EM CARTAZ: Os Fabelmans



(Imagem: Divulgação/Universal Pictures)

É no comecinho do ano que chega a temporada do Oscar, tão aguardada pelos amantes do cinema ao redor do mundo. Junto com ela, aparecem filmes “programados” para saírem justamente nesse período. São os famosos Oscar baits. Uma produção cujo intuito é apelar o máximo possível aos votantes da Academia, buscando os diversos prêmios da noite. E existem alguns artifícios para tal. Em 2023 isso não seria diferente. Citando um exemplo: Babilônia do Damien Chazelle. Algumas vezes dá certo e em outras, não. É um estereótipo que deixa uma pulga atrás da orelha em parte do público. Os Fabelmans tinha de tudo para ser apenas mais um desses, mas é sabendo disso que o Steven Spielberg brinca com a audiência, subvertendo as expectativas e entregando algo único e difícil de ser rotulado.

O longa acompanha por vários anos a vida da família Fabelmans, focando especialmente no Sammy Fabelman (Gabriel LaBelle). Ele tem uma paixão por cinema, despertada magicamente depois que visitou um pela primeira vez. O garoto se fascina a tal ponto que sonha com aquilo e logo põe em prática a abundância de ideias geradas a partir do que presenciou. Com o desejo de se tornar um cineasta, Sammy vai crescendo e aprende que nem tudo acontece como o planejado, e os obstáculos não param de aparecer.

A direção é do aclamado Steven Spielberg. Aqui, ele esbanja todo o repertório adquirido durante a extensa carreira. Fica a impressão de que este trabalho é especial e tem motivo para isso, afinal, trata-se de uma semi autobiografia. Os Fabelmans poderia tranquilamente ser renomeado para Os Spielbergs. Obviamente, tem muito do diretor nela. É perceptível casos de memórias afetivas em algumas sequências. Pequenas interações familiares, momentos compartilhados e experiências marcantes retratados sob um olhar carinhoso. E essa visão é intensificada pelo magistral trabalho de câmera. Só com simples movimentos, sem uma única frase dita em cena, conseguimos sentir o peso do drama e também dar gargalhadas depois de uma comédia inesperada, transitando facilmente entre os gêneros.


(Imagem: Divulgação/Universal Pictures)

Spielberg entende o poder do cinema porque ele próprio o presenciou e ainda hoje utiliza do conhecimento na causa para transmiti-lo a outras pessoas. E por escolher contar algo tão intimista, era necessário se cercar de atores competentes. Além do protagonista, a família inteira merece destaque. A mãe, Mitzi (Michelle Williams), é uma personagem multifacetada, capaz de gerar sentimentos variados no público. As irmãs Reggie (Julia Butters) e Natalie (Keeley Karsten) participam de momentos cômicos, sendo as primeiras auxiliares não remunaredas do irmão cineasta, ao mesmo tempo em que entregam uma forte carga dramática quando solicitadas. Enquanto o pai, Burt (Paul Dano), é o mais tímido da casa, mas tem importante papel para a dinâmica do enredo.

Pode soar narcisista de início, já que é um filme falando, em partes, dele próprio. Porém, o diretor não coloca a si mesmo e nem os familiares em um pedestal, sendo inclusive corajoso ao tocar em temas sensíveis. Tirando algumas particularidades, é uma história mundana que pode acontecer com vários de nós. Mudanças constantes de casa, traumas familiares, bullying, crises em casamentos... Circunstâncias comuns do cotidiano. Essa capacidade de nos relacionarmos é um dos maiores trunfos do longa. As duas horas e meia de duração? Elas passam despercebidas. Os Fabelmans é divertido, emocionante, aventuresco, elucidativo e nos deixa com um gostinho de quero mais. Aliás, até caberia uma sequência, não é?

Nota: 10/10


Micael Menezes
Micael Menezes

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