
(Foto: Reprodução/Guilherme Briggs)
“Ah, mas só tem dublado. Que m*rda!” ou “Que tosqueira a voz que colocaram nesse personagem, por isso não assisto filme dublado”. Esses e outros comentários são frequentes quando se trata de filmes dublados. Um trabalho que possui reconhecimento mundial em relação aos profissionais brasileiros da área, mas acaba sendo frequentemente diminuído por uma classe de ditos “cinefilos”.
É de grande frequência, inclusive já fui um deles (autocrítica), deixar de assistir um filme nos cinemas porque ele só tem cópias dubladas (uma crítica que engloba todo o mercado das empresas de cinema do Brasil, mas deixo isso para outra hora). Nos últimos tempos tenho me deixado relativizar mais certas escolhas, aproveitando obras fora do circuito legendado, seja por proximidade ou por questão de só ter ela em exibição.
Mesmo com a infância assistindo obras dubladas, ao crescer comecei a consumir mais e mais obras com áudio original, se tornando cada vez menos frequente as opções com o áudio com a versão nacional. Com raras exceções, principalmente animações, foi um costume adquirido. Em abril decidi ir a um cinema próximo de casa, por questão de localização e de ver como seria a dublagem de um filme que estava querendo assistir tem tempo. O filme em questão era ‘A Morte do Demônio - A Ascensão' e a dublagem estava viralizando nas redes sociais por críticas negativas a uma cena específica.
São vários comentários, mas, tirando o primor que a dublagem brasileira proporciona à obra, algo que deixou a experiência ainda mais interessante foi a inclusão do público com o filme. Ver os telespectadores de todas as idades interagindo com o filme, seja rindo ou gritando, as especulações, mas em nenhum momento, digo aos próximos de mim, criticando a dublagem.
E é disso que se trata a dublagem. Cultura é um direito de todos e para todos. A ida a um cinema cada dia mais se torna artigo de luxo, onde além da passagem de ônibus não ser a coisa mais barata nas capitais brasileiras, os ingressos chegam a ser o valor do preço de um quilo de carne. De acordo com a última pesquisa do IBGE, 5,6% da população com 15 anos ou mais possui analfabetismo. Além disso, o público infantil, idoso ou PCD, não pode ser excluído do acesso à cultura, mesmo internacional.
É muito fácil fazer tweet ou vídeo no TikTok/Instagram criticando, mas é algo que você consome para ter conhecimento do que se é abordado. Muitos estão em seus espaços, onde o elitismo busca anular o acesso ou não enxergam o que é feito para a inclusão de todos os povos.
No dia que fui assistir ‘Homem-Aranha: Através do Aranhaverso’, uma criança sentou atrás de mim com seu pai e irmão. A alegria da criança em estar naquele espaço, vendo seus heróis, comentando com seus familiares sobre quem era quem, explicando em tom baixo para o pai o que o vilão do filme era... São por momentos assim que a inclusão cultural funciona. O cinema é para todos. O primeiro passo a se dar é um espaço para que a sociedade tenha acesso. Além da dublagem, preços acessíveis são fundamentais e em locais que todos se sintam inclusos, onde o elitismo não predomine.
A dublagem brasileira é considerada a melhor dublagem do mundo, onde desde da década de 30 vem fazendo histórias com seus profissionais que marcaram e marcam nossas vidas, além de roteiros que adequam a história à nossa realidade. São várias as obras que ganham muito mais força no nosso país, do que em seu próprio. Tudo isso se deve a esses profissionais, que muitos podem não ter seus rostos reconhecidos, mas que são eternos pelas suas vozes.
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