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(Foto: André Wanderley) |
O período era Julho de 1988. Na televisão brasileira, uma loira alta e belíssima encantava a programação infantil matutina da TV Globo. Nas rádios, a música dela estava em primeiro lugar entre as mais pedidas, permanecendo por vinte semanas nesta posição. Acho que nem precisava dizer o nome dela, porém, caso você ainda tenha dúvidas, eu estou falando da recordista feminina em vendas de álbuns do Brasil: Maria da Graça Xuxa Meneghel… ou Xuxa, para os mais íntimos (acho que o país todo, no caso).
O Xou da Xuxa foi um fenômeno da televisão brasileira, continuando no ar nas semanas da TV Globo entre 1986 e 1992. Esse programa foi um expoente na carreira da Xuxa, sendo o responsável, também, pelo seu início no mundo da música. O primeiro álbum com maior reconhecimento da artista, homônimo ao seu programa infantil, teve seu lançamento marcado para 1986, e foi um sucesso de vendas. Até 2023, o material superou a marca de 2 milhões e 700 mil cópias vendidas, algo surpreendente até para os dias atuais.
Porém, mesmo que o começo de seus passos na música já tenha sido estrondoso, nem seus produtores estavam preparados para o marco que seria o Xou da Xuxa 3, terceiro trabalho de estúdio da coleção. Lançado em 11 de Julho de 1988, o álbum vendeu mais de um milhão de cópias em apenas duas semanas, entrando para o Guinness Book como o álbum infantil mais vendido do mundo — Ao todo, é estimado que tenha superado a marca de três milhões e trezentas mil cópias. O carro chefe do material, Ilariê, é conhecido até hoje como a marca registrada da Xuxa, e é ele o responsável pelos feitos nas rádios da época que citei lá na entrada do texto.
Desde então, a artista lançou 36 álbuns de estúdio, foi apresentadora de diversos programas — tanto infantis, quanto para toda a família —, e teve até atrações fora do Brasil. Com o lançamento de Xuxa: O Documentário, que aborda a vida da Rainha dos Baixinhos e seus quarenta e quatro anos de carreira em cinco episódios — o primeiro já disponível na Globoplay —, e o aniversário de trinta e cinco anos do Xou da Xuxa 3, não poderia ter tempo melhor para revisitarmos esse marco da indústria musical brasileira.
No TRAGO SEU HIT DE VOLTA, eu ouço o álbum completo e separo as suas músicas em categorias, para que fique mais organizado e ajude na análise que faço adiante. Os nomes das categorias sempre terão relação com a artista, então, caso queiram, vocês estão convidados a escutar o material e ler a análise ao mesmo tempo. Como a intérprete deste é a maravilhosa Xuxa, dividirei a tracklist do Xou da Xuxa 3 em três categorias: XUXA HITS, PARADÃO DA XUXA e CONEXÃO XUXA — sim, são todos títulos de programas dela, artista multifacetada faz assim.
XUXA HITS
Nessa primeira categoria, temos aqueles hits da Xuxa que são conhecidos até hoje. Mesmo aqueles que não são fãs dela, ou que não têm costume de escutar músicas infantis, com certeza já devem ter ouvido tocar em alguma festinha infantil ou na televisão.
E já começamos com a primeira faixa, primeira música de trabalho e um dos maiores hits do Brasil: Ilariê. É até difícil resumir o impacto que essa música teve, tanto comercialmente quanto no imaginário popular. É um clássico das festas infantis, principalmente dos nascidos entre os anos oitenta e noventa, e é compreensível o sucesso, já que mescla uma batida animada, letra descompromissada e um refrão bem grudento. Ouvindo com atenção, a música nos transporta para uma experiência ao vivo, com as palmas e falas da Xuxa para as crianças. Depois, ela fala, também, com os adultos, o que é bem inteligente já que eles são os responsáveis pela compra dos materiais físicos que carregam seu nome. Já começa o álbum com uma energia alta, sendo uma ótima escolha para a música introdutória.
A sétima faixa, Brincar de Índio, continua a onda de hits que veio com o Xou da Xuxa 3. Esta é, talvez, a música mais polêmica da carreira da artista, já que o título parece tratar a comunidade indígena como uma brincadeira de criança. Pode não ter envelhecido bem pela temática, mas a letra parece ter uma boa intenção por trás, com uns tons de protesto contra a violência à comunidade indígena, pedindo respeito e amor para com seus integrantes. É um clássico problemático, digamos assim.
