Agora, a mamãe do Pop decidiu estender essa terra do prazer com seu quinto álbum de estúdio, intitulado “That! Feels Good!”. As exclamações no título são propositais e, mesmo que a própria Jessie tenha confessado que pensava ter sido um erro de digitação ao salvar o arquivo no início, eu acredito que sirva muito bem ao conteúdo. São pausas para que a gente sinta êxtase em responder a pergunta do álbum anterior. Ou seja, se alguém te perguntar “Qual é o seu prazer?”, agora você pode responder “Isso! Está bom!”.
De certa forma, os dois projetos estão conectados. Os gêneros e a vibe são semelhantes e os efeitos esperados partem do mesmo pressuposto. Mas, será que o novo álbum pode ser considerado uma cópia do anterior? Será que o “That! Feels Good!” conseguiu o objetivo de fazer o público dançar, assim como desejava a artista? Acompanhe a resenha faixa-a-faixa, conclusão e avaliação a seguir para ver a minha resposta a estas perguntas. Espero que esteja com o ingresso em mãos para entrar comigo nessa experiência.
Faixa 1: “That! Feels Good!”
Começamos o álbum com a faixa título, “That! Feels Good!”, e já posso expressar o início da minha rendição ao prazer. Os sussurros no início de várias pessoas falando o título fizeram com que eu me sentisse em uma orgia, o que deve ter sido a intenção de Jessie. Reconheci algumas vozes famosas também, como a da Kylie Minogue (minha diva soberana) e da Roisín Murphy. Essa faixa é uma boa introdução ao material. A letra nos chama para entrar na história que ela quer contar, sem preconceitos e totalmente livres para aceitar o que quer que ela tenha a oferecer nas próximas faixas.
Faixa 2: “Free Yourself”
A segunda faixa é Free Yourself, que serviu como o primeiro single do álbum. A produção é agradável, os vocais da Jessie são ótimos (como sempre, válido ressaltar), mas senti que faltava algo para ficar no topo da minha mente. Acho que a repetição excessiva do refrão me incomoda, chega a ser enjoativa até, e não é tão memorável para mim. Porém, devo destacar que a letra e o ritmo agitado faz dela uma boa continuação da primeira faixa.
Faixa 3: “Pearls”
A terceira faixa é Pearls, o segundo single do álbum, e esse sim me chamou a atenção desde o primeiro segundo que ouvi. Falo com orgulho que estava ouvindo ao vivo na BBC 2 às 05:40h da manhã na primeira reprodução e não me arrependo. Somos transportados para a década de 60 com o instrumental e a melodia. A letra é sensual e dançante ao mesmo tempo, nos chamando para “balançar até as pérolas caírem”. Para mim, essa música destoa (mas só um pouco) do álbum anterior, o que eu considero uma boa coisa. A artista consegue transmitir sentimentos e ideias similares sem cair na mesmice.
Faixa 4: “Hello Love”
A quarta faixa é Hello Love e, de cara, já percebo uma desacelerada do ritmo frenético que o álbum teve até agora. A Jessie comentou no Instagram que a posição desta na tracklist serviu para dar uma pausa nos vocais potentes das duas músicas anteriores, para que o público não enjoasse já no início do material. Esse é, claramente, um tributo às músicas dos primeiros álbuns dela. Um R&B suave com uns toques de dance, para que se enquadrasse no propósito do álbum. Acho que a letra mais romântica e os vocais suaves me conquistaram tanto que virou uma das minhas preferidas. É uma música que combina com diversos momentos da sua vida.
Faixa 5: Begin Again
A quinta faixa se chama Begin Again e foi escolhida como o terceiro single do álbum. Eu lembro que, na primeira vez que ouvi, elogiei bastante o vocal poderoso da Jessie. Não foi uma música que gostei tanto imediatamente, e fiquei até pensativo sobre a escolha desta como single já que destoava bastante de Pearls. Porém, ouvindo novamente, eu mudei totalmente a minha opinião. Begin Again tem uma crescente bastante interessante, começando lenta, focando mais na voz, com o instrumental ocupando a carga dramática bem após. Analisando na tracklist, tem lógica: é uma transição entre a balada Hello Love e a volta à pista dançante que se segue nas faixas seguintes.

Faixa 6: Beautiful People
A sexta faixa é Beautiful People e a voz suave de Jessie nesta é um momento de respiro após os vocais poderosos de Begin Again. Na verdade, considero a faixa cinco, seis e sete uma tríade, já que elas se unem de alguma forma, seja pela letra, seja pelo instrumental. Percebi uma influência de Shake Your Body (Down to the Ground) do The Jacksons no refrão, principalmente na presença dos trompetes. Inclusive, fez toda a diferença para mim. Também é uma das minhas preferidas do álbum e me imaginei dançando numa balada com temática disco/dance.
