The Bear e a generosidade de abrir caminhos


(Foto: Reprodução/Hulu)

Sei que vai soar piegas o que eu vou dizer, mas tenho notado que a maturidade mudou algumas das minhas percepções sobre a vida e, principalmente, sobre viver. Eu noto que, em alguma fase ali pelo começo da adolescência, eu defendia muito mais a ideia de que precisava viver determinadas experiências ainda que fosse sozinha, ainda que não compartilhasse com mais ninguém.

Hoje prezo muito mais pelas companhias e, mais do que isso, por ser viés impulsionador de alguém. Ok, eu ainda faço muita coisa sozinha – porque não vou deixar de viver algo pela falta de companhia, não é esse o ponto. O que eu quero dizer aqui é que agora eu faço questão de (ao menos tentar) incluir as pessoas.

E por que eu tô falando tudo isso? Porque eu acabei as duas temporadas de The Bear recentemente e, desde então, ela tá reverberando em mim. Se você não sabe do que se trata, calma que eu te explico: essa é uma série da FX/Hulu, que chegou no Brasil pelo Star+, e acompanha a mudança de vida de um chef de cozinha renomado, depois que ele herda a lanchonete do irmão.

Em linhas gerais, é isso. Mas, na verdade, é muito (muito, muito, muito) mais do que isso!

A segunda temporada, em especial, serve como um exemplo bem didático do que eu comecei dizendo – ou querendo dizer – nessa resenha. Carmy, o nome do protagonista interpretado por Jeremy Allen White, não tem todo traquejo social que se espera de alguém com a carreira que ele tem, mas é inegável que ele é um bom líder. Ele sabe impulsionar as pessoas.

E, mais do que incentivar, ele abre os caminhos que são possíveis de abrir. Ele oferece oportunidade, ele chega junto, ele indica, ele levanta a bola pro outro sacar. Ele sabe que é bom e quer mais pessoas iguais ou até melhores do que ele. Ele ver o potencial, ele enxerga o outro. E eu acho que isso é o que eu mais gosto do personagem.

Ele chegou em uma “família” que já tinha um sistema de funcionamento, suas características, pensamentos e até mesmo preconceitos com o próprio trabalho do Carmy. Ele reformulou, conquistou, ensinou, transformou essas pessoas em suas melhores versões com atenção, carinho, cuidado e, às vezes, umas brigas, porque faz parte.

Hoje, com a maturidade de quem já está mais perto dos 30 do que dos 20 (nossa, que papo de velho), eu percebo que quero ser mais parecida com o Carmy – nesse sentido, vale ressaltar (se bem que a ansiedade… Enfim, rs). Quero ir pro topo e conquistar as coisas? Sim, mas sozinha não tem a mesma graça do que levar os meus comigo. Como dizia a minha banda favorita: alegria compartilhada é alegria redobrada.

The Bear não é a série mais confortável do mundo, mas o desconforto que ela causa é o que mais nos arrebata. Um coração quentinho, uma claustrofobia e uma dose cavalar de empatia. É o puro suco das melhores coisas que temos na televisão atualmente, e ainda bem.

Um destaque especial para o melhor episódio da série, com participações mais do que especiais (e aí você entende porque eu mencionei a tal da claustrofobia ali). E, é claro, pro meu episódio favorito que tem tudo que mais amo em boas produções: um roteiro bem escrito, evolução de personagens, apelo emotivo e uma trilha sonora impecável.

Se Succession foi boa (e como foi!), The Bear consegue dar um passo mais além por trazer um roteiro mais próximo da nossa realidade do que o drama de pobres meninos ricos dos irmãos Roy. Não são tramas iguais, e nem pretendem ser, mas valem igualmente a sua chance. Juro que não vai ser perda de tempo.

Faça isso por você, chef.


Onde assistir? Star Plus (e Succession na HBO Max)

Nota: 10/10

Beatriz de Alcântara
Beatriz de Alcântara

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