, tanto se esforçou para provar não fazer jus a ela.

E, embora o clímax da história aconteça quando Gus deixa Lee e Shaw sem um tostão, na França, o ponto alto do filme acontece depois, na icônica apresentação em que Lorelei, com a voz mais sedosa do mundo, diz que os diamantes são os melhores amigos de uma garota.

Antes (e mais tarde também), Lorelei até explica seu ponto de vista. E, desde que assisti ao filme, tenho me perguntado se os diamantes realmente são os melhores amigos de uma garota. Quanto mais quero me distanciar de uma resposta luxuosamente positiva, mais me aproximo dela. Afinal, quem, em sã consciência, não gostaria de ter um (senão muitos) sinônimo de estabilidade na vida? E qual a melhor maneira de atingir tal estabilidade em um mundo violentamente voltado ao capital como o nosso?

Para Lorelei, o segredo está em encontrar o meio-termo entre o material e o social. Não basta fisgar um milionário. É necessário achar um milionário que a valorize, que vá mais fundo; além da loira que, ao ser feita de chacota por sua ignorância, aprendeu a fazer disso um subterfúgio para o encantamento de pessoas que insistem em se enganar com palavras doces e elogios evidentemente falaciosos.

É por isso que Os Homens Preferem as Loiras não se trata necessariamente de um filme sobre interesse, mas sim sobre o que Madonna, trinta anos mais tarde, tão bem traduziu. É um filme sobre pessoas que vivem em um mundo materialista e não fingem que estão interessadas em muito mais do que isso. Afinal, qual o problema em ser verdadeiro no nosso mundo?

Nota 10/10

Onde assistir? Star+
Carol Cassoli
Carol Cassoli

Para saber mais sobre o/a autor/a, acesse a aba "Quem Somos".

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Compartilha sua opinião! ♥