Faixa 7: Freak Me Now
A sétima faixa é Freak Me Now e este será o próximo single do álbum, segundo a própria Jessie Ware. Eu vi muita gente elogiando e estava com muitas expectativas sobre a sonoridade e a música em geral. Confesso que essas expectativas não foram atingidas na minha experiência. Eu sei que muita gente vai discordar de mim, mas está tudo bem. Não é que a tenha achado uma música ruim, é só que… Ela não se destacou para mim, acho que faltou algo para que eu chegasse lá. Porém, devo realçar as partes com o Clarence Coffee Jr., um dos compositores do álbum, no megafone. Ele grita algumas frases improvisadas, como se estivesse chamando as pessoas para fazer várias loucuras na pista de dança e foi um adicional perfeito.
Faixa 8: Shake The Bottle
A faixa de número oito é Shake The Bottle e, se alguém me perguntasse qual música desse novo projeto mais se assemelha ao What’s Your Pleasure?, com certeza falaria essa. Esse pensamento me veio à cabeça, principalmente, porque enxerguei nuances de Ooh La La e Read My Lips no decorrer da música. A letra é sexy e chique, e parece fazer uma homenagem aos grandes hinos do dance-pop dos anos 80. O fato de ter uma citação de nomes me lembrou Mickey da Toni Basil. Shake The Bottle desacelera o ritmo das músicas anteriores: ela é suave, o instrumental é delicado, a voz da Jessie está super sensual e sussurrada.
Faixa 9: Lightning
Intitulada Lightning, a penúltima música aparenta ser a que mais destoa dentre todas do álbum. Voltamos ao R&B, marca registrada do início da carreira, mas, dessa vez, sem a presença forte de uma batida dance-pop. Ela segue uma energia mais lenta, é uma música que consigo enxergar a Mariah Carey cantando, e gostaria de ver esse cover. A letra é romântica, tem uma declaração meio sexy até, é bem agradável. Eu sei que é um detalhe pequeno, mas eu adoro fadeout, então gostei desse elemento no final.
Faixa 10: These Lips
A última música do álbum é These Lips e, se eu pudesse resumi-la em uma definição, diria “Disco Classic Instantâneo”. A influência de Donna Summer é clara – e eu amo absurdamente. A letra segue o padrão do álbum com um tom romântico e sexy, o instrumental é maravilhoso e percebi que These Lips carrega o que ela quis expressar no projeto como um todo. Ela representa o compasso agitado e, ao mesmo tempo, lento de todas as músicas, com uma letra sólida que mescla sensualidade, romantismo e liberdade.
É incrível como a Jessie Ware é uma artista completa. Ela sabe o que faz nas composições, no estilo e nos mínimos detalhes para que o projeto seja consistente, agradável e harmonioso. Dá para sentir como ela está orgulhosa desse novo projeto e como ela se divertiu fazendo. Além disso, conseguimos enxergar a autonomia que ela teve em seguir um estilo parecido ao do álbum anterior, mas com um ponto de vista diferenciado. No final, eu pude realmente dizer “Isso! Está bom!” sem vergonha, porque realmente eu quis escutar os 40 minutos do álbum em looping após a última faixa.
Respondendo a pergunta que fiz lá no começo, não tem como dizer que o That! Feels Good! e o What’s Your Pleasure? são iguais. Na minha percepção, o álbum mais recente é uma continuação do anterior, em que a artista estende o universo construído e traz novos estilos e interpretações para o mesmo gênero. Desde a ordem da tracklist até o conteúdo de cada uma das faixas, o que a Jessie Ware faz nesse novo projeto é destacar os melhores pontos dos gêneros disco/dance, com respeito e humildade para tratar as referências como bons artifícios a serem usados, e não comparados.
Esse é um projeto para ser degustado como o vinho mais fino, e eu vou ter zero problemas em prová-lo muitas e muitas vezes. Então, a partir de hoje, se alguém me perguntar “qual é o seu prazer?”, com certeza eu vou responder “o novo álbum da Jessie Ware, já ouviu ele?”.
Faixas de Destaque: Pearls, Hello Love e Beautiful People.
Nota: 9/10
Artista: Jessie Ware
Álbum: That! Feels Good!
Ano: 2023
Selo: PMR Records and EMI Records
Gênero: Disco, Dance-Pop e Pop
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