Elementos: uma comédia romântica (não) só para baixinhos

(Foto: Divulgação/Disney-Pixar)

Surpreendente. Essa é a palavra que consegue resumir bem meu sentimento em relação a Elementos, a animação mais recente da casadinha Disney-Pixar. Uma história que, aparentemente, não tinha força e nem apelo comercial, tem se destacado nas salas de cinema, conquistando dos mais jovens aos mais adultos.

A trama acontece na cidade Elementos, onde os habitantes que se dividem entre fogo, água, ar e terra vivem suas vidas sem se misturar. De um lado, temos Faísca (Leah Lewis), que cresce com o objetivo de se tornar uma filha e funcionária exemplar, apta a tomar conta dos negócios da família no lugar de seu pai, que está prestes a se aposentar. Do outro, o jovem Gota (Mamoudou Athie) pula de emprego em emprego depois da morte de seu pai, tentando achar seu lugar no mundo, enquanto recebe o apoio da família.

Ele, destemido e vulnerável. Ela, corajosa e insegura.

Os dois não faziam parte do mesmo mundo e, além disso, também não podiam se misturar. Mas, a narrativa do filme está aqui pra mostrar que tudo é possível em nome do amor.

A animação Coming of Age tem o apelo do drama familiar com o toque de comédia romântica, que deixa tudo mais divertido e envolvente. Quando o casal de protagonistas se encontra, aquilo que podia ser um enemies to lovers, se torna uma parceria em prol da resolução de um problema na cidade que pode afetar toda a Vila do Fogo. Contudo, em nenhum momento o desenvolvimento da relação desses dois é posta de lado.

Enquanto isso, Faísca começa a entender que talvez tenha vivido toda a sua vida às margens dos sonhos de seu pai e que talvez isso não seja o que ela verdadeiramente quer pro seu futuro. Com uma chama criativa forte, seus desejos passam por um outro caminho e encarar isso de frente é, provavelmente, o seu maior medo. Como poderia ela falhar com sua família depois de tantos sacrifícios?

Para além disso, quem olha com mais atenção para o filme descobre críticas ainda mais profundas e abrangentes, como as divisões da sociedade e as camadas de preconceitos presentes nas construções das cidades, por exemplo. Para mim, ao longo do filme – e com a representação do elenco de atores –, fica muito claro que a comunidade de Fogo e toda sua vila equivalem aos imigrantes chineses – e asiáticos/pessoas amarelas, em geral. Mas pode ser associado a qualquer classe ou raça que seja considerada como marginalizada dentro dos grandes centros urbanos.

A história consegue fechar bem seus arcos e faz isso com o melhor da Disney-Pixar, emocionando até o último momento. Os problemas abafados vêm à tona, as famílias precisam lidar com eles e o casal de protagonistas também enfrenta seus próprios dilemas. Com direito a lágrimas como solução, terminamos todos chorando.

Vale a pena demais ir conferir Elementos no cinema, independente da sua idade. Na sessão em que fui, com mais crianças que adultos, é certo dizer que os mais tocados com a história foram os ‘grandinhos’. Eu, Nalim e várias mães presentes chorávamos com o subir dos créditos, enquanto as crianças ao redor só aceitavam que o fogo e a água encontraram um jeito de ficarem juntos.

É uma história sobre crescimento e sobre sonhos. Sobre encontrar um ponto de equilíbrio nas diferenças e se permitir encarar novos desafios. E, acima de tudo, é um filme sobre família. Sobre a importância de se poder conversar com os pais, destes apoiarem seus filhos e desse elo ser um porto seguro para se ir e vir. Afinal, é muito mais fácil voar quando se sabe que tem pra onde voltar.


Nota:
9/10
Beatriz de Alcântara
Beatriz de Alcântara

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