(Foto: Divulgação)
De qualquer maneira, no entanto, não é possível negar que a comoção geral sempre se volta ao mar. É que a destruição do natural é, de alguma forma, mais chocante que a banalização social. Pelo menos com nossas paisagens nos preocupamos. Talvez, quem sabe, chamar atenção para a destruição de algo maior que nós seja uma forma de chamar, também, atenção para nossa própria destruição diária.
Produzido ano passado pela Tríade Prod. (em parceria com os canais Futura e Co.liga), o documentário Tudo que é Sólido Desmancha no Mar trata sobre a Barreira de Cabo Branco, um dos mais representativos cartões postais da cidade que hoje sofre com a erosão do solo após incontáveis intervenções humanas (todas elas segundo decisões que ignoraram estudos ambientais e a opinião da própria população). Ele está disponível desde o último dia 17 e está mostrando ao Brasil a face menos glamourosa de uma das regiões litorâneas mais bonitas do país.
Voltado ao avanço do nível do mar (que, como entidade natural, respeita e a natureza e não o caráter urbano da região) na capital, o filme debate intervenções humanas como o alargamento da faixa de areia nos mares urbanos. “É conseguir atuar para chamar atenção para as soluções cientificamente viáveis, apontadas por diversos especialistas, mas quase sempre ignoradas e é também de fazer um registro histórico e afetivo, contribuindo com a memória da cidade”, comentou Kaio Gonçalves, um dos diretores do curta-metragem.
De destruição em destruição, mais uma se anuncia na capital mesmo com o debate tão recente do tema. Desta vez, sem longo prazo para escondê-la - como tem acontecido com a barreira de Cabo Branco - ou sussurros negociados na calada da noite. Pelo contrário, escancarado, o alargamento da faixa de areia das praias urbanas de João Pessoa grita para todos que passam que ali acontece o nefasto projeto de ‘desinfraestrutura’ para especulação imobiliária; sem vergonha de ser o que é: terrível.
Baseado em diferentes justificativas estruturais, dentre elas a chegada do nível do mar em condomínios residenciais, o projeto visa aumentar a faixa de areia de João Pessoa e, embora, mais uma vez, a comoção geral se volte ao mar, a força de nossa caneta é menor que a força da caneta deles. Por isso, hoje, entristecida pelo desmonte anunciado que temos vivido na capital da Paraíba, além da recomendação de Tudo que é Sólido Desmancha no Mar, trago um pedido: que os leitores do Clubinho se comovam tanto quanto nós.
Na última sexta-feira (24), o movimento Minha Jampa lançou o abaixo-assinado digital ‘Alargamento Não’, contra as obras que custarão em torno de R$ 200 milhões e, de quebra, podem trazer tubarões e outros animais marítimos para o nosso convívio - assim como aconteceu em Balneário Camboriú, depois que o mesmo projeto foi executado por lá.
Desde o lançamento do manifesto digital, dezenas de milhares de pessoas já assinaram o documento, mas a verdade é que sempre dá para chegar em mais alguém. Nunca é o suficiente quando tratamos da ganância humana. Até porque João Pessoa tem quase 1 milhão de habitantes… convenhamos!
É contra mais essa degradação ambiental, portanto, que esse texto passa a existir. Como uma tentativa de que mais alguém tome consciência das consequências que esse e tantos outros projetos de impacto socioambiental têm.
Imagino que essa verborragia toda não seja o suficiente, no entanto. Recomendo, então, a breve sessão de Tudo que é Sólido Desmancha no Mar, seguida da assinatura do abaixo-assinado do Minha Jampa.
Duração: 14 minutos
Onde assistir: Futura Play/ Globoplay.
caramba, carol! acho que o teu texto vem em tão boa hora. não só pelo fato de trazer a urgência do debate desses temas. parece que vivemos um momento em que a discussão da gentrificação das cidades tá em foco novamente. justamente porque as consequências de tudo o que se faz nesse sentido (como o pessoal fala de um jeito muito didático no documentário), como o alargamento da faixa de areia em praias urbanas, ou também o que a tragédia no litoral de sp expôs, são graves e resultados de projetos baseados em justificativas muito relativizadas. coisas muito complexas e que a gente deveria tá tentando entender o tempo todo. obrigada por escrever dessa forma!
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