(Imagem: Divulgação/MAPPA)
Animes e mangás são mídias que têm uma grande liberdade para explorar diversas temáticas diferentes. Um bom exemplo disso são os inúmeros isekais que surgem um após o outro. É muito prático criar um universo novo, podendo ditar as próprias regras de magia, escalas de poder, modos de governos, etc. Não há limites para a criatividade dos autores. Existem obras para todos os gostos. Também por isso, os gêneros variam e se entrelaçam. É o caso de Vinland Saga.
No primeiro ano do anime, acompanhamos uma jornada de vingança do Thorfinn, determinado em punir aqueles que mataram o pai dele. E que ambiente melhor do que o da sociedade viking para presenciarmos esse caminho de violência? Afinal, no imaginário contemporâneo, era só isso que os nórdicos de tempos medievais sabiam fazer. Porém, a grande sacada desta história foi que isso não passou de um prólogo. A principal mensagem que o criador Makoto Yukimura quer passar é o da não-violência, subvertendo o que o próprio público esperaria. A segunda temporada chegou para alterar e ditar o verdadeiro tom da trama.
Foi uma decisão arriscada. A base de leitores/espectadores já foi conquistada, e então, ela se depara com o completo inverso do que conhecia. O protagonista, antes extremamente habilidoso em batalha e com sangue nos olhos, é agora apresentado como um escravo derrotado. Apático, sem motivação para viver e, acima de tudo, vazio. Um vazio de não saber o que fazer depois de finalmente ter alcançado a vingança que tanto desejava. Um vazio de não ter sido ele quem matou o Askeladd. Um vazio de perceber que mesmo que fosse, nada mudaria. E um vazio de nem saber quantos anos se passaram e foram jogados fora enquanto buscava por isso. Mas, parafraseando a fala do Sverkel nesta temporada: só alguém que está vazio pode ser preenchido com o que desejar. E essa afirmação vale tanto para o Thorfinn, quanto para a audiência, que não sabia o que encontraria nos episódios que viriam.
Para adicionar à estranheza do começo, passamos os momentos iniciais acompanhando um novo rosto, o Einar. Um jovem inglês que perdeu a família inteira para exércitos vikings e ingleses e, portanto, não tem muita afeição por nenhum dos dois povos. Ele, utilizando-se das palavras da mãe de que enquanto estiver vivo, poderá sempre recomeçar, desempenha atitudes de extrema importância em ajudar o Thorfinn a perceber que existe espaço para arrependimento e redenção. Outro personagem primordial para esta história é o rei Canute. É interessante a forma em que ele e o Thorfinn formam uma antítese. Quando um era guerreiro, o seguinte era dito como covarde. Porém, um mesmo momento impactou na vida dos dois, invertendo esses papéis. O caminho de ambos sempre tende a se encontrar e, desta vez, são as palavras que podem inspirar uma mudança de perspectiva para o sedento monarca.
As sequências de ação que marcaram o primeiro ano do anime, embora em menor escala e constância, reaparecem nesta continuação. Entretanto, elas agora servem para evidenciar os horrores da guerra. Com o ponto de vista de soldados que foram levados para a batalha sem muito poder de escolha e enfrentando inimigos bem superiores, percebemos rapidamente que não há motivo para glorificação. Isso se liga estritamente com o tema da religião, também abordada nesta segunda temporada. Se na primeira, o foco de criticismo foi no cristianismo, aqui, ele é transferido para a nórdica. A mística de precisar morrer em batalha para alcançar o paraíso, Valhala, é amplamente rechaçada ao mostrar que viver e sobreviver é mais glamouroso do que morrer por nada, mesmo que para isso seja necessário fugir.
Vinland Saga é revigorado pelo arco da fazenda. Uma etapa longa, mas necessária, no desenvolvimento do nosso protagonista. Thorfinn finalmente entendeu as palavras do falecido pai, que sempre o incentivou a ser um verdadeiro guerreiro, influenciando para melhor, através de ações, a todos que estão ao redor dele. Ele é reconhecido por isso pelos amigos, inimigos, companheiros e as pessoas que o amam. A sanguinolência anterior dá espaço às paisagens contemplativas. É uma nova fase que certamente recompensará o público, passando de uma série de ação para um drama histórico bem fundamentado. Juntos, rumo a Vinland.
Nota: 10/10
Onde assistir? Crunchyroll e Netflix
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