The Menu: quando a perfeição e o equívoco são dois lados de uma mesma moeda


(Foto: Divulgação/Star+)

Quem acompanha o Clubinho há algum tempo, sabe que eu sou do time das adms que não consome filmes de terror. Mas, isso é algo que tem sutilmente mudado. No último final de semana, decidi assistir O Menu – que está mais para suspense do que para terror, mas isso não muda a classificação dele ali, né? – e ele me surpreendeu.

A história de O Menu começa com Margot (Anya Taylor-Joy) e Tyler (Nicholas Hoult) indo para uma experiência gastronômica de alto nível em uma ilha, com outros convidados riquíssimos, para provar o menu exclusivo do chef Julian Slowik (Ralph Fiennes). O que parecia ser um jantar diferente, mas agradável, se torna um pesadelo para todos os envolvidos, entre convidados e funcionários.

Acredito que o filme tem uma mensagem bem clara, porém, ele também abre margens para interpretações diferentes do desfecho e das motivações, a depender do viés que você opte por enxergar. De fato, é uma obra que tenta trazer um debate sobre elitismo, sobre uma indústria de manutenção do classicismo na sociedade e, até mesmo, uma crítica ao capitalismo (por que não, né?). Se quando o longa começa, a gente não faz ideia do que vem por aí… Quando ele termina, nós entendemos tudo.

Apesar do uso da culinária e da indústria gastronômica para exemplificar a mensagem, O Menu também poderia ser facilmente adaptado para falar sobre a indústria do cinema. Ou, na verdade, qualquer outra indústria da arte com tais “personagens” tão definidos.

Julian pode ser um diretor que se rendeu aos vislumbres do luxo e do dinheiro, se vendendo a uma produção obsessiva e minuciosa, técnica, mas nada apaixonada, transformando sua obra em algo apenas rentável. Lilian Bloom (Janet McTeer), a crítica, teria o mesmo papel quando se trata do cinema, podendo alavancar ou afundar carreiras apenas com suas palavras;

Tyler é um cinéfilo, com tamanha soberba que o faz achar que sabe mais do que todo mundo, quando na prática não entende nada do que tanto consome. É vazio. Existe o ator que se vendeu a fazer qualquer produção que lhe dê lucro, sem necessariamente acreditar naquilo que faz ou mesmo gostar. Assim como temos os produtores que buscam apenas status dentro desse universo, cedendo a práticas corruptas para próprio bel prazer e, por fim, aqueles consumidores que não prestam atenção ao que consomem, mas o fazem apenas para não ficar de fora do hype.

E a Margot, nisso tudo, é alguém que não deveria estar ali. É alguém atenta, apaixonada, que não fecha os olhos para o que não lhe agrada e que não engole um vazio luxuoso, preferindo o famoso básico que funciona, que foi feito com amor e dedicação.

No fim das contas, é justamente prestar atenção ao que faz pulsar o coração do outro que a salva.

Julian era mais feliz fazendo hambúrgueres, vivendo de uma simplicidade que ele não havia se dado conta de como era importante. Por ser talentoso, ganhou fama, principalmente através das palavras de Bloom. Com a fama, veio uma clientela que frequentava o seu restaurante, porque isso era sinônimo de status. Não era um lugar para qualquer pessoa, então aqueles que podiam pagar, esbanjavam. Só que comer não é degustar. E alguns nem se davam conta do privilégio que tinham, não saboreavam a comida, enquanto ele foi perdendo o amor pelo cozinhar.

Uma atenção e um x-burguer foram responsáveis por devolver a Julian, ainda que por um curto período de tempo, a paixão pelo que fazia – enquanto, para outra pessoa, foi o bote salva-vidas que ela sabia que precisava.

Como eu disse mais ali em cima, é um filme que tem uma mensagem clara, mas que também é passível de outras interpretações. E esse é um de seus trunfos, porém, é claro que ele tem outros méritos. As atuações de Anya Taylor-Joy e Ralph Fiennes, principalmente. Os dois encontram uma conexão ímpar em cena, com suas histórias e personagens, e mesmo estando em lados opostos da trama, eles se entendem como mais nenhuma outra dupla em cena. Perto deles, aos outros sobram apenas os lugares de coadjuvantes, que não conseguem brilhar tanto quanto deveriam, mas também não deixam a desejar.

Se no filme o Hawthorne provavelmente teria cinco estrelas Michelin, na vida real, enquanto filme, pra mim ele conquista quatro – e isso é ótimo.

Onde assistir? Star+
Nota: 8.5/10
Beatriz de Alcântara
Beatriz de Alcântara

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