EM CARTAZ: Close


(Imagem: Divulgação/Lumière)

As conexões mais puras geralmente ocorrem enquanto somos crianças. Dificilmente é preciso sabermos informações de onde a outra pessoa vem ou coisas do tipo para se iniciar uma conversa. Basta simplesmente compartilharem um local por uns minutinhos e pronto, nasce a fagulha. Ao mesmo tempo, ter uma amizade que venha desde a infância, é raro. Alguém que cresce junto de você e experiencia circunstâncias similares por grande período de tempo, seja originalmente um vizinho, aluno da mesma turma, companheiro de um time que participe, etc. Diversos caminhos diferentes surgem ao envelhecermos, separando naturalmente quem um dia foram próximos. Quando adultos, desejamos voltar para algumas dessas boas lembranças, já sabendo que será impossível. O tempo passou.

Em Close, nos deparamos com o garoto Léo (Eden Dambrine), que tem o Rémi (Gustav De Waele) como melhor amigo. Eles não se desgrudam e fazem tudo juntos. Os pais se conhecem, facilitando o convívio por períodos prolongados. Praticamente vizinhos, por muitas vezes um janta na casa do outro e nem precisam se preocupar em voltar ao próprio lar para dormir. Porém, com o início das aulas e a necessidade de se enturmarem em uma nova escola, uma distância da qual eles não estavam acostumados é gerada, sendo necessário que ambos encontrem maneiras de lidar com isso.

O filme começa com um clima pacífico. Através das belíssimas paisagens, somos apresentados à rotina da dupla de amigos, convergindo com o cotidiano das famílias deles, levando uma vida pacata na Bélgica. Eles despertam as próprias imaginações com várias brincadeiras, longe de qualquer tipo de preocupação. Essa atmosfera vai mudando gradualmente para algo mais pesado. O que era muito particular dos dois, tem que ser expandido para contemplar os que estão ao redor. Certos olhares e questionamentos criam desconforto notáveis. Na adolescência, tudo é intenso. Atitudes despreocupadas, aliada com certos preconceitos enraizados, podem rapidamente ser transformados em bullying.


(Imagem: Divulgação/Lumière)

Porém, essa alteração no ambiente não ocorre de forma forçada. Os dias passam e os colegas de classe vão se conhecendo, derrubando as barreiras prévias deles. A exceção é o Rémi, que tem dificuldade em se adaptar. Para demonstrar os sentimentos conflitantes, o diretor Lukas Dhont propositadamente opta, em quase todas as ocasiões, por colocar a câmera com foco nos rostos dos personagens, principalmente no Léo. Até mesmo quando as crianças estão jogando futebol, a bola não nos é mostrada. Outro esporte praticado pelo protagonista é o hóquei no gelo e o mesmo artifício é utilizado, nem sinal do disco na tela, apenas os rostos, não importando que estejam cobertos por capacetes. É uma escolha clara, presente do início ao fim do longa, amplificando as emoções e tornando-as viscerais quando o roteiro assim pede.

As inúmeras transições vivenciadas a partir da infância moldam o que virá a ser o adulto, mas esse nunca será o produto final. Nessa fase, as influências boas e ruins ditam o comportamento do momento, afastando o que outrora parecia essencial. Por causa dos outros, escolhas que raramente seriam feitas, surgem sem que sejam percebidas. É isso que Close retrata. Em período de descobrimentos, é fácil se perder. E não é nada justo não ter tempo suficiente para se reencontrar.

Nota: 8/10
Micael Menezes
Micael Menezes

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