
Enquanto o filme original é de 1989, o live-action estreou nos cinemas na semana passada. Com Halle Bailey no papel principal, a história acompanha Ariel, uma pequena sereia que sonha em vir para o mundo dos humanos, principalmente depois de conhecer o jovem Eric. No elenco, além da afilhada de Beyoncé, temos nomes como Javier Bardem (Being the Ricardos), Melissa McCarthy (Gilmore Girls), Awkwafina (Crazy Rich Asians) e Jonah Hauer-King (A Caminho de Casa). Na direção, o primeiro é assinado por John Musker e Ron Clements, e o segundo é de Rob Marshall, que também dirigiu Chicago, O Retorno de Mary Poppins e Into The Woods.
Vale começar dizendo que a adaptação, em relação ao roteiro e reconstrução de cenas, é muito fiel ao filme original, em animação. Para escrever essa resenha, me propus a reassistir o desenho animado da Disney, à título de comparação mesmo, e, basicamente, o filme inteiro parece estar no live-action, com exceção de uma cena ou outra que ficou de fora ou foi substituída.
A primeira coisa que me surpreendeu positivamente foram as cores. Pelos trailers, havia um grande risco da Disney ter esquecido como se usa a ferramenta de cor e saturação, porque tava tudo apagado e sem vida. Mas, isso não aconteceu. Temos cores, muitas cores, vivas e vibrantes, trazendo a alegria que o filme pede. As cenas do fundo do mar, principalmente na hora do hino “Aqui no Mar”, música cantada pelo siri/caranguejo Sebastião, são lindas. Os animais, algas, todos esses detalhes… Fiquei encantada.
No visual, o filme deixa a desejar em alguns aspectos. O primeiro ponto que me incomoda, e acho que foi um comentário geral, é que o excesso de realismo acaba por “estragar” a brincadeira. Apesar de não ter tanto problema com o Sebastião enquanto caranguejo de verdade, o pobre do Linguado é sofrível. A falta de carisma na aparência consegue ficar “menos pior” graças ao Jacob Tremblay e à dublagem brasileira.

Ainda nessa parte de design de produção, senti falta de um capricho maior na escolha de roupas e penteados, principalmente da Ariel. Se sustentaram uma personagem negra e de tranças, faltou ter mais empenho no desenvolvimento dos seus traços visuais. A roupa do clássico “Beije a Moça”, que na animação é uma das minhas roupas favoritas e com o laço no cabelo dando o toque final, aqui fica muito aquém do que pede a cena – e o filme, no geral. A faixa no cabelo da Halle com o vestido do jeito que ela usa nessa sequência me incomoda tanto que não consegui deixar de pensar se seria essa mesma escolha se ela fosse uma atriz branca, mas isso é uma conversa pra outro momento.
E fechando o tópico, faltou também uma dedicação maior na maquiagem da Úrsula. A personagem tem referências ao mundinho Drag Queen, ela é a vilã e parte do eixo principal da história, mas tá usando um carimbo verde em cada olho e o maquiador jura que tá abalando. Cadê um cílio de respeito, sabe? Um bom delineado e outra cor de sombra. Faltou vontade. Quis se provar demais e deu ruim.
Enquanto parece que tem mais coisas boas do que ruins no filme, é preciso ressaltar como a escolha da Halle pro papel foi certeira. Eu já gosto muito da atriz por conhecer seu trabalho em Grown-Ish e estava ansiosa pra vê-la como Ariel. A jovem tem uma voz que emociona, uma beleza que encanta e esbanja talento no papel da Pequena Sereia. Ela tá leve na personagem, a gente consegue sentir do outro lado da tela o quão realizada ela está e isso vale demais.
Fica também os louros para a atuação de Melissa McCarthy. Enquanto muitos podem não ter gostado da atriz como Úrsula, por não dar medo ou coisa do tipo, eu já credito a ela o mérito de ter dado mais carisma à personagem, mesmo sem transformá-la em uma criatura simpática ou amável. Ela é irônica, malvada e ainda assim te cativa.

Dentre as coisas que me encantaram, preciso dizer que a sequência em que o Eric apresenta a vila para Ariel e ela conhece pessoas, parte da cultura, a música e dança local, é uma das melhores. Ela é tão enérgica, colorida, viva e não deixei de notar um quê de africanidade nas referências, o que deixa tudo ainda mais simbólico. Tem a Úrsula disfarçada, que também é muito boa; tem o Sabidão da Awkwafina e o próprio Sebastião, que roubam a cena; e, por fim, a diversidade nas sereias que vivem as irmãs da Ariel: tem amarelas, pretas, brancas, etc.
Retomando ao rol de pontos negativos antes das considerações finais, o príncipe Eric não vai se safar. Jonah King não é um ator ruim, mas ele não consegue segurar o papel, e essa é uma opinião totalmente pessoal. O Eric foi meu primeiro crush na infância, quando eu nem sabia o que era isso, e parte do motivo é porque o personagem é gentil, sorridente, mais encantador que o Príncipe Encantado e no live-action ele só… Não consegui me conectar com o personagem interpretado por Jonah, faltou um temperinho.
Já que engatamos no Eric, fica também a menção a sua música e toda àquela cena. Me causou certo constrangimento do nível que só senti com o Kristoff cantando em Frozen II. As novidades musicais e toda a trilha sonora do filme ficou por conta de Lin-Manuel Miranda, que eu amo, inclusive. Ele é excelente no que faz e, ao meu ver, é no Eric que não brilha. Ou melhor, neste Eric.
Tem outros pontos que me incomodam, mas não o suficiente para estragar a experiência, como a atuação engessada do Javier Bardem ou mesmo as falhas no CGI – e o uso de cenas escuras, bem no estilo Game of Thrones, para tentar disfarçar. Apesar do que pode parecer, acho que o saldo final do filme é mais positivo do que negativo.
A história não termina com casamento ou subordinação. Fala sobre sonhos, sobre desejos e sobre realizá-los. E vai muito além disso, obviamente.
É impossível eu, sendo eu, avaliar esse filme somente por seus aspectos (ou falhas) técnicos. Ele poderia ser melhor? Poderia, de fato. Não só ele, como vários outros trabalhos já feitos. Contudo, o que a Disney e a Halle Bailey fazem com esse trabalho vai muito além do Cinema. É sobre o que, na verdade, deveria estar sendo falado.
Desde quando saíram os trailers, vimos a internet ser tomada por comentários racistas, mas vimos também um tsunami de vídeos de meninas pretas emocionadas por se sentirem representadas por sua princesa preferida. Não foi o meu caso, quando eu tinha lá os meus 6 anos, mas que bom que esse tipo de coisa tá sendo reparada.
Foi a Bea de 2004 que eu levei ao cinema pra assistir A Pequena Sereia e ela saiu de lá apaixonada, representada e feliz. No fim das contas, acho que é isso que vale mais.
Nota: 8/10
É impossível eu, sendo eu, avaliar esse filme somente por seus aspectos (ou falhas) técnicos. Ele poderia ser melhor? Poderia, de fato. Não só ele, como vários outros trabalhos já feitos. Contudo, o que a Disney e a Halle Bailey fazem com esse trabalho vai muito além do Cinema. É sobre o que, na verdade, deveria estar sendo falado.
Desde quando saíram os trailers, vimos a internet ser tomada por comentários racistas, mas vimos também um tsunami de vídeos de meninas pretas emocionadas por se sentirem representadas por sua princesa preferida. Não foi o meu caso, quando eu tinha lá os meus 6 anos, mas que bom que esse tipo de coisa tá sendo reparada.
Foi a Bea de 2004 que eu levei ao cinema pra assistir A Pequena Sereia e ela saiu de lá apaixonada, representada e feliz. No fim das contas, acho que é isso que vale mais.
Nota: 8/10
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