De um Castelo no Céu a luzes brilhando na escuridão mais absoluta: o legado de Nizo Yamamoto

 (Foto: Reprodução/Arquivo pessoal)


Há mais de uma década, Nizo Yamamoto me encantou para o resto da vida quando vi, pela primeira vez, uma paisagem desenhada por ele em Princesa Mononoke, um dos filmes de animação mais populares do Studio Ghibli, dirigido por Hayao Miyazaki e lançado no Brasil em dezembro de 1999. Por isso, sendo a pessoa ruim com despedidas que sou, resolvi prestar minha homenagem ao diretor de animação, que partiu no último dia 19, agradecendo pela magia delicada que ele ilustrou em vida — de um Castelo no Céu a luzes brilhando na escuridão mais absoluta.

Se você é fã de animações japonesas, já deve ter visto alguns dos trabalhos de Yamamoto por aí. Ele começou como diretor artístico em 1978, com a série Conan - o Rapaz do Futuro, um anime de 26 episódios que também carrega o nome de Miyazaki (diretor) e Isao Takahata (produção), dois dos quatro cofundadores do Ghibli que, ao criarem o estúdio em 1985, convidaram Yamamoto para mais trabalhos juntos.

Assim, Nizo Yamamoto dirigiu a arte de diversos filmes do Ghibli, como O Castelo no Céu (1986), Túmulo dos Vagalumes (1988) e A Viagem de Chihiro (2001), antes de se dedicar ao seu próprio estúdio, o Kaieisha. Outros trabalhos do artista envolvem A Garota que Conquistou o Tempo (2006), de Mamoru Hosoda, coproduzido pela Madhouse, e O Tempo Com Você (2019), de Makoto Shinkai, coproduzido pela CoMix Wave Films. Em 2007, ele chegou a dirigir a adaptação de Miyori e a Floresta Mágica, mangá de 2004, escrito e ilustrado por Hideji Oda.

Pelas mãos de Yamamoto, os cenários se tornavam personagens, cada um com uma história própria para contar — as ruas ensolaradas que denunciam o verão em A Garota que Conquistou o Tempo, as florestas que podem nos levar para outros mundos, mostradas em Princesa Mononoke, e a fumaça da guerra e umidade no ar, que mantém os corações apertados em Túmulo dos Vagalumes — esse último, arrisco dizer, um dos trabalhos mais sensíveis e poderosos que Nizo ilustrou.

Hoje, quando eu olho para uma pintura de Yamamoto, sinto que estou encarando uma memória minha. E acho que é isso mesmo que ele fazia com um pincel na mão e tintas à disposição — retratava as próprias experiências, o que via, o que sentia, o que aprendia, e dividia com o mundo, para que todo mundo pudesse ver, sentir e aprender também. A experiência acaba se tornando pessoal, como costuma acontecer quando a gente sente uma obra de arte.

Em homenagem a ele, o Museu de Arte de Nizo Yamamoto foi fundado em Goto, sua cidade natal, registrada pelo artista em incontáveis pinturas. Hanno, uma cidade na província de Saitama, também foi o cenário de muitas das ilustrações de Nizo (e de diversas crianças que participaram de oficinas ministradas por ele, em “passeios com esboço” promovidos pelo Kaieisha).

Agora, o acervo de paisagens para as quais Nizo concedeu histórias vai contar a história dele. E eu, cheia de saudade, mas, alegremente, vou olhar para cada ilustração com o mesmo encanto que senti da primeira vez — como se eu pudesse sentir o cheiro e ouvir os sons de uma pintura (estática, mas não realmente).

Por Nalim Tavares
Redação do Clubinho
Redação do Clubinho

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