Dança da Xuxa, a oitava faixa, também fez um grande sucesso entre as crianças da época. É uma música dançante — meio óbvio, né? —, seguindo o ritmo em alta nos anos oitenta e promovendo uma interação entre Xuxa e os seus Baixinhos. Eu, como criança nascida nos anos noventa, acho essa música nostálgica pela versão Funk Anos 2000 no Xuxa Só Para Baixinhos 6: Festa. As duas são igualmente boas.
Seguimos com a décima faixa, Abecedário da Xuxa, outro clássico da carreira. Acredito que essa música fez parte da alfabetização de uma parcela da população brasileira, e é quase impossível não recordar parte da letra. Para as crianças menores, é como um exercício de português, ajudando na memorização do abecedário. Lenda ajudando na educação dos baixinhos desde 1986.
Por último nesta categoria, vamos falar de um dos maiores hinos da Xuxa?
A décima primeira faixa, Arco-Íris, é linda e consegue encantar tanto crianças quanto adultos pela melodia e composição. Se pudermos estender um pouco a interpretação, essa música consegue ensinar sobre cores e um pouco de psicologia das cores, em que cada tom é conectado a sentimentos ou elementos. Também foi música-tema do filme Super Xuxa contra o Baixo Astral, a terceira maior bilheteria brasileira em 1988, provando que a Xuxa não conhece o fracasso. É uma das minhas preferidas, com toda a certeza.
Finalizamos aqui a primeira categoria, que representa os maiores hits do álbum, mas a próxima ainda tem sucessos, hein? São sucessos consequentes do programa Xou da Xuxa, juntos em uma parada de sucesso. Então, seguimos com o…
PARADÃO DA XUXA
A segunda categoria tem as músicas do álbum que lembram o programa Xou da Xuxa de alguma forma, e que há uma probabilidade alta de ter tocado à exaustão na atração. Por não ter vivenciado essa época, parte delas não chamaram a atenção de imediato, mas isso não significa que as considero ruins — apenas não se tornaram grandes destaques.
Começando essa Parada Musical, temos Bombom, a segunda faixa do álbum. Esta é bem retrô, tem uns toques de doo-wop — bem Grease, sabe? — e a voz da Xuxa está até boa, se contarmos que ela não se considera uma cantora. Eu achei muito parecida, também, com O Calhambeque do Roberto Carlos, incluindo o final de ambas em que os artistas se despedem e ouvimos o barulho de carro ao fundo. A letra fala sobre doces, o que pode lembrar Doce Mel do primeiro álbum Xou da Xuxa, e tem referências aos personagens encontrados no programa homônimo, como o Praga e as Paquitas.
Bom, se o anterior tinha o Praga como um dos personagens na letra, a terceira faixa é dedicada inteirinha para ele. Com o título O Praga É Uma Praga, essa música é um country pop infantil e destaca uma conversa entre Xuxa e as crianças sobre este personagem, que é querido por ninguém. É uma barganha para quem “leva” ele no final, e, no fim, fica para a Xuxa mesmo. Achei algumas frases bem fortes, como “Ninguém quer essa coisa” e “Dá um close nele, ele é feio que dá dó”, mas devia ser comum no Xou da Xuxa esse tratamento com o personagem, que tinha o papel de incomodar a apresentadora.
A quarta faixa, Xuxerife, continua no country, e a letra conta uma estória da Xuxa interpretando uma xerife derrotando vários vilões, como o Kid Papão — uma clara referência a Billy The Kid, um pistoleiro norte-americano —, Mete Chinelo e Tomi Cinto. Mesmo sendo curtinha, achei bem chatinha e não ouviria novamente. A quinta faixa do álbum, Beijinhos Estalados, tem uma sonoridade que lembra bastante as músicas do fim dos anos oitenta, e que faziam sucesso no Reino Unido, principalmente aqueles derivados da gravadora PWL. Também lembra Dress You Up e Physical Attraction da Madonna. É um pop chiclete, tem uma letra fofa, falando sobre o carinho de Xuxa aos seus baixinhos, e chamando para as crianças viverem a experiência de comparecer à gravação de um programa Xou da Xuxa. Eu realmente gostei dessa, talvez por recordar os primeiros trabalhos da Kylie Minogue (oops, será um spoiler do que vem por aí no Trago Seu Hit de Volta?).
Por último nesta categoria, temos a faixa doze, Apolo, que fala sobre um… Cavalo. Sim, meio aleatório, mas a Xuxa canta sobre um passeio montando um cavalo, chamado Apolo, e é isso. Provavelmente, a inclusão dessa música no material foi estratégica, já que esse personagem apareceu em algumas edições da história em quadrinhos estreladas pela Xuxa — vocês sabiam que ela tinha história em quadrinhos? — a partir de 1988. Acho que é a que menos gostei de todo o álbum.
Mas, se essa categoria já tem algumas músicas meio “diferentes”, as próximas podem surpreender um pouco mais. Após as nossas inclusões no PARADÃO DA XUXA, identificamos algumas que não se encaixam na zona de conforto encontrada nas letras descritas anteriormente. E, dessa interpretação, criamos um laço, um vínculo, uma…
CONEXÃO XUXA
A terceira e última categoria contém as músicas com letras que fogem um pouco das temáticas mais infantis do material, podendo partir para questões sociais, incluir o público adulto no contexto da letra e/ou falar de tópicos que envolvem a vida pessoal de Xuxa. É importante destacar que essas músicas continuam evidenciando cenários ou enredos infantis, já que esta faixa etária não deixa de ser o público-alvo do álbum como um todo.
Começamos esta categoria com a minha música preferida, Coração Criança. A sexta faixa é bem lúdica, fala sobre a imaginação das crianças e a construção de objetos e caminhos, lembrando Aquarela do Toquinho. É simples, gostosa, tem um quê de música infantil da época — Algo meio Balão Mágico — e os “Nananana” que embalam o término chegou a me emocionar. Sei lá, acho que sou um bebê chorão às vezes, então não me surpreende. Achei nostálgico e apelativo, de forma positiva, para os adultos.
A seguir, temos a nona faixa, intitulada Eu Não. É a música mais curta do álbum, tem uma letra que incentiva as crianças a obedecer os pais e agir de forma correta. Pelo tom de disciplina, achei legal. Mas, rapidamente ficou enjoativa e eu quis trocar.
Por último, nós temos a décima terceira (e última) faixa, Viver. Esta tem um teor social, fala sobre natureza, vida, paz e preservação. Achei bem a pegada de Planeta Água, de Guilherme Arantes. Acredito que, por se distanciar das demais e trazer uma temática envolvendo responsabilidade social, eu gostei dessa finalização. Traz a realidade e motiva as crianças a saber mais sobre o planeta em que vivemos.
CONCLUSÃO
Certa vez, um colega me disse que músicas infantis nunca levavam o crédito que mereciam. Ele acredita que são músicas difíceis de compor, já que precisam encontrar um balanço perfeito entre linguagem infantil, temáticas universais e um certo apelo ao público adulto, principalmente usando a nostalgia. Ao término dessa experiência, eu concordo com essa visão, e o Xou da Xuxa 3 exprime bastante isso. Os produtores do álbum já disseram em entrevistas que a intenção do material era criar um trabalho infantil, mas não “imbecil” (termo usado por Max Pierre em entrevista ao Na Telinha em 2018). Vemos temáticas que envolvem desde o programa Xou da Xuxa até conteúdos didáticos e questões sociais. E, mesmo com o risco de não parecer coeso o suficiente, a produção não deixa a desejar e consegue criar uma narrativa interessante ao longo dos cinquenta minutos de duração.
Algumas são meio fillers, estando ali apenas para preencher espaço e não agregam nada de significativo enquanto ouvimos? Acredito que sim. Porém, é fácil perceber que a intenção não foi criar um álbum conceitual, e sim um material que agradasse as crianças e promovesse ainda mais os futuros trabalhos de Xuxa. E, nisso, eles acertaram em cheio. As músicas são animadas, as letras são legais, poucas envelheceram mal e, até hoje, várias são lembradas e cantadas por seus fãs.
Quem ainda tem dúvidas, é só assistir ao show dela no Navio da Xuxa, disponível no Globoplay, gravado neste ano — 2023 — e é maravilhoso. Aliás, é importante lembrar que o primeiro episódio do documentário da Rainha dos Baixinhos, Xuxa: O Documentário, saiu na última quinta-feira, 13 de Julho, e está presente no mesmo serviço de streaming. Vamos lá conhecer a história de uma das maiores artistas do nosso país?
E, para finalizar, apenas quero dizer uma coisa: Ilari-lari-ê…
(Eu sei que vocês falaram o Oh Oh Oh).
Nota: 7/10
Ano: 1988
Selo: Som Livre